Sans-culottes

Os sans-culottes eram, em sua maioria, trabalhadores urbanos, principalmente da cidade de Paris, que formaram um dos principais grupos que atuaram na Revolução Francesa.

Os sans-cullotes tiveram grande importância na Revolução Francesa.

Sans-culottes foram um dos principais grupos participantes da Revolução Francesa. Receberam esse nome as camadas populares das grandes cidades, compostas por artesãos, operários e demais trabalhadores.

Os sans-culottes tiveram grande influência política durante o período conhecido como Convenção Jacobina, entre 1792 e 1794, momento no qual diversos opositores dos jacobinos, entre eles girondinos e grupos restauradores, foram perseguidos e executados. Após a queda dos jacobinos e ascensão dos girondinos os sans-culottes passaram a ser reprimidos e a perder gradativamente seu poder de mobilização.

Leia também: Revolução Francesa — detalhes sobre a revolução que deu início à Idade Contemporânea

Resumo sobre sans-culottes

  • Os sans-culottes foram considerados o grupo mais radical da Revolução Francesa.

  • Eram assim chamados por não usarem culotes, vestimenta característica da nobreza.

  • O controle do preço dos alimentos e dos salários foram reivindicações dos sans-culottes.

  • Os sans-culottes eram trabalhadores das cidades francesas, a maior parte deles estava na cidade de Paris.

  • Durante o período do Grande Terror os sans-culottes atuaram como grupos paramilitares.

  • A ampliação da participação política foi uma das principais reivindicações dos sans-culottes, eles exigiam o voto universal masculino.

  • Durante a Reação Termidoriana os sans-culottes passaram a ser perseguidos, e sua mobilização foi gradativamente reduzida.

Quem foram os sans-culottes?

Sans-culottes foram um dos principais grupos participantes da Revolução Francesa. Os sans-culottes eram os membros das camadas mais pobres da sociedade parisiense do período revolucionário. Artesãos, aprendizes das manufaturas, mestres, padeiros, cocheiros e diversos outros profissionais faziam parte dos sans-culottes, assim como alguns membros da pequena burguesia.

Os sans-culottes não formavam um movimento social organizado, mas eram compostos por diversos grupos, embora no início da Convenção Jacobina tenham lutado ao lado dos jacobinos de forma relativamente coesa.

Em Paris os sans-culottes se organizavam em pequenos grupos com dezenas de membros, e cada grupo agia com certa autonomia e independência.

Qual o significado da palavra “sans-culottes”?

É atribuído ao coronel do exército francês Jean-Bernard de Murnan a criação do termo “sans-culotte”, utilizando pela primeira vez a palavra, de forma pejorativa, em 1791. A nobreza tradicionalmente utilizava o “culote”, uma calça apertada na parte debaixo da perna feita geralmente de seda, acessório caro e utilizado pela nobreza e parte da burguesia. Os “sans-culottes” seriam os “sem culotes”, pessoas das camadas populares que utilizavam calças largas e de tecido de algodão, chamadas pantalonas na atualidade. A partir de 1792 as camadas populares de Paris passaram a se autodenominar “sans-culottes”, utilizando o termo com orgulho em oposição à nobreza.

Quais ideias eram defendidas pelos “sans-culottes”?

Os sans-culottes foram considerados radicais pelos outros grupos que participaram da Revolução Francesa. A defesa do voto universal masculino, do fim da escravidão nas colônias francesas, o controle estatal do preço do alimento e do salário e uma democracia direta foram as principais reivindicações dos sans-culottes durante a Revolução Francesa. Através de petições à Assembleia, manifestações pacíficas e de atos violentos, os sans-culottes tiveram grande influência na Revolução Francesa, principalmente no período jacobino.

Quem era o líder dos sans-culottes?

Os sans-culottes não tinham um líder único. Alguns de seus principais porta-vozes foram:

  • François Hanriot: nasceu na periferia de Paris e era filho de pais servos de um nobre francês. Provavelmente foi soldado do general Lafayette durante a Guerra de Independência dos Estados Unidos e, depois, passou a ocupar diversos cargos públicos na França sem permanecer por muito tempo neles. Durante a revolução ele se tornou um importante orador de rua e, em 1792, se tornou comandante da Guarda Nacional do batalhão de sua seção. No ano seguinte, tornou-se comandante geral da Guarda Nacional de Paris. Durante o Terror Jacobino, Hanriot foi importante na repressão aos grupos que defendiam a monarquia e dos girondinos. Em 1794, com a reação termidoriana, Hanriot foi preso, acusado de crimes contra o povo francês e executado, assim como Robespierre.

