Hegemonia

A hegemonia é um conceito criado pelo pensador italiano Antonio Gramsci e que trata sobre os meios pelos quais as classes dominantes comandam as classes dominadas.

Hegemonia é um conceito estudado na história, na ciência política e nas relações internacionais.

Hegemonia é um conceito da história e da ciência política que trata dos mecanismos de controle das classes dominantes sobre as classes dominadas. Esse conceito foi desenvolvido pelo pensador italiano Antonio Gramsci, possuindo um forte viés marxista. Gramsci fala principalmente da hegemonia cultural e coercitiva.

Gramsci procura entender os meios pelos quais as classes dominantes exercem o seu domínio sobre as classes dominadas na sociedade capitalista. Ele demonstra que, além da coerção, as classes dominantes obtêm o apoio da população por formas consensuais. Existem diversos meios de controle e manipulação que convencem a população a apoiar os interesses das classes dominantes, mesmo que sejam prejudiciais à população.

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Resumo sobre hegemonia

  • A hegemonia é um conceito da ciência política que aborda os meios de controle que são exercidos pelas classes dominantes.

  • Esse conceito foi desenvolvido por Antonio Gramsci, pensador italiano de viés marxista.

  • Gramsci analisa os meios de controle das classes dominantes e como conquistam apoio voluntário da população.

  • Ele também fala que o controle se dá pela coerção, mas também de maneira voluntária.

  • As principais formas de hegemonia são a cultural e a coercitiva, mas há também a política, econômica e cultural.

O que é hegemonia?

O conceito de hegemonia trata dos meios pelos quais as classes dominantes obtêm o apoio voluntário das classes dominadas.

A hegemonia é um conceito que pode ser encontrado nas relações internacionais, mas é conhecido principalmente pelo seu significado na ciência política. Nas relações internacionais, a hegemonia se explica pelo domínio que um país consegue exercer sobre outras nações em termos culturais, ideológicos, econômicos, militares, entre outros.

Na ciência política, no entanto, o conceito de hegemonia se liga fortemente ao trabalho de Antonio Gramsci, pensador italiano que desenvolveu o conceito de hegemonia para analisar, a partir de uma posição marxista, o controle social e o domínio de classe que existe dentro da sociedade capitalista.

Nesse contexto, Gramsci procurou descrever os mecanismos e os meios pelos quais se estabelece um domínio de classe, sendo que as classes superiores, isto é, dominantes, controlam as classes vistas como subalternas. A partir desse conceito, o pensador italiano procura analisar os mecanismos políticos, culturais, econômicos e ideológicos nos quais se exerce esse controle.

A análise que ocorre no conceito de hegemonia procura entender como as classes dominadas defendem voluntariamente interesses e ideologias que são opostos aos interesses delas. Esses interesses, evidentemente, são das classes dominantes. E o conceito, então, estuda como as classes subalternas são manipuladas a defender interesses que as prejudicam, demonstrando que o poderio das classes dominantes não é apenas coercitivo.

Tipos de hegemonia

A teoria desenvolvida sobre esse conceito nos ajuda a entender os tipos de hegemonia que podem ser desenvolvidos. Entre os tipos de hegemonia, estão:

  • Hegemonia política: aquela que se manifesta pelo domínio que um grupo político exerce sobre uma sociedade. Esse domínio poder ser obtido a partir de alianças políticas estratégicas, a partir de crescimento orgânico ou pelo uso da força.

  • Hegemonia econômica: a hegemonia econômica se manifesta a partir do uso do poder econômico para moldar a sociedade de acordo com os seus interesses. Esse tipo de hegemonia é aplicado por elites econômicas locais ou globais que usam do seu dinheiro para defender os seus interesses.

  • Hegemonia cultural: domínio pelo qual a classe dominante usa da sua influência para exercer o controle dos indivíduos a partir de ideologias que são utilizadas para manipular a opinião pública e moldar como a sociedade pensa.

  • Hegemonia coercitiva: aqui as classes dominantes utilizam de instituições que detêm o poder de força para impor uma dominação forçada sobre a população. Essas instituições atuam em defesa dos interesses das classes dominantes, sendo elas o exército, a polícia e as instituições do Judiciário.

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Exemplos de hegemonia

O conceito de hegemonia desenvolvido pelo italiano Antonio Gramsci se baseia em diversos exemplos que são encontrados na sociedade e no que nos cerca. A hegemonia cultural no planeta, principalmente no Ocidente, é exercido pelos Estados Unidos. A cultura norte-americana é influente em diversas partes do mundo, moldando os nossos gostos e opiniões de diversas maneiras.

Um dos símbolos da hegemonia cultural norte-americana são os filmes produzidos em Hollywood, que estabelecem padrões de moda, de estética, incentivam o consumismo, padroniza os gostos musicais e populariza festas e alimentos que são tradicionais da cultura norte-americana. Além disso, esses filmes são fortemente utilizados como meios de propaganda política.

