Revolução Puritana

A Revolução Puritana foi um conflito entre a monarquia inglesa e o Parlamento. Resultou na execução do rei e no fortalecimento do poder parlamentar na Inglaterra.

A Revolução Puritana eclodiu em uma guerra travada entre as forças parlamentares e o rei Carlos I.

A Revolução Puritana (1640-1660), ocorrida na Inglaterra, teve origem no contexto de crescentes conflitos religiosos e políticos. Os puritanos, um grupo de protestantes reformistas, buscavam purificar a Igreja da Inglaterra promovendo reformas religiosas.

Do lado político, ocorreram conflitos crescentes entre o rei Carlos I e o Parlamento. O ápice dessa revolução foi a Guerra Civil Inglesa (1642-1651), que resultou na execução de Carlos I e no governo de Oliver Cromwell durante o período do Protetorado (1653-1659).

Leia também: Concílio de Trento e a luta da Igreja Católica contra o avanço do protestantismo

Resumo sobre a Revolução Puritana

  • A Revolução Puritana foi um conflito político e religioso que eclodiu, em 1642, com o início da Guerra Civil Inglesa.
  • Suas principais causas foram a busca dos puritanos por uma Igreja mais pura, as tensões provocadas pela imposição de políticas religiosas, e o conflito entre o rei e o Parlamento.
  • Os puritanos eram um grupo de protestantes reformistas, conhecidos por sua devoção religiosa, moralidade estrita e desejo de reformas religiosas e políticas. Eles buscavam purificar a Igreja da Inglaterra de práticas e rituais que consideravam impuros e não bíblicos.
  • A Revolução Puritana se desdobrou em várias fases, começando com as antecedentes e crescentes tensões políticas e religiosas, seguido pela Guerra Civil Inglesa, que culminou na execução de Carlos I e na liderança de Oliver Cromwell durante o período do Protetorado.
  • Durante a Revolução Puritana, houve variações na liberdade religiosa mas também restrições à prática religiosa não conformista.
  • A Revolução Puritana resultou na execução do rei, na promulgação do Trienal Act e em mudanças constitucionais que ajudaram a fortalecer o Parlamento e a proteger os direitos do povo.
  • Suas consequências incluíram também a abolição temporária da monarquia, mudanças na liberdade religiosa, e influenciaram a Revolução Gloriosa e a consolidação da monarquia parlamentar.

Videoaula sobre a Revolução Puritana

O que foi a Revolução Puritana?

Foi um período de intensos conflitos políticos, militares e religiosos que culminou na execução do rei Carlos I e na instauração de um breve período de república conhecido como o Protetorado, liderado por Oliver Cromwell. A Revolução Puritana ocorreu entre 1640 e 1660 na Inglaterra e teve um profundo impacto na história política e social do país.

Antecedentes da Revolução Puritana

O contexto histórico antecedente à Revolução Puritana foi marcado por um sistema político no qual o rei Carlos I buscou governar com poderes absolutos, frequentemente entrando em conflito com o Parlamento, que buscava proteger seus direitos e prerrogativas.

O período foi caracterizado também por tensões religiosas com os puritanos, um grupo protestante não anglicano que pretendia tornar a religião protestante inglesa mais pura. A imposição de políticas religiosas, como o Livro de Oração Comum, provocou resistência e levou a revoltas, como a Revolta Escocesa, de 1639-1640.

Esses conflitos religiosos e políticos, com a crescente polarização e desconfiança entre o rei e o Parlamento, prepararam o terreno para a Revolução Puritana, que eclodiu, em 1642, com o início da Guerra Civil Inglesa.

Veja também: A estreita  relação entre a Igreja e a política na Idade Moderna

Principais causas da Revolução Puritana

O rei Carlos I acreditava que sua autoridade era divina. Seus conflitos com o Parlamento motivaram a Revolução Puritana.

As principais causas da Revolução Puritana incluem fatores políticos, sociais, religiosos e econômicos que se acumularam ao longo do tempo. Dentre eles, destaca-se:

