Álvaro de Campos é um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa. Ele é um escritor modernista e futurista, e uma de suas obras mais conhecidas é o poema Ode triunfal.
Álvaro de Campos é um famoso heterônimo criado pelo poeta português Fernando Pessoa. Nascido em Tavira, no ano de 1890, Campos é um poeta português e modernista. É adepto do futurismo e do sensacionismo. Um de seus poemas mais famosos é Tabacaria, em que o eu lírico evidencia o vazio existencial.
Leia também: Alberto Caeiro — outro famoso heterônimo de Fernando Pessoa
Resumo sobre Álvaro de Campos
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Álvaro de Campos é um dos mais conhecidos heterônimos de Fernando Pessoa.
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Esse heterônimo nasceu na cidade portuguesa de Tavira, no ano de 1890.
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Campos é um autor modernista e adepto do futurismo e do sensacionismo.
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Seus poemas mais conhecidos são Tabacaria, Opiário e Ode triunfal.
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Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Bernardo Soares são outros heterônimos famosos.
Videoaula sobre Álvaro de Campos
Biografia de Álvaro de Campos
O escritor português Fernando Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888, em Lisboa. Ele criou vários heterônimos (autores fictícios com características próprias). Um dos mais famosos é o português Álvaro de Campos. Essa personalidade criada por Pessoa tem biografia própria.
Álvaro de Campos nasceu na cidade de Tavira, no dia 15 de outubro de 1890. Mais exatamente à uma hora e trinta minutos da tarde. Anos depois, ele fez engenharia mecânica e naval na Universidade de Glasgow, na Escócia. Na idade adulta, era magro e tinha um metro e setenta e cinco centímetros de altura. Quanto à sua postura física, era um tanto curvo.
Sua pele possuía uma tonalidade entre branca e morena. Campos usava monóculo e tinha sempre o cuidado de fazer a barba todos os dias. Segundo seu criador, ele apresentava algo de judeu. Seu cabelo era liso e partido de lado. Fernando Pessoa, que faleceu em 30 de novembro de 1935, em Lisboa, não revelou a data da morte de Álvaro de Campos.
Quais as características das obras de Álvaro de Campos?
Álvaro de Campos é um escritor modernista. Suas obras apresentam elementos futuristas, como a valorização da máquina e da velocidade. O autor prefere temáticas urbanas e usa uma linguagem provocativa. É adepto do sensacionismo, já que evidencia as sensações e trabalha com a emoção.
As obras desse heterônimo apresentam um tom melancólico e a decepção diante da modernidade. Condizente com o Modernismo, a poesia de Álvaro de Campos privilegia o uso de versos livres (sem metrificação e sem rimas). Contudo, o poeta também recorre aos versos regulares (com metrificação e rimas).
Principais obras de Álvaro de Campos
A seguir, uma lista com os principais poemas de Álvaro de Campos:
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A Fernando Pessoa;
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Aniversário;
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A partida;
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A passagem das horas;
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Apostila;
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Datilografia;
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Diluente;
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Lisbon revisited;
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Ode mortal;
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Ode triunfal;
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Opiário;
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Poema de canção sobre a esperança;
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Regresso ao lar;
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Tabacaria.
Poemas de Álvaro de Campos
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Poema 1:
O primeiro poema de Álvaro de Campos que leremos não possui título, mas é uma das obras mais famosas desse heterônimo. Em versos livres, o eu lírico ironiza o amor romântico ao considerar as cartas de amor “ridículas”. Dessa forma, mostra o amor não como algo sublime, mas cotidiano e ridículo.
Porém, valoriza esse ato cotidianamente ridículo ao dizer que “as criaturas que nunca escreveram/ Cartas de amor/ É que são/ Ridículas”. Assim, esse poema mostra que todas as coisas relacionadas a cartas de amor são ridículas, como “memórias”, “palavras” e “sentimentos”:
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas). |1|
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Poema 2:
“Tabacaria” é outro poema conhecido de Álvaro de Campos, do qual leremos alguns trechos. Também em versos livres, o eu lírico afirma não ser nada e, apesar disso, ter “todos os sonhos do mundo”. Destaca, assim, a insignificância de cada um de nós e a inutilidade da existência:
Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
[...]
Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
[...]
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
[...]
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
[...]
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
[...]
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu. |2|
Heterônimos de Fernando Pessoa
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Alberto Caeiro.
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Alexander Search.
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Álvaro de Campos.
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António Mora.
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António Seabra.
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Barão de Teive.
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Bernardo Soares.
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Carlos Otto.
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Charles James Search.
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Charles Robert Anon.
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Coelho Pacheco.
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Faustino Antunes.
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Frederick Wyatt.
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Frederico Reis.
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Henry More.
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I. I. Crosse.
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Jean Seul.
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Joaquim Moura Costa.
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Maria José.
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Pantaleão.
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Pêro Botelho.
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Raphael Baldaya.
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Ricardo Reis.
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Thomas Crosse.
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Vicente Guedes.
Saiba mais detalhes sobre os heterônimos de Fernando Pessoa clicando aqui.
Notas
|1| PESSOA, Fernando. [Poema sem título.] In: PESSOA, Fernando. Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.
|2| PESSOA, Fernando. Tabacaria. In: PESSOA, Fernando. Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.
Fontes
ARQUIVO PESSOA. Álvaro de Campos: biografia. Disponível em: http://multipessoa.net/labirinto/alvaro-de-campos/1.
ARQUIVO PESSOA. Heteronímia. Disponível em: http://multipessoa.net/labirinto/heteronimia/1.
PESSOA, Fernando. [Poema sem título.] In: PESSOA, Fernando. Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.
PESSOA, Fernando. Tabacaria. In: PESSOA, Fernando. Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.
SANTOS, Valéria dos. Paisagens sem cor: visualidades e imagens na poesia de Álvaro de Campos. 2016. Dissertação (Mestrado em Letras) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016.
SILVA, Marcelo Brito da. Álvaro de Campos e a experiência da modernidade. Ininga, Teresina, v. 3, n. 2, jul./ dez. 2016.
SOUSA, Geovane Melo Emídio. Tempestade de ilusão: um diálogo poético entre Álvaro de Campos e Mário de Sá-Carneiro. Letras Escreve, Macapá, v. 10, n. 3, 2020.
SOUZA, Moises Donizete de; BORGES, Bento. Fernando Pessoa: vida, obra e heteronomia. Disponível em: http://repositorio.fucamp.com.br/jspui/handle/FUCAMP/237.