Você sabe por que a Rússia invadiu a Ucrânia?

A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 após um longo período de desgaste nas relações entre os dois governos.

Prédio em Kiev, capital da Ucrânia, destruído por bombardeios russos. [1]

Você sabe por que a Rússia invadiu a Ucrânia? A invasão da Ucrânia pelas tropas russas aconteceu em fevereiro de 2022, dando início a um conflito entre essa nação e a Rússia. Historiadores, internacionalistas e outros estudiosos apontam que uma série de fatores explica o início dessa contenda. Os principais motivos envolvem os interesses geopolíticos da Rússia governada por Vladimir Putin.

Veja também: Revolução Laranja de 2004 — a revolução ucraniana cujos efeitos sensibilizaram a relação com a Rússia

Resumo sobre por que a Rússia invadiu a Ucrânia

  • Em fevereiro de 2022, foi iniciada a invasão da Ucrânia por parte do exército russo.

  • A Rússia se mostrou insatisfeita com a intenção da Ucrânia de aderir à Otan.

  • O governo russo alega se sentir ameaçado pela expansão da Otan pelo Leste Europeu.

  • As relações entre as duas nações estão bastante desgastadas desde 2014 por causa da questão da Crimeia.

  • O governo russo também é acusado de revisionismo histórico ao falsear parte da história ucraniana.

Invasão da Ucrânia

Em 24 de fevereiro de 2022, a Ucrânia foi invadida pelas tropas russas. A Ucrânia é um país do Leste Europeu e vizinho da Rússia. A invasão russa foi ordenada pelo presidente do país, Vladimir Putin, considerada mais um capítulo da tensão entre as duas nações, que se arrasta desde 2014 e que em 2022 teve novos e trágicos desdobramentos.

Essa invasão foi condenada por grande parte das nações ocidentais, e uma série de ações foram tomadas contra a Rússia, em geral sanções que prejudicam a economia russa. Esse conflito na Ucrânia trouxe à tona a ameaça de uma grande guerra no continente europeu, algo que não acontecia desde a década de 1990, com a fragmentação da Iugoslávia.

Os observadores internacionais tentam explicar por que a Rússia invadiu a Ucrânia, e os motivos relacionados giram em torno de questões geopolíticas, sobretudo:

  • dos interesses geopolíticos das duas nações;

  • dos choques de interesse entre Ucrânia e Rússia;

  • do desejo de Vladimir Putin de expandir a influência de seu país pelo Leste Europeu.

Além disso, há uma questão que envolve um forte revisionismo histórico pela Rússia para justificar suas ações na Ucrânia. Esse revisionismo trata das origens em comum que essa nação e a Ucrânia têm, em um antigo reino medieval conhecido como Reino de Rus.

→Videoaula sobre a Guerra na Ucrânia

Questão da Otan

Primeiramente, a tensão entre Rússia e Ucrânia se concentra no desejo de adesão pela Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Essa organização é uma aliança militar composta por dezenas de países que surgiu em 1949, como parte dos esforços dos Estados Unidos para garantir a sua segurança e a de seus aliados no cenário da Guerra Fria.

Com o desmembramento da União Soviética no final de 1991, os países do Leste Europeu começaram a aderir à Otan rapidamente, e muitos especialistas entenderam esse movimento como uma forma de se proteger do possível imperialismo russo. Em outras palavras, a adesão das nações do Leste Europeu à Otan foi vista como uma forma de esses países se resguardarem da influência russa.

Um dos fatores que incomodam os russos é o fato de que desde que a União Soviética deixou de existir, 14 países que faziam parte do Pacto de Varsóvia (a aliança militar das nações do bloco socialista) aderiram ou negociam sua adesão à Otan. Uma possível adesão dos ucranianos à Otan é considerada uma ameaça pelos russos há décadas, e Putin reclama dessa aproximação ucraniana com os governos ocidentais há um bom tempo.

Os russos entendem que a expansão da Otan tem progressivamente cercado o território russo, o que é visto pelo governo russo como uma forte intimidação à sua soberania e à sua segurança. O governo russo ainda alega que o governo norte-americano tem quebrado promessas de que a Otan não se expandiria pelo Leste Europeu, região entendida pelos russos como sua zona de influência.