  • Jacques Roux: ele era padre e professor e, durante a Revolução Francesa, se tornou uma das principais lideranças sans-culottes. Por suas ideias radicais foi considerado um dos primeiros socialistas da história e, por isso, é muitas vezes chamado de “O padre vermelho”. Foi grande crítico dos privilégios da nobreza e da riqueza acumulada por parte da burguesia. Em 1793 foi acusado de ser contrarrevolucionário e foi preso por ordem da Convenção Jacobina e acabou suicidando-se na prisão.

  • Jacques Hebert: político e redator de um dos principais jornais revolucionários da França. Em 1793 foi preso a mando de líderes girondinos, mas foi solto após grande manifestação contrária dos sans-culottes. Foi um dos principais defensores da descristianização da França e passou a atacar a Convenção Jacobina e Robespierre. Em março de 1794 foi guilhotinado a mando de Robespierre.

Atuação dos sans-culottes na Revolução Francesa

A Queda de Bastilha foi um importante acontecimento da Revolução Francesa que teve relação com os sans-culottes.

Os sans-culottes foram importantes no início do processo revolucionário, compondo parte da massa que tomou as ruas de Paris, a Bastilha e o Palácio de Versalhes. Também foram importantes politicamente para a ascensão dos jacobinos ao poder e consequentemente de Robespierre.

Em 10 de agosto de 1792 os sans-cullotes foram um dos principais grupos na tomada das Tulherias, palácio onde o rei Luís XVI e sua esposa, Maria Antonieta, estavam. As tropas revolucionárias atacaram o palácio com tiros de mosquete e de canhão e a Guarda Suíça, tropa mercenária que defendia o palácio, revidou. No início do ataque o rei e a rainha fugiram do palácio e foram para o prédio da Assembleia Nacional. A batalha continuou até que um bilhete foi enviado pelo rei às tropas suíças, para que estas cessassem a batalha e voltassem para seus quartéis. Para a maior parte dos historiadores a “Jornada de 10 de agosto” marca o fim da monarquia francesa que ocorrerá oficialmente seis semanas depois.

O ataque ao Palácio das Tulherias mostrou a importância e o poder dos sans-culottes para os franceses, e o grupo passou a exercer pressão política sobre a Convenção Jacobina, exigindo a proclamação de uma república, a ampliação da participação política, leis que limitassem o acúmulo de riquezas, reforma agrária e abolição da escravidão. Muitos jacobinos foram acusados de serem moderados demais pelos sans-culottes e, muitas vezes, de serem traidores da revolução.

Durante o Terror Jacobino as seções de sans-culottes foram utilizadas como forças paramilitares no cumprimento das ordens da Convenção e na perseguição e eliminação dos opositores. Diversos sans-culottes foram nomeados para cargos importantes no governo jacobino, principalmente na Guarda Nacional.

Os muscadins, que na imagem estão segurando seus porretes conhecidos como “constituição”, passaram a perseguir jacobinos e sans-culottes.

Após a reação termidoriana, em que os girondinos passaram a liderar o processo revolucionário, os sans-culottes passaram a ser perseguidos. Grupos de jovens abastados, que geralmente usavam culotes, passaram a perseguir jacobinos e sans-culottes. Esses grupos paramilitares girondinos ficaram conhecidos como “muscadins”, termo que significava algo como “aquele que usa perfume de almíscar”.

O porrete chamado “constituição” se tornou um símbolo dos muscadins, assim como um lenço branco, associado à monarquia. A violência praticada por eles deu origem ao Terror Branco, o período de terror girondino.

