Os jesuítas e as ciências

Bartolomeu de Gusmão: um dos representantes da relação entre os jesuítas e o conhecimento científico.
Os membros da Companhia de Jesus ficaram conhecidos pelas suas ações relacionadas à conversão religiosa das populações nativas do continente americano e em outras porções do mundo. Para muitos, eles eram um instrumento que garantia os interesses de uma Igreja Católica, então enfraquecida pela ascensão das religiões protestantes. Paralelamente, os jesuítas também foram responsabilizados pelo desaparecimento de várias práticas religiosas anteriores à colonização europeia.

Quem observa somente tais características acaba por não enxergar que outras questões e valores percorreram essa mesma instituição. E para a surpresa de muitos críticos, podemos atestar que vários jesuítas foram de grande importância para o desenvolvimento das ciências. De fato, ao longo da sua formação, vemos que muitos padres jesuítas possuíam uma rica formação acadêmica anterior ao seu trabalho de evangelização.

Incentivada pelo próprio Inácio de Loyola, fundador da ordem, a busca por conhecimento acabou designando aos jesuítas a função de criar várias instituições de ensino pela Europa e pelo mundo. A função de gerir essas instituições de ensino acabou sendo de grande valia para o aprimoramento dos usos científico e pedagógico do pensamento racional. A organização de métodos avaliativos e a formulação de currículos escolares determinavam a busca por resultados positivos no repasse de conhecimento para os estudantes colegiais e universitários dessas escolas.

De forma geral, os jesuítas estiveram envolvidos com os saberes deixados pela física aristotélica e de outros textos clássicos que discutiam astronomia, óptica, geometria e mecânica. No período renascentista, por exemplo, Christoph Clavius (1538 – 1612) foi um dos mais importantes professores de matemática do período. Outros nomes como os de Manuel de Góis (1543 – 1597) e Matteo Ricci (1552 – 1612) foram de igual valor na manutenção e desenvolvimento das áreas de conhecimento já citadas.

Passado o Renascimento, observamos que a ação intelectual dos jesuítas ainda prosseguia com grande presença no contexto europeu. Athanasius Kircher (1602 – 1680) foi um nome de grande destaque no renomado Colégio de Roma. Atento às várias facetas do conhecimento humano, ele desenvolveu estudos e publicações dirigidos à astronomia, matemática, microscopia, química, acústica, linguística, medicina, música, magnetismo, óptica e geografia.

Em terras brasileiras, a atuação científica dos jesuítas já se mostrou em destaque com os estudos sobre biologia, medicina e linguística promovidos pelo padre José de Anchieta (1534 – 1597). Por meio de seu trabalho, foi produzido um dos primeiros dicionários que traduziam a língua dos tupis para o português. Tempos depois, Bartolomeu de Gusmão (1685 – 1724) notabilizou-se por seus estudos ligados às ciências exatas e à realização de uma experiência pública de voo na cidade de Lisboa.

Desse modo, podemos ver que os jesuítas tiveram uma importante relação com a produção de conhecimento em diversas áreas do saber. Por um lado, vemos que a importância da Companhia de Jesus não se limitou à ampliação do número de fiéis ao redor do mundo. Por outro, fica claro que a antiga oposição entre fé e razão não serve de parâmetro para conhecermos a história das ciências e do conhecimento ao longo da Idade Moderna.
Por: Rainer Sousa

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