  • Conflitos religiosos: a Igreja Anglicana, estabelecida pelo rei Henrique VIII, era a instituição do Estado, mas muitos puritanos a consideravam muito semelhante à Igreja Católica Romana em suas práticas e rituais. Os puritanos desejavam uma reforma mais radical da Igreja, o que os levou a serem frequentemente perseguidos e marginalizados.
  • Conflitos políticos entre o rei e o Parlamento: o rei Carlos I acreditava em uma forma de governo absolutista, em que ele tinha o direito divino de governar sem a interferência do Parlamento. No entanto, o Parlamento buscava limitar o poder do rei e garantir seus próprios direitos e prerrogativas.
  • Crescente intervenção na economia: o governo cada vez mais intervia na economia, impondo impostos e regulamentações que afetavam a classe média e os proprietários de terras. Isso causou ressentimento e insatisfação entre aqueles que sentiam que suas liberdades e propriedades estavam sendo ameaçadas.
  • Conflitos regionais: a Escócia estava em conflito com a Inglaterra devido a diferenças religiosas e políticas. A tentativa do rei Carlos I de impor o Livro de Oração Comum à Escócia desencadeou a Revolta Escocesa em 1639-1640, um dos eventos que levaram à convocação do Parlamento em 1640.
  • Conflitos financeiros e militares: o rei Carlos I frequentemente convocava o Parlamento para obter fundos para suas campanhas militares e para financiar seu governo. A recusa do Parlamento em conceder fundos sem concessões políticas levou a um impasse e à convocação do Longo Parlamento.

Quem eram os puritanos?

Os puritanos eram um grupo de protestantes ingleses que surgiu no final do século XVI e durante o século XVII. Eles eram conhecidos por sua ênfase na reforma religiosa e na busca de uma Igreja mais pura e livre de elementos considerados papistas ou ritualistas, ou seja, provenientes da fé católica. Muitos puritanos defendiam a independência das igrejas locais em relação a qualquer autoridade centralizada, incluindo o governo civil.

Os puritanos desempenharam um papel significativo na política inglesa durante a Revolução Puritana e a Guerra Civil Inglesa (1642-1651). Sua relação com o Parlamento e a política inglesa da época foi complexa e multifacetada: muitos puritanos eram membros do Parlamento durante o período pré-revolucionário e estavam frequentemente associados a facções que buscavam limitar o poder do rei Carlos I e garantir os direitos e prerrogativas do Parlamento.

Dentro do Parlamento, os puritanos eram conhecidos por defender reformas religiosas e políticas que estivessem de acordo com suas crenças, como a limitação do poder episcopal na Igreja Anglicana.

Fases da Revolução Puritana

A Revolução Puritana é frequentemente dividida em três fases principais:

  • Revolta Escocesa (1639-1640): foi o início da Revolução Puritana, quando o rei Carlos I tentou impor o Livro de Oração Comum da Igreja Anglicana à Escócia, predominantemente presbiteriana. Isso levou à Primeira Guerra dos Bispos (ou Primeira Guerra dos Trinta Anos), em 1639-1640, que terminou em um impasse e forçou o rei a convocar o Parlamento em 1640 para obter fundos para continuar a guerra.
  • Longo Parlamento (1640-1660): trata-se do Parlamento convocado em 1640. Permaneceu ativo por um período excepcionalmente longo devido ao contexto tumultuado e à sua luta contra o rei pelo poder. Durante esse período, várias leis foram promulgadas para limitar o poder real, incluindo a Trienal Act (1641), que exigia que o Parlamento fosse convocado pelo menos a cada três anos, e a Lei do Grande Protesto (1641), que limitava o poder real sobre o exército. Além disso, ocorreram conflitos significativos, como a Segunda Guerra dos Bispos (ou Segunda Guerra dos Trinta Anos), em 1641-1642, que desencadeou a Guerra Civil Inglesa.
  • Guerra Civil Inglesa (1642-1651): foi um conflito prolongado e violento travado entre as forças parlamentares, lideradas principalmente por Oliver Cromwell, e as forças realistas leais ao rei Carlos I. As batalhas mais notáveis incluem a Batalha de Edgehill (1642), a Batalha de Marston Moor (1644) e a Batalha de Naseby (1645). A guerra terminou em 1649 com a captura e execução de Carlos I, que marcou um ponto de virada significativo na história inglesa.

Oliver Cromwell e seu exército na Revolução Puritana

Oliver Cromwell liderou um exército leal aos ideais do Parlamento.

Oliver Cromwell (1599-1658), um puritano devoto, foi uma figura central na Revolução Puritana e na Guerra Civil Inglesa do século XVII, quando emergiu como liderança proeminente. Cromwell era um membro do Parlamento durante o período pré-revolucionário: estava associado ao grupo parlamentar que se opunha ao rei Carlos I e buscava limitar seu poder.

Ele se tornou o comandante das forças parlamentares e foi fundamental para a vitória parlamentar. Posteriormente, ele se tornou o lorde protetor da república inglesa, liderando o país durante o período do Protetorado.

O New Model Army (literalmente, “novo modelo de exército”) foi criado em 1645 e foi uma inovação militar significativa da época. Era composto por soldados bem treinados, altamente disciplinados e motivados, recrutados não apenas pela aristocracia mas também entre as classes sociais mais baixas.

Cromwell, como comandante, desempenhou um papel fundamental em sua organização e liderança. O exército era notável por sua disciplina, coesão e eficácia em combate. Diferentemente das forças reais, que frequentemente eram compostas por soldados mercenários, o New Model Army era composto por soldados ideologicamente motivados e leais ao Parlamento. Isso o tornou uma força poderosa na luta contra o rei Carlos I.

