Reforma Protestante promoveu uma ruptura no cristianismo ocidental, com novas doutrinas sobre a fé cristã, influenciando a política e a economia da Europa moderna.
A Reforma Protestante promoveu grandes transformações no âmbito religioso durante a transição da Idade Média para a Idade Moderna. Até o século XV, a Igreja Católica era a única representante do cristianismo no Ocidente. A reforma, iniciada na Alemanha com Martinho Lutero, questionou a alta cúpula do clero católico e desencadeou uma série de movimentos críticos à doutrina católica, abrindo caminho para o surgimento de outras igrejas cristãs sem nenhum vínculo com ela.
Além disso, os reis que lideravam a formação dos estados nacionais aproveitaram esse momento de contestação do catolicismo para questionar o poder do papa. A reação católica foi a contrarreforma, um conjunto de ações que reafirmava a doutrina e a soberania da Igreja sobre o mundo cristão e buscava conter o avanço protestante em outras regiões distantes da Europa.
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Contexto histórico da Reforma Protestante
O século XVI é marcado por grandes transformações na Europa. O mundo medieval estava em crise. A economia deixava de ser agrícola para tornar-se comercial. Os senhores feudais, enfraquecidos, viram os reis assumirem o controle político e centralizarem o poder. A sociedade, que vivia no campo, estava morando nas cidades.
A cultura desse período resgatava a cultura greco-romana, que valorizava a beleza do ser humano. O antropocentrismo ocupava o espaço do teocentrismo. O conhecimento não se baseava mais na fé ou nas tradições cristãs, mas sim na ciência. O estudo da natureza caracterizava-se pela observação, pela curiosidade e pela compreensão dos fenômenos naturais com base na ciência.
A Igreja Católica, que exercia poder soberano sobre a Europa medieval, começou a ser questionada. As universidades que surgiram dentro das igrejas, nesse contexto de mudança, começaram a discutir temas alheios aos da doutrina católica. Os constantes questionamentos sobre essas transformações exigiam respostas cientificamente comprovadas ou discussões com argumentos lógicos e não mais com base nas crenças das pessoas.
O próprio papa foi questionado. Ele não era mais visto como um escolhido por Deus para liderar a Igreja fundada por Cristo, mas sim como um humano igual aos outros e que poderia errar como qualquer um. Os reis que lideravam os estados nacionais em formação apoiaram esse questionamento sobre o poder papal porque não teriam concorrência.
Outra mudança importante foi a criação da imprensa pelo alemão Johannes Gutenberg. Esse dispositivo permitiu a impressão de textos e livros de forma intensa. O primeiro livro a ser impresso foi a Bíblia. Com o passar dos anos, a imprensa tornou-se um dispositivo valioso para a impressão de livros, jornais e textos, que passaram a circular de forma rápida e acessível para os leitores.
No começo do século XVI, a Igreja Católica estava construindo no Vaticano a Basílica de São Pedro. Um projeto inovador, grandioso e que necessitava da colaboração dos fiéis não somente com orações, mas com dinheiro. Isso fez com que boa parte da cúpula clerical usasse a nova obra como instrumento de exploração da fé alheia. A venda de indulgências, ou seja, do perdão dos pecados, passou a ser uma constante.
Enquanto bispos e cardeais banqueteavam em seus palácios apostólicos, o povo miserável fazia sacrifícios, muitas vezes desumanos, para pagar o que era exigido e livrar-se a si mesmo, ou a algum familiar que já tinha morrido, do inferno. O frei agostiniano Martinho Lutero foi um dos fiéis que se sacrificaram e pagaram a quantia exigida para obter o perdão dos pecados.
Causas e origem da Reforma Protestante
A Reforma Protestante iniciou-se de fato a partir dos questionamentos sobre as práticas do clero da Igreja Católica que não estavam condizentes com as orientações da Sagrada Escritura. A cobrança das indulgências e o pagamento de serviços prestados pela Igreja, e que deveriam ser oferecidos de forma gratuita, motivaram reações daqueles que não concordavam com essas práticas. A reforma começou dentro do campo religioso, mas extrapolou para a política, economia e sociedade. Os reis embarcaram nela por causa das críticas ao poder do papa sobre o mundo terreno. A burguesia em ascensão sentia-se prejudicada por conta da condenação da prática da usura, ou seja, dos juros, o que lhe garantia o lucro nas transações comerciais.