Acesse também: Absolutismo — sistema político caracterizado pela concentração do poder no monarca

Sans-culottes x jacobinos x girondinos

  • Sans-culottes: foram considerados o grupo mais radical da Revolução Francesa; eram compostos por membros das camadas pobres de Paris, como desempregados, artesãos, empregados das manufaturas, operários, entre outros. Os sans-culottes defendiam o fim da monarquia e a proclamação da república, universalidade do voto masculino, leis que limitassem o preço dos alimentos, reforma agrária e abolição da escravidão nas colônias. Tiveram grande poder político durante a Convenção Jacobina. Com o golpe de 9 Termidor passaram a ser perseguidos pelo governo jacobino e por grupos paramilitares.

  • Jacobinos: eram o grupo que se sentava à esquerda da mesa diretora da Assembleia Nacional. A maior parte dos jacobinos eram membros da média e baixa burguesia, pequenos comerciantes, profissionais liberais, intelectuais, donos de pequenas manufaturas e funcionários públicos. Os jacobinos defendiam maior participação política dos homens das classes baixas, a abolição da escravidão nas colônias francesas e eram contrários à monarquia.

  • Girondinos: grupo que se sentava à direita da mesa diretora. Eles eram, na sua maioria, membros da alta burguesia, composta por grandes comerciantes, proprietários de grandes manufaturas e banqueiros. Os girondinos eram defensores de uma monarquia constitucional e eram contra a realização de mudanças sociais e econômicas, como a reforma agrária, o fim da escravidão e a ampliação da participação política.

Exercícios resolvidos sobre sans-culottes

Questão 1

(UFJF) Em julho de 1789, houve a explosão de movimentos populares em Paris. Artesãos, operários e desempregados se envolveram fortemente com o processo revolucionário, que ocasionou a tomada da Bastilha, momento simbólico da Revolução Francesa. Os grupos populares que protagonizaram a revolução passaram a ser conhecidos como sans-culottes. Em relação aos sans-culottes, assinale a resposta que CORRESPONDA às suas reivindicações e atitudes.

A) Desejavam tomar o poder do rei de forma moderada, mediante as decisões do Primeiro Estado.

B) Defendiam o aprofundamento das reformas políticas e a tomada de poder por parte da aristocracia.

C) Tinham um projeto político bem definido, cuja principal proposta era o alinhamento com grupos contrarrevolucionários.

D) Exigiam melhores condições de vida e participação política dos setores sociais médios e pobres, saqueando armazéns e tomando edifícios governamentais.

E) Defendiam que os preços fossem tabelados e o fim da exploração econômica, sem qualquer proximidade com os camponeses e suas reivindicações.

Resolução:

Alternativa D.

Os sans-culottes não formavam um grupo coeso, mas muitas reivindicações eram comuns entre todos eles, como o fim da monarquia, melhorias na condição de vida das camadas populares e dos camponeses. Em muitos momentos da revolução foram responsáveis por saques a armazéns e ataques a prédios públicos, como o Palácio das Tulherias.

Questão 2

(UEG) Leia o texto a seguir.

Socialmente, os sans-culottes representam os citadinos que vivem de seu trabalho, seja como artesãos, seja como profissionais de ofício; alguns, depois de uma vida laboriosa, se tornam pequenos proprietários na cidade, e usufruem as rendas de um imóvel.

PÉRONNET, Michel. Revolução Francesa em 50 Palavras-chaves. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 248.

A análise do texto demonstra que os interesses sociais dos sans-culottes, importantes personagens da Revolução Francesa, se confundiam com os:

A) da pequena burguesia que, apesar das conquistas econômicas, via-se pressionada pelo aumento no custo de vida.

B) dos camponeses, já que ambos lutavam pela abolição dos privilégios feudais no campo e posse de terras coletivas.

C) dos membros do baixo clero, uma vez que lutavam por reformas sociais, mas não eram contra a liberdade religiosa.

D) da classe dos girondinos, pois apesar das diferenças de classe, ambos os grupos eram politicamente moderados.

Resolução:

Alternativa A.

A pequena-burguesia parisiense e os sans-culottes sofreram com a alta do preço dos alimentos mais do que os camponeses, que cultivavam o próprio alimento, e do que a nobreza, clero e alta burguesia, que podiam pagar pelo alimento.

Fontes

BURKE, Edmund. Reflexões sobre a revolução na França. Vide Editorial, Campinas, 2017.

VOVELLE, Michel. A Revolução Francesa – 1789/1799. Editora UNESP, São Paulo, 2012.

Por: Jair Messias Ferreira Junior

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