Bernardo Guimarães (1825-1884) foi um romancista e poeta brasileiro do romantismo. Seu livro “A escrava Isaura” foi um marco no século XIX.
Bernardo Guimarães (1825-1884) foi um romancista e poeta brasileiro do romantismo. Ele nasceu em Minas Gerais, cujas paisagens marcaram sua infância e sua escrita. Ingressou na Faculdade de Direito com 22 anos e conheceu os também autores Álvares de Azevedo e Aureliano Lessa, com quem formou a Sociedade Epicureia, um grupo literário que se inspirava no epicurismo e no poeta Lord Byron.
Após a formatura, publicou seu primeiro livro em 1852. Casou-se com Teresa Maria Gomes de Lima, com quem teve oito filhos, mas uma filha morreu com 17 anos. Seguiu publicando diversas prosas e poesias, e sua obra mais famosa é A escrava Isaura, de 1875. Faleceu em 1884.
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Resumo sobre Bernardo Guimarães
- Bernardo Joaquim da Silva Guimarães nasceu em 1825.
- Grande parte de sua vida concentrou-se em Minas Gerais.
- Formou-se em Direito em 1852 e publicou seu primeiro livro.
- Na faculdade, fundou o grupo literário chamado Sociedade Epicureia, inspirado no escritor inglês Lord Byron.
- Além de escritor, foi juiz e professor.
- Casou-se com Teresa Maria Gomes de Lima e tiveram oito filhos, mas uma filha morreu com 17 anos.
- Publicou sua obra mais conhecida, A escrava Isaura, em 1875.
- Foi homenageado por Dom Pedro II, quando este visitava Minas Gerais.
- Faleceu em 1884.
Biografia de Bernardo Guimarães
Bernardo Joaquim da Silva Guimarães foi um escritor do século XIX, nascido em 15 de agosto de 1825, em Ouro Preto, Minas Gerais. Sua infância foi marcada pelas paisagens de Uberaba e Campo Belo, que apareceriam em seus escritos, além da influência de seu pai, que escrevia para periódicos e alguns versos com inspiração árcade. Participou das Revoltas Liberais de 1842, mas, de acordo com seu biógrafo, Basílio de Magalhães, não do lado dos rebeldes.
Com 22 anos, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, onde conheceu os poetas Álvares de Azevedo e Aureliano Lessa. O trio de escritores criou uma grande amizade e fundou a famosa Sociedade Epicureia. Com as influências do epicurismo, que promove a busca pelo maior prazer possível, e do exótico poeta Lord Byron, símbolo do romantismo inglês, acredita-se que tal grupo tenha sido um tanto excêntrico.
Formou-se em Direito em 1852 e publicou seu primeiro livro de poesia, Cantos da solidão, nesse mesmo ano. Além disso, exerceu o cargo de juiz municipal e de órfãos em Goiás de 1852-1854 e de 1861-1864. Além disso, escreveu para periódicos e fez crítica literária no Rio de Janeiro.
Em 1865, publicou o volume Poesias, que contém “Cantos da solidão”, “Inspirações da tarde”, “Poesias diversas”, “Evocações” e “A baía de Botafogo”. Após idas e vindas entre Rio de Janeiro e Goiás, voltou a Ouro Preto em 1866, onde começou a dar aulas, e casou-se, um ano depois, com Teresa Maria Gomes de Lima. O casal teve oito filhos, sendo que uma filha faleceu aos 17 anos.
Com a perda do cargo de professor, o período entre 1869 e 1872 foi altamente produtivo. Retornou no ano seguinte pela nomeação para ensinar latim e francês em Minas Gerais, mas a posição também não durou. Foi em 1875 que viria sua obra-prima, A escrava Isaura, livro conhecido até hoje pela posição abolicionista. Escreveu outros quatro romances e duas coletâneas de versos, além de ser homenageado por Dom Pedro II em sua visita ao estado. Ele continuou a escrever livros de prosa e, principalmente, de poesia até seus últimos anos. Morreu em 10 de março de 1884.
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Bernardo Guimarães na Academia Brasileira de Letras
O escritor foi escolhido como patrono da cadeira nº 5 da Academia Brasileira de Letras (ABL) por Raimundo Correia (1859-1911), autor conhecido por sua poesia. A ABL teve sua sessão inaugural em 1897, inspirada nas academias literárias francesas, e teve como seu primeiro presidente Machado de Assis (1839-1908), considerado por muitos o autor brasileiro mais famoso da história. A cadeira pertenceria a outras personalidades, como Rachel de Queiroz e Osvaldo Cruz.
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Características da obra de Bernardo Guimarães
Tendo participado da escola literária do romantismo, o autor adquiriu muitas das suas características. Os principais elementos de sua escrita, portanto, são:
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- amor como temática central;
- sentimentalismo;
- nacionalismo;
- idealização;
- hipérboles;
- retomada de elementos da história brasileira (como a escravidão);
- dualidades (como entre campo e cidade);
- foco em paisagens e costumes brasileiros;
- representação da sociedade patriarcal.
