A ambiguidade é um desvio de construção sintática que confere, de maneira inesperada, multiplicidade de interpretações para uma frase ou texto.
Você conhece esta frase?
“Deixo os meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres.”
Certamente você deve ter achado que é uma construção no mínimo confusa, não é mesmo? A frase que você leu, apresentada sem qualquer tipo de pontuação, é um clássico exemplo de ambiguidade. No caso em questão, a multiplicidade de interpretações – fator que dificulta o entendimento da mensagem – ocorreu em virtude da ausência de vírgulas, pontos finais e outros sinais de pontuação que eliminariam o efeito de duplicidade de sentidos.
Mas o que é ambiguidade? Damos o nome de ambiguidade ao efeito inesperado que provoca duplicidade de sentidos em uma frase. Essa duplicidade de sentidos acontece em razão de um descuido no momento de formulação do período ou até mesmo por desconhecimento das regras que regem a escrita de textos, sobretudo daqueles que não admitem uma linguagem figurativa e plurissignificativa, como textos informativos e textos técnicos.
A ambiguidade é classificada como um vício de linguagem, ou seja, está no grupo das palavras ou construções que desrespeitam as normas gramaticais. Diferentemente do que acontece com as figuras de linguagem encontradas nos textos literários, a ambiguidade não é considerada um recurso de expressividade, ferramenta que confere beleza a uma mensagem, e sim um efeito desagradável que deve ser evitado.
A frase utilizada como exemplo de ambiguidade no início do texto pode ser pontuada de várias maneiras, e em todas as possibilidades os sentidos alteram-se. Para quem escreve, esse é o tipo de situação que deve ser evitado, mesmo porque, quando escrevemos, um de nossos principais intuitos é sermos compreendidos. A ambiguidade resulta na má interpretação da mensagem, rompendo assim com um dos principais fundamentos de um bom texto: a inteligibilidade. Se um texto não apresenta construções sintáticas que permitam sua compreensão, certamente ele será julgado incoerente.
Observe agora outros exemplos de ambiguidade encontrados em textos jornalísticos:
Crianças que comem doces frequentemente têm cáries.
A confusão acontece porque o adjunto adverbial frequentemente está mal posicionado na frase. Duas leituras são possíveis:
1ª. Crianças têm cáries porque comem doce com frequência
ou
2ª. A probabilidade de ocorrerem cáries aumenta em crianças que comem doces.
Fernanda pediu a Carolina para sair.
Outro exemplo que ilustra bem o efeito inesperado de ambiguidade. Afinal, qual teria sido a intenção do autor da frase? Observe duas leituras possíveis:
1ª. Fernanda pediu a Carolina para que Carolina se retirasse
ou
Fernanda pediu permissão para Carolina para se retirar.
Nem sempre a ambiguidade é considerada como um vício de linguagem, porém, nas situações em que é empregada como recurso estilístico, ela surge de maneira proposital para chamar a atenção do interlocutor para a mensagem. Se você não tem como objetivo criar uma linguagem plurissignificativa, fique atento à colocação de elementos como pronomes e adjuntos adverbiais, bem como à utilização de vocábulos ou expressões que possam comprometer a clareza de seu texto.