Após a vitória das forças parlamentares na Guerra Civil Inglesa, Cromwell desempenhou um papel fundamental no governo da Inglaterra durante o Protetorado. Ele se tornou o lorde protetor da república inglesa em 1653, assumindo uma posição de liderança executiva.

Durante seu governo, houve uma série de reformas, incluindo maior tolerância religiosa, embora Cromwell também tenha governado com mão de ferro e reprimido levantes e oposição política. Seu governo durou até sua morte, em 1658.

Teoria do direito divino e a Revolução Puritana

A teoria do direito divino dos reis era um conceito político que encontrava apoio em várias partes da Europa durante a Idade Moderna. Presente sobretudo na obra de Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704), bispo e teólogo francês, consiste na defesa de que os reis governam com autoridade divina e que desafiar o poder do rei é desafiar a vontade de Deus.

A teoria do direito divino dos reis desempenhou um papel significativo nas tensões que levaram à Revolução Puritana na Inglaterra e na relação conturbada entre Carlos I e seus súditos. Carlos I acreditava que sua autoridade era de origem divina e que não estava sujeito a limitações ou controle por parte do Parlamento. Isso o levou a adotar uma abordagem autoritária ao governo e a tomar medidas que desafiavam as prerrogativas parlamentares.

A ênfase de Carlos I na autoridade real absoluta o levou a entrar em conflito com o Parlamento, que buscava proteger seus próprios direitos e prerrogativas. O rei convocava o Parlamento apenas quando precisava de fundos para suas campanhas militares ou para financiar seu governo, e muitas vezes dissolvia-o quando via suas demandas financeiras recusadas.

Censura e tolerância religiosa na Revolução Puritana

A questão da liberdade religiosa na Inglaterra durante a Revolução Puritana foi um tema complexo e mutável. Durante o período, houve alterações significativas na política e na tolerância religiosa na Inglaterra.

A Revolução Puritana foi impulsionada, em parte, pelos esforços dos puritanos para reformar a Igreja da Inglaterra e torná-la mais “pura” de acordo com suas crenças. Alguns puritanos eram mais radicais e buscavam reformas religiosas abrangentes, enquanto outros tinham objetivos mais moderados.

Durante os primeiros estágios da Revolução Puritana, houve certo grau de tolerância religiosa, uma vez que os puritanos estavam lutando contra o poder centralizado do rei Carlos I e sua tentativa de impor o Livro de Oração Comum. Isso permitiu que diferentes grupos religiosos não conformistas ganhassem alguma liberdade para praticar sua fé.

Após a vitória das forças parlamentares na Guerra Civil Inglesa e a execução de Carlos I em 1649, Oliver Cromwell emergiu como líder da república inglesa durante o Protetorado.

Cromwell adotou uma política de maior tolerância religiosa, permitindo que grupos dissidentes, como os batistas e os quacres, praticassem sua fé sem perseguição. No entanto, essa tolerância tinha limites, e os católicos e anglicanos também enfrentaram restrições.

A Revolução Puritana e os direitos do povo

A Revolução Puritana na Inglaterra resultou em várias mudanças políticas e legais que afetaram os direitos e as liberdades dos cidadãos. Algumas das conquistas legais e políticas mais notáveis da revolução incluíram:

  • Limitação do poder real: a Revolução Puritana levou à execução do rei Carlos I em 1649 e à abolição da monarquia. Durante o Protetorado, liderado por Oliver Cromwell, o poder real foi substancialmente limitado. Embora o governo de Cromwell tenha sido autoritário em muitos aspectos, ele também representou um movimento em direção a um governo mais baseado no Parlamento.
  • Trienal Act (Lei Trienal): em 1641, o Parlamento aprovou o Trienal Act, que estabelecia que o Parlamento deveria ser convocado pelo menos uma vez a cada três anos, independentemente da vontade do monarca. Isso garantia que o Parlamento não fosse dissolvido indefinidamente pelo rei, limitando assim o poder monárquico.
  • Abolição da censura de imprensa: durante o Protetorado de Cromwell, houve maior liberdade de imprensa em comparação com os períodos anteriores. A censura prévia foi suspensa em grande parte, permitindo maior disseminação de ideias e opiniões.
  • Tolerância religiosa parcial: sob o governo de Cromwell, houve certa tolerância religiosa para grupos protestantes não conformistas, como batistas e quacres. Isso permitiu que eles praticassem sua fé com menos restrições. No entanto, essa tolerância era limitada e não se estendia a grupos religiosos não protestantes, como os católicos.

Consequências da Revolução Puritana

O julgamento e a execução do rei Carlos I foi um episódio marcante da Revolução Puritana.