Principais obras de Bernardo Guimarães
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- Cantos da solidão, 1852
- Inspirações da tarde, 1858
- A voz do pajé, 1860
- Poesias, 1865
- O ermitão de Muquém, 1869
- Lendas e romances, 1871
- O garimpeiro, 1872
- Histórias da província de Minas Gerais, 1872
- O seminarista, 1872
- O índio Afonso, 1872
- A morte de Gonçalves Dias, 1873
- A escrava Isaura, 1875
- Novas poesias, 1876
- Maurício ou os paulistas em São João Del-Rei, 1877
- A ilha maldita, 1879
- O pão de ouro, 1879
- Rosaura, a enjeitada, 1883
- Folhas de outono, 1883
- O bandido do Rio das Mortes, 1904
Resumo de A Escrava Isaura
A escrava Isaura é um romance lançado em 1875 e é a obra mais conhecida do autor. Isaura, uma escravizada branca considerada muito bonita, é filha de Miguel, um homem branco, e de Juliana, uma escrava do Comendador de Almeida. Mesmo estando na mesma posição da mãe, foi criada “como filha” da família que a possui, e isso permitiu com que tivesse uma educação privilegiada. Ela é uma idealização de mulher, branca, virgem, linda e contida.
Na adolescência, ela passa a ser desejada e cortejada por Belchior, o jardineiro dos Almeida, e Leôncio, filho do Comendador, que assumiu as posses após a morte dos pais. Enquanto não possui afinidade com o jardineiro, rejeita ainda mais Leôncio, que é casado e deseja satisfazer seus desejos sexuais com Isaura. Obcecado, ele se recusa a alforriar a escravizada, e ela foge para o Recife.
Por um tempo, Isaura vive uma nova fase de liberdade onde ninguém a conhece e ela é protegida pelo falso nome de Elvira. Lá, conhece Álvaro, e ambos se apaixonam rapidamente. Quando o jovem resolve apresentá-la para a sociedade, Martinho, que estava interessado na recompensa em devolver a escravizada, quer entregá-la. Álvaro tenta impedir, mas Leôncio vai até onde ela está para buscá-la.
Novamente na propriedade dos Almeida, Leôncio continua desejoso, mas a recusa constante faz com que ele a manipule: só dará sua liberdade se ela se casar com o jardineiro Belchior. Convencida pelo pai e por uma carta falsa que indicava o casamento de Álvaro, Isaura aceita, mas logo antes do matrimônio, o jovem chega com documentos que o fazem proprietário de todos os bens de Leôncio. Este, desolado, se mata.
Esse livro é um marco nos romances sobre a escravidão e mostra a sociedade patriarcal da época. Os próprios nomes dos personagens refletem suas personalidades, como a selvageria do leão Leôncio e a branquitude bondosa de Álvaro. A narrativa de A escrava Isaura engloba diversas características da escrita de Guimarães, como a idealização da escravizada; o nacionalismo na escolha dos locais; as dualidades campo versus cidade e bom versus mau; o retrato do patriarcalismo; e o amor como temática central.
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Poemas de Bernardo Guimarães
Bernardo Guimarães teve uma significativa produção de poesias, principalmente pelas influências de sua juventude, como o amigo Álvares de Azevedo (1831-1852). A Sociedade Epicureia foi apenas o início de uma criação que aumentaria até a década de 1860, quando passou a focar na prosa.
Um detalhe curioso é que Guimarães produziu diversos poemas eróticos, provavelmente influenciado por Lord Byron, poeta inglês símbolo do romantismo que ficou conhecido pela excentricidade. Sua obra poética foi reunida no livro Poesias completas de Bernardo Guimarães (1959).
O poema “Primeiro sonho de amor”, de seu primeiro livro, retrata o sofrimento de uma moça que, saindo da infância, entra em contato com as primeiras dores do amor. Estão presentes nele o sentimentalismo, a temática do amor, a idealização e as hipérboles:
“Que tens, donzela, que tão triste pousas
Na branca mão a fronte pensativa,
E sobre os olhos dos compridos cílios
O negro véu desdobras?
Que sonho merencório hoje flutua
Sobre essa alma serena, que espelhava
A imagem da inocência?
Ainda há pouco eu via-te na vida,
Qual entre flores douda borboleta,
Brincar, sorrir, cantar...
E nos travessos olhos de azeviche,
De vivos raios sempre iluminados,
Sorrir doce alegria!
Branco lírio de amor aberto apenas,
Em cujo puro seio brilha ainda
A lágrima da aurora,
Acaso sentes já nos tenros pétalos
O nímio ardor do sol crestar-te o viço,
Vergar-te o frágil colo?
[...]”
Já “Elegia”, do livro Novas poesias (1876), mostra o tema da morte, muito presente no romantismo. Ela foi dedicada a seu amigo e sobrinho Dr. Gabriel Caetano Guimarães Alvim, que havia perdido sua esposa. Nesse poema, o autor explora a saudade e o luto que a morte traz:
“Hoje, que já do lucto se escoárão
As horas mais infaustas,
E da saudade o pranto vae secando
Nas palpebras exhaustas,
Agora, que talvez do céo benigno
Baixou-te ao coração
Essa, que é do infeliz refúgio extremo
Triste resignação
Minha musa trajando entre suspiros
O crepe dos pezares
Ousa transpor o limiar tristonho
De teus luctuosos lares,
[...]”
Curiosidades sobre Bernardo Guimarães
- Foi magistrado, jornalista, professor, romancista e poeta.
- Foi homenageado pelo imperador Dom Pedro II quando este visitou o estado de Minas Gerais.
- Participou da Revolução Liberal de 1942.
- Uma de suas filhas, Constança, faleceu aos 17 anos e ficou imortalizada na literatura pelo poeta Alphonsus de Guimaraens, seu noivo e primo de Bernardo.
- Seu maior romance, A escrava Isaura, teve diversas adaptações, como para TV e para o teatro.
- Basílio de Magalhães, seu biógrafo, sugere que ele perdeu dois cargos de professor por “ineficácia e pouca assiduidade”.|1|
Nota
|1| In: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Bernardo Guimarães. Disponível aqui.
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