História do Carnaval

O Carnaval é uma das principais manifestações culturais do Brasil, sendo realizado em todo o território nacional, nos meses de fevereiro ou março. O Carnaval é uma data móvel, em virtude de ser realizado na terça-feira anterior à chamada quarta-feira de cinzas, que é definida de acordo com a celebração da Páscoa cristã.

A relação do Carnaval com o catolicismo serve como ponto de partida para entender a origem dessa festa popular comemorada não só no Brasil, mas em diversos países.

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Origem do Carnaval

O Carnaval é uma festa de origem pagã, que remonta à Antiguidade. Em face de uma de suas principais características, a inversão dos papéis sociais durante as comemorações – como os escravos se fantasiarem de senhores, por exemplo –, a origem do Carnaval pode ser encontrada tanto na Mesopotâmia quanto na Grécia ou em Roma.

Na Babilônia, um exemplo de inversão dos papéis pode ser encontrado nas Saceias, uma festa em que um prisioneiro assumia durante poucos dias as insígnias reais e suas vestimentas, podendo ainda dormir com as esposas do rei. Após esse período de poucos dias, o prisioneiro era castigado com chicotadas, sendo depois enforcado ou empalado.

Na Grécia, uma das origens e características do Carnaval podem ser encontradas nas festas dedicadas a Dionísio, também conhecido como Baco entre os romanos, o deus das videiras e do vinho. A inversão de papéis também era verificada, com prostitutas vestindo-se de virgens e homens de mulheres, por exemplo. A bebedeira também estava presente, servindo combustíveis para a prática dos atos de libertinagem.

Em Roma, essas características eram verificadas em festas como as Saturnálias, celebradas em dezembro, e as Lupercálias, ocorridas em fevereiro, que marcavam o período anterior ao ano-novo para os romanos, comemorado em março. O consumo de bebidas, comidas, a inversão dos papéis sociais e a libertinagem dessas festas pagãs desagradavam a moralidade e o controle social que a Igreja Católica pretendia exercer.

Com o objetivo de estruturar seu poder e garantir seu crescente domínio na sociedade que habitou o Império Romano, a Igreja buscou disciplinar tais festas e impor alguns limites. Com a criação da quaresma no século VIII, a Igreja limitou a realização das festas até essa data, comemorada 40 dias antes da Páscoa.​

Carnaval no sambódromo do Rio de Janeiro, uma das principais celebrações populares do Brasil.[1]

Como a quaresma era um período de jejum e controle dos comportamentos, as festas anteriores a ela eram marcadas pela liberdade no consumo e no comportamento. Talvez essas características expliquem uma das hipóteses para a origem do vocábulo Carnaval. Sua origem pode ser o termo latino carnis levale, que significa retirar a carne, uma referência ao jejum da quaresma.

Tela de Johannes Lingelbach (1622-1674), Carnaval em Roma, que mostra um carnaval da commedia dell'arte.

Mesmo com o controle católico, a festa continuou a ser praticada durante toda a Idade Média e à época moderna. Na Renascença até o século XVIII, um exemplo da prática do carnaval pode ser encontrado com a commedia dell'arte italiana, de onde teriam saído figuras características, como o pierrô e a colombina.

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Carnaval no Brasil

No Brasil, o Carnaval chegou possivelmente com o entrudo, uma festa anterior à quaresma praticada pelos portugueses. Entrudo significa entrada, marcando assim a entrada do período de carestia religiosa. No Brasil, ela era praticada desde o período colonial, principalmente por escravos e as camadas populares.

​O entrudo pintado por Jean-Baptiste Debret (1768-1848).

O entrudo consistia na tomada das ruas por pessoas fantasiadas, com os rostos pintados com farinha, que era jogada nas pessoas. Além disso, os chamados limões-de-cheiro, com perfumes quase sempre desagradáveis, eram jogados também nas pessoas que estavam nas ruas. A prática era considerada violenta, além de haver uma sátira com as posições sociais, o que desagradava a elite do Brasil.

Uma primeira tentativa de controlar o entrudo ocorreu na década de 1840 no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, a elite da capital do Império passava a celebrar o Carnaval em clubes fechados e pagos, nos moldes do Carnaval de Veneza.

Aos poucos, a elite conseguiu sair às ruas do Rio de Janeiro, após a repressão ao entrudo, principalmente com o desfile das chamadas sociedades. A partir daí duas práticas carnavalescas distintas ocorreram na então capital do Brasil.

De um lado, a elite, com as sociedades e depois com os corsos, desfiles em carros conversíveis pela Avenida Central. Do lado popular, surgiram os ranchos e os cordões, cortejos acompanhados de alguns instrumentos de percussão, que se assemelhavam esteticamente às procissões religiosas. Mais uma vez é possível perceber a inversão de valores da sociedade durante o Carnaval, além da disputa do espaço urbano entre a elite e as classes populares.

Gêneros musicais surgiram também no Carnaval, podendo ser citados as marchinhas e o samba. As chamadas escolas de samba surgiram na década de 1920 e fortaleceram-se ao longo das décadas, ganhando impulso financeiro e comercial em 1960 para se transformarem em uma das principais atrações turísticas do país.

No Nordeste, podemos destacar ainda o Carnaval de Salvador, cujas características remontam aos afoxés dos descendentes de escravos surgidos na virada do século XIX para o XX, e que ganhou impulso com o desenvolvimento dos trios elétricos na década de 1950.

​Trio elétrico no carnaval de Salvador, na Bahia.[2]

Em Pernambuco, o destaque do Carnaval está no frevo e no maracatu praticados nas ruas de cidades como Olinda e Recife.

O Carnaval como festa popular ainda mantém algumas características da Antiguidade, como a inversão dos papéis e a liberalização de comportamento. Porém, tornou-se um importante negócio para a sociedade capitalista brasileira.

Créditos das imagens

[1] Migel / Shutterstock
[2] Vinicius Tupinamba / Shutterstock

Por: Tales Pinto

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