A Revolução Puritana na Inglaterra teve uma série de consequências significativas que moldaram a história política, social e religiosa do país. Dentre as principais consequências, pode-se apontar:

  • Execução de Carlos I e abolição da monarquia: a Revolução Puritana culminou na execução do rei Carlos I em 1649. Isso marcou um evento sem precedentes na história da Inglaterra, pois foi a primeira vez que um monarca inglês foi julgado e executado por um tribunal. A execução de Carlos I resultou na abolição da monarquia e na criação da república liderada por Oliver Cromwell.
  • Consolidação do poder parlamentar: a revolução fortaleceu a posição do Parlamento na Inglaterra. Durante o período do Protetorado de Cromwell e posteriormente, o Parlamento exerceu um papel central na tomada de decisões políticas.
  • Impacto na liberdade religiosa: a revolução teve implicações significativas para a liberdade religiosa na Inglaterra. Durante o governo de Cromwell, houve maior tolerância religiosa, limitada a grupos protestantes.

Saiba mais: O que foi a Contrarreforma?

Revolução Puritana e Revolução Gloriosa

A Revolução Puritana também teve como consequência o processo que culminou na Revolução Gloriosa de 1688 e na consolidação da monarquia parlamentar na Inglaterra. A promulgação da Bill of Rigths de 1689 estabeleceu princípios constitucionais fundamentais, como:

  • Restrição do poder real: proibia-se a suspensão das leis sem o consentimento do Parlamento, a imposição de tributos sem a autorização do Parlamento e a manutenção de um exército permanente em tempos de paz sem a aprovação parlamentar.
  • Liberdade religiosa: dirigida aos protestantes não anglicanos, permitia que eles participassem plenamente da vida pública e ocupassem cargos públicos.
  • Supremacia parlamentar: estabelecia o princípio de que o Parlamento era soberano e tinha autoridade sobre o monarca.

A Revolução Gloriosa foi chamada assim porque foi relativamente pacífica e resultou na consolidação de princípios constitucionais que limitavam o poder do monarca em favor do Parlamento e dos direitos individuais. Essa transformação foi fundamental para a formação do sistema de governo parlamentar que a Inglaterra adotaria e que serviria de modelo para muitas outras nações ao longo da história.

→ Videoaula sobre a Revolução Gloriosa

Exercícios resolvidos sobre a Revolução Puritana

1. Durante a Revolução Puritana, um dos principais líderes foi Oliver Cromwell. Sua liderança teve um impacto significativo na Inglaterra. Quem foi Oliver Cromwell e qual foi o papel dele durante a Revolução Puritana?

a) Foi um líder católico que apoiava o rei Carlos I.

b) Liderou as forças reais durante a Guerra Civil Inglesa.

c) Foi um líder puritano que liderou as forças parlamentares e se tornou lorde protetor da Inglaterra.

d) Foi um teórico político que defendia o direito divino dos reis.

e) Foi um líder quacre que promoveu a tolerância religiosa na Inglaterra.

Resposta: C

Oliver Cromwell desempenhou um papel fundamental na Revolução Puritana, liderando as forças parlamentares, estabelecendo o período do Protetorado e promovendo reformas religiosas e políticas.

2. Durante a Revolução Puritana, as tensões religiosas e políticas eram evidentes. Uma das questões centrais era a teoria do direito divino dos reis. O que afirmava a teoria do direito divino dos reis e como essa teoria se relacionou com os conflitos durante a Revolução Puritana?

a) Afirmava que os reis governavam com base em eleições populares e apoio do Parlamento.

b) Afirmava que os reis governavam por autoridade divina e não deviam prestar contas a nenhum poder terreno, o que contribuiu para as tensões políticas com o Parlamento durante a Revolução Puritana.

c) Argumentava que os reis deveriam ser eleitos pelo clero.

d) Defendia que o poder do rei estava acima do poder da Igreja e do Parlamento.

e) Foi irrelevante para os conflitos durante a Revolução Puritana.

Resposta: B

A teoria do direito divino dos reis alegava que os monarcas governavam com autoridade divina e não estavam sujeitos a nenhum poder terreno, incluindo o Parlamento. Essa crença contribuiu para os conflitos políticos durante a Revolução Puritana, já que os puritanos buscavam limitar o poder monárquico e promover reformas religiosas na Inglaterra.

Fontes

ARRUDA, José Jobson de Andrade. A Revolução Inglesa. São Paulo: Brasiliense, 1990.

ARRUDA, José Jobson de Andrade. Nova História Moderna e Contemporânea. Florianópolis: Edusc, 2006.

FLORENZANO, Modesto. As Revoluções Burguesas. São Paulo: Brasiliense, 2005.

Por: Tiago Soares Campos

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