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As 95 teses de Martinho Lutero
Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg as 95 teses que condenavam a avareza e o paganismo dentro da Igreja. Lutero, com isso, fazia um convite para o debate sobre os temas propostos. Em pouco tempo, as teses foram reproduzidas e distribuídas por toda Alemanha. Lutero foi julgado e excomungado pela Igreja. Ele foi ainda o responsável pela tradução da Bíblia do latim para o alemão. Dessa forma, possibilitou a leitura da Sagrada Escritura por qualquer pessoa, sem o intermédio da Igreja. A imprensa permitiu a reprodução da Bíblia traduzida bem como a sua rápida disseminação.
Calvinismo
João Calvino estabeleceu uma doutrina para o cristianismo diferente da católica. Ele defendeu a tese da predestinação, isto é, somente os escolhidos pela vontade de Deus teriam a salvação eterna. De acordo com a doutrina calvinista, o trabalho deveria ser valorizado e a riqueza obtida por ele era uma forma de honrar a Deus. Max Weber percebeu a íntima ligação entre essa visão sobre o trabalho e a riqueza no fortalecimento do capitalismo.
Anglicanismo
O anglicanismo surgiu na Inglaterra, durante o reinado de Henrique VIII. Ele era casado com Catarina de Aragão, mas desejava separar-se dela. Os dois tiveram cinco filhos, porém apenas uma menina sobreviveu. O rei estava preocupado com a sucessão do reino e decidiu casar-se com Ana Bolena, aguardando um filho para garantir a linha sucessória. No entanto, a Igreja Católica negou o pedido de Henrique VIII para anular seu primeiro casamento, então ele resolveu criar uma instituição religiosa que celebrasse sua nova união matrimonial.
Em 1534, o parlamento inglês autorizou a criação da Igreja Anglicana. A nova religião manteve os moldes hierárquicos e a veneração aos santos católicos. Além disso, aderiu a alguns princípios calvinistas e criou condições para que o reino inglês se apoderasse de terras pertencentes à Igreja Católica. Com o avanço do anglicanismo, a Igreja Católica perdeu força no território britânico.
Contrarreforma
A Igreja Católica organizou o Concílio de Trento entre os anos de 1545 a 1563, o qual reforçou a doutrina da Igreja e estabeleceu ações para conter o avanço das igrejas nascidas após a Reforma Protestante. As medidas foram:
- Criação do Tribunal da Inquisição para julgar e punir aqueles que eram considerados hereges, ou seja, defendiam e difundiam ideias contrárias à doutrina católica.
- Infalibilidade do papa: reforço do poder do papa.
- Fundação da Companhia de Jesus: os padres jesuítas tinham como missão levar a mensagem católica para outras regiões do mundo. Durante a colonização da América, os jesuítas tiveram papel importante na conversão dos indígenas para a religião católica.
Resumo sobre a Reforma Protestante
- A Reforma Protestante promoveu uma ruptura no mundo cristão ocidental. Novas religiões cristãs surgiram, como anglicanismo, luteranismo e calvinismo.
- As novas doutrinas cristãs foram usadas por reis para questionar-se o poder do papa e para justificar-se o lucro dos burgueses obtidos por meio das atividades comerciais.
- A Contrarreforma foi a reação católica à Reforma Protestante e buscava reafirmar a doutrina católica e punir os hereges.
Exercícios resolvidos
Questão 1 – A Contrarreforma foi formada por meio do Concílio de Trento e tinha como ações para conter o avanço da Reforma Protestante na Europa:
A) criação do Tribunal da Inquisição e aliança com os reis absolutistas.
B) aliança com os calvinistas para combater o avanço anglicano na Inglaterra.
C) criação do Tribunal da Inquisição e reforço do poder do papa.
D) criação da Companhia de Jesus e diálogo com as novas religiões cristãs.
Resolução
Alternativa C. O Tribunal de Inquisição foi criado para julgar e punir quem era considerado herege, ou seja, quem questionava e criticava a doutrina católica. O poder do papa também foi reforçado durante o Concílio de Trento como uma reação à centralização do poder nas mãos dos reis.
Questão 2 – Assinale a alternativa que corretamente aponta a relação entre as novas religiões cristãs e o capitalismo:
A) o trabalho e a riqueza como formas de honrar a Deus.
B) críticas ao acúmulo de capital.
C) defesa da divisão do lucro com os mais pobres.
D) fim da escravidão por dívidas.
Resolução
Alternativa A. Se a Igreja Católica condenava a usura, o lucro dos capitalistas, as igrejas protestantes valorizavam o trabalho e afirmavam: se o lucro obtido pelos comerciantes fora consequência do trabalho, deveria então ser valorizado.