Além disso, a questão da Crimeia é um complicador na relação dos russos com os ucranianos no que toca a Otan. Isso porque os membros da organização podem acionar uma cláusula que obriga seus outros membros a defenderem um país que estiver sendo atacado.

No contexto da Crimeia, isso poderia ser agravatório, pois essa cláusula poderia ser acionada pela Ucrânia para tentar reaver a Crimeia, território ucraniano invadido pela Rússia em 2014.

A invasão russa contra a Ucrânia aparentemente tem conseguido cumprir o propósito de manter a Ucrânia longe da Otan, pois o presidente ucraniano no contexto da invasão, Volodimir Zelensky, declarou em março de 2022 que o seu país não poderia entrar na Otan.

Saiba mais: Rússia e Ucrânia — a disputa pela Crimeia

Relações entre Rússia e Ucrânia

As relações entre Rússia e Ucrânia estão abaladas desde 2014, principalmente depois que protestos populares levaram à deposição do então presidente ucraniano Viktor Yanukovich. Essa crise se iniciou no final de 2013, quando Yanukovich, pressionado pela Rússia, decidiu encerrar negociações para aproximação da Ucrânia da União Europeia.

 A ordem para a invasão da Ucrânia foi dada pelo presidente russo, Vladimir Putin. [2]

A ação do presidente deu início a protestos, principalmente na região oeste do país, caracterizado por ser pró-Ocidente. Yanukovich acabou sendo deposto da presidência, o que não agradou o governo russo. A resposta de Putin se deu por meio da autorização para invasão da Crimeia, uma região de grande importância geopolítica e de população majoritariamente russa.

Além disso, o governo da Rússia incentivou o advento de revoltas separatistas nas regiões de Luhansk e Donetsk, ambas parte do Donbass. As revoltas separatistas nesses locais deram início a uma guerra civil na Ucrânia que matou cerca de 15 mil pessoas desde 2014. A independência dessas duas regiões não foi reconhecida internacionalmente, com exceção da Rússia, que reconheceu a independência de Luhansk e Donetsk pouco antes da invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

A questão envolvendo os rebeldes do Donbass é mais complexa do que se pode imaginar, pois o governo russo acusa o governo ucraniano de promover genocídio contra os cidadãos dessa região, que possuem origem étnica russa. A defesa dessas pessoas contra o suposto genocídio cometido pelos ucranianos foi uma das justificavas para os russos invadirem a Ucrânia no início de 2022.

Expansionismo e revisionismo russo

Os eventos de 2014 criaram um afastamento entre Ucrânia e Rússia e dividiram a Ucrânia em dois polos: um pró-Ocidente e outro pró-Rússia. O esforço do governo de Vladimir Putin sempre foi o de retomar sua influência nos assuntos internos da Ucrânia. Na prática, portanto, a Rússia deseja conquistar mais influência no governo ucraniano.

Isso não aconteceu com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, conhecido por ter uma retórica pró-Ocidente e por negociar uma aproximação com a Otan, o que deu início à guerra em 2022. No entanto, a ação russa sobre a Crimeia e a interferência sobre Luhansk e Donetsk levou muitos observadores internacionais a entenderem essas ações como manifestações de um desejo russo de expansão.

Por fim, a retórica da Rússia em relação à história ucraniana tem sido considerada, no mínimo, revisionista. Isso porque, por meio dos discursos de Vladimir Putin, a Rússia tem questionado a veracidade histórica da nacionalidade do povo ucraniano sob a justificativa de que russos e ucranianos têm uma origem em comum, o Reino de Rus.

Historiadores apontam que, apesar desse laço histórico em comum, a identidade ucraniana é distinta da russa. Embora existam semelhanças e encontros das histórias russa e ucraniana, o povo ucraniano tem sua própria trajetória histórica, seu próprio idioma, suas tradições. Ao longo dos séculos, a Ucrânia foi repetidamente dominada pelos russos, que muitas vezes procuraram suprimir a cultura ucraniana.

Créditos de imagem

[1] Drop of Light / Shutterstock

[2] Sasa Dzambic Photography / Shutterstock 

Por: Daniel Neves Silva

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