Esse domínio cultural também manifesta, por diversas vezes, ideologias e interesses das elites econômicas, estendendo-se também para uma hegemonia econômica. Essas elites econômicas também usam do seu dinheiro para manipular a opinião pública, a fim de ter seus interesses econômicos e políticos atendidos, sendo também uma manifestação da hegemonia econômica.

Ademais, há, com frequência, a interferência de grandes nações no cenário político de determinados países para garantir que os interesses externos sejam atendidos. Esse cenário se repetiu diversas vezes no continente americano com as intervenções do governo estadunidense para formatar a política de diferentes povos aos interesses do Hemisfério Norte.

Impactos da hegemonia

A hegemonia, enquanto mecanismo de controle sem a necessidade de coerção, causa inúmeros impactos na sociedade. Uma vez que a hegemonia é um conceito que explica o controle e a manipulação dos indivíduos, ele impacta diretamente a capacidade crítica dos indivíduos, atuando para impedir o seu desenvolvimento, mantendo a sociedade em um estado de manipulação.

Essa manipulação e essas iniciativas para manter o controle das classes subalternas são parte dos interesses das elites econômicas de manter o status quo, uma sociedade baseada na exploração e desigualdade social, uma vez que esse estado de coisas garante o enriquecimento dessas elites, enquanto a população em geral é condenada a viver em estado de pobreza.

O conceito de hegemonia para Antonio Gramsci

Antonio Gramsci, o pensador que criou o conceito de hegemonia.

O conceito de hegemonia foi desenvolvido pelo pensador italiano Antonio Gramsci, uma vez que ele formulou como a hegemonia cultural é utilizada dentro da sociedade capitalista para preservar os privilégios das classes dominantes, perpetuando o status quo que permite que essas classes vivam em tamanho privilégio.

O discurso de Gramsci defende que as classes dominantes se utilizam da coerção para submeter a população aos seus interesses, mas que as ações de controle dessa classe vão além da coerção. Existe um arcabouço ideológico que dá suporte ao controle, permitindo que a classe dominante conquiste as mentes por meio de suas ideologias.

Assim, a partir da hegemonia, as classes dominantes conquistam apoiadores dentro das classes dominadas, fazendo com que elas passem a defender os interesses das classes dominantes, sem perceber que o estão fazendo e sem perceber que com isso eles estão defendendo interesses que os prejudicam.

Com isso, o domínio das classes dominantes, além de ser coercitivo, também é consentido, pois garante que membros da classe dominada atuem defendendo um estado de coisas que é maléfico a eles. Isso ocorre porque a classe dominante detém o controle sobre os meios de produção e da cultura de massas, usando-os para manipular a opinião da população.

Assim, as classes dominadas são convencidas, sem perceber, a apoiar os interesses das classes dominantes a partir da mídia, da moral religiosa, da cultura de massa, das instituições educacionais, entre outros meios.

O conceito de hegemonia em Karl Marx

O conceito de hegemonia não está diretamente presente na obra de Marx, uma vez que se desenvolveu depois que Marx faleceu. O falecimento do pensador alemão aconteceu em 1883, portanto no século XIX, e o conceito de hegemonia foi desenvolvido por Gramsci no século XX.

Assim, é anacrônico afirmar que o conceito de hegemonia está presente na obra de Marx. Contudo, podemos afirmar que alguns elementos dessa teoria podem ser encontrados na teoria marxista, mesmo que Marx não tenha discutido diretamente sobre o conceito (porque ele ainda não existia).

Marx analisou profundamente o surgimento do capitalismo e os mecanismos de controle desse sistema, por isso muito do trabalho analítico de Marx pode ser associado com a teoria desenvolvida por Gramsci, mesmo que não seja de maneira direta.

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Relação do conceito de hegemonia com o imperialismo

O imperialismo é um conceito que define o processo de dominação econômica, cultural ou territorial que um país pode exercer sobre outros. O conceito de imperialismo se associa bastante com o neocolonialismo, o ciclo neocolonial que se estabeleceu no século XIX, marcando a expansão europeia sobre a África e Ásia.

Uma forte associação é feita entre os conceitos de hegemonia e imperialismo, pois o imperialismo foi o caminho adotado pelas potências europeias para exercer o domínio global no século XIX. O imperialismo ainda hoje é visto como um meio de exercer a hegemonia política, econômica e cultural de um país sobre outro. Para saber mais sobre o imperialismo, clique aqui.

Fontes

KOHAN, Néstor. Gramsci e Marx: hegemonia e poder na teoria marxista. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/temposhistoricos/article/download/1223/1010

OLIVEIRA JÚNIOR, Geraldo Coelho de. O conceito de hegemonia em Gramsci: possibilidades de compreensão a partir da educação. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/orgdemo/article/view/9737

ALVES, Ana Rodrigues Cavalcanti. O conceito de hegemonia: de Gramsci a Laclau e Mouffe. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ln/a/mQtGPDfjR85HxSSLtmgCzbM/?format=pdf&lang=pt

Por: Daniel Neves Silva

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