Wahhabismo

O wahhabismo está no centro do fundamentalismo e do radicalismo islâmico da atualidade, mas suas origens remontam ao século XVIII.

A Arábia Saudita é um dos países que se valem dos pressupostos da seita wahhabita

Sabemos que o núcleo do islamismo, isto é, da civilização e da religião islâmica (ou muçulmana), é árabe. Maomé, o profeta fundador do islã, nasceu na Península Arábica, que foi a primeira região a ser, de fato, islamizada. Com a morte de Maomé, em 632 d.C., desse núcleo originário ocorreu a expansão meteórica do islã, nos séculos VII e VIII, para muitas regiões do mundo, desde o Oriente Médio, a Ásia Menor e a Indochina até o Norte da África e o Sul da Europa. Surgiram também as rixas entre os grupos islamitas, que se polarizaram entre xiitas e sunitas. Desses últimos, que constituem a maioria da polução muçulmana nos dias de hoje, nasceu boa parte dos atuais estados islâmicos, entre eles, o reino da Arábia Saudita.

No seio do islã, houve algumas seitas que promoveram uma interpretação radical tanto do Corão (livro sagrado islâmico) quanto dos feitos de Maomé (relatados na chamada Suna). A mais notória e expressiva dessas seitas é o wahhabismo, à qual a Arábia Saudita está vinculada. De tal interpretação wahhabista, nasceram as bases ideológicas do radicalismo (ou fundamentalismo) islâmico, cujo subproduto é o terrorismo perpetrado por grupos como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico.

A seita wahhabita formou-se no século XVIII com Muhammad ibn Abd al-Wahhab (1703-1792), um erudito árabe muçulmano que forneceu suporte para a formação do primeiro Estado Saudita. Wahhab estava interessado em reformular alguns preceitos do islã, procurando expurgar da religião islâmica aquilo que considerava “degenerado”, “desviado” ou “herético”, como qualquer tipo de influência das culturas ocidentais sobre a cultura islâmica. Al-Wahhab rejeitava também o segmento xiita do islamismo, isto é, aqueles que se consideravam herdeiros diretos do profeta Maomé. Por pretender “purificar” o islã, dar-lhe uma estrutura mais rígida, o wahhabismo converteu-se em um conjunto de regras extremistas e intolerantes.

Com a formação da dinastia saudita no século XVIII, esse extremismo wahhabita passou a ser incorporado na Península Arábica. O fundador da dinastia saudita foi Muhammad bin Saud, que era simpático das ideias radicais de Wahhab. Os herdeiros dele passaram a se alinhar a tais perspectivas, mas não conseguiram implementá-las efetivamente em seus domínios, pois sofriam influência política por parte do Império Turco-Otomano, que controlava praticamente todo o território habitado por muçulmanos. Entretanto, os turcos perderam seu poder após a Primeira Guerra Mundial, e os vários Estados islâmicos a ele subordinados passaram a constituir-se como independentes. Nesse contexto, foi formado o Reino da Arábia Saudita a partir da expansão proporcionada por Abdul Aziz Ibn Saud, que submeteu o Reino de Hijaz, contrário ao extremismo wahhabita.

Ao longo do século XX, o wahhabismo espalhou-se pelo Golfo Pérsico e demais regiões islâmicas. O uso da Sharia, a Lei Islâmica, extremamente rígida com as mulheres e intolerante com posturas e condutas diversas, como a homossexualidade (que é punida com o flagelamento e morte por enforcamento em praça pública), é uma das características do wahhabismo. A Arábia Saudita, em seu processo de expansão e modernização, destruiu vários símbolos xiitas, como os mausoléus em que estavam os corpos dos parentes do profeta Maomé. Isso mostra a intolerância e aversão a quaisquer tipos de opiniões e segmentos distintos da seita.

O ex-líder da Al-Qaeda (morto em 2011), Osama Bin Laden, era saudita e recebia apoio do governo da Arábia Saudita. Esse apoio até hoje é dado à Al-Qaeda e a outros grupos, como o Estado Islâmico e a Al-Nursra. O que une os sauditas e outros países do Golfo Pérsico a esses grupos terroristas é o extremismo islâmico, cuja fonte principal é o wahhabismo.

Por: Cláudio Fernandes

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