As origens mitológicas de Roma são exaustivamente estudadas pelos historiadores, que comparam a narrativa mítica com outras formas de pesquisa.
A história de Roma, ainda que exaustivamente estudada e interpretada por arqueólogos e historiadores por intermédio de fontes materiais confiáveis, necessita das narrativas mitológicas para ser bem compreendida. A origem da cidade e o chamado período monárquico, que compreende um arco temporal de pouco mais de duzentos anos, indo desde aproximadamente 753 a.C. até 509 a.C., quando foi instituída a República, estão permeados pelos mitos. Esses mitos procuram esclarecer as “raízes” da fundação de Roma e o seu desenvolvimento. Tais narrativas centram-se nas figuras dos irmãos gêmeos Rômulo e Remo.
Mas antes de chegarmos ao ponto em que o mito trata dos gêmeos, devemos recuar até a figura, também mítica, do herói Eneias. Eneias (ou Eneas, como também é chamado) era um dos combatentes troianos que lutaram na famosa guerra contra os gregos. Com Troia vencida e destruída, Eneias, junto a seu pai e a seu filho, fugiram de Troia e estabeleceram-se na Península Itálica. Nessa região, Eneias, segundo a tradição, fundou a cidade de Alba Longa. Ascânio, filho de Eneias, teria sido o primeiro rei de Alba Longa e teria também dado origem aos povos latinos.
Após doze gerações derivadas de Ascânio, nasceram os gêmeos Rômulo e Remo. Do nascimento desses dois personagens desenrola-se toda uma simbologia do poder de Roma. Da descendência dos latinos, havia o rei Numitor, deposto pelo próprio irmão, Amúlio, que lhe matou os filhos do sexo masculino e transformou sua filha, Réia Silvia, em vestal (isto é, em uma das sacerdotisas que cuidavam do templo da deusa Vesta e que deviam permanecer virgens até o fim da vida). Contudo, o deus Marte (deus da Guerra, para os romanos) engravidou Reia e dessa concepção nasceram os gêmeos.
O rei Amúlio, entretanto, teria ordenado que os gêmeos fossem abandonados no rio Tibre para que morressem à míngua. No entanto, os irmãos teriam conseguido salvar-se ao serem apanhados por um pastor e amamentados por uma loba (ver imagem no topo da página). Ao crescerem, os dois jovens teriam se inteirado de sua história e promovido vingança contra o tio-avô, Amúlio, trazendo de volta ao trono o avô Numitor.
Próximo ao rio Tibre, onde haviam sido abandonados, foi fundada Roma. Em seu mito de fundação, Rômulo teria assassinado seu irmão, Remo, após este ousar atravessar os muros sagrados da cidade. Rômulo teria, assim, tornado-se o primeiro rei de Roma. Toda essa narrativa pode ser encontrada em autores como Tito Lívio e Virgílio, como propõe o pesquisador Márcio Thamos:
“Rômulo e Remo, símbolos do nascimento da nação, são filhos do próprio deus da guerra (Marte), o que garante aos romanos proteção divina contra qualquer inimigo. Mas esses versos são também uma metáfora, baseada em analogia acústica, que mostra bem as origens troianas fortalecidas pela disposição guerreira de Roma. Em latim, Ilia, o nome da mãe dos gêmeos, tem dois homônimos perfeitos: Ilia, “de Ílio”, isto é, “de Tróia”, e ilia, “ventre”. Desse modo, a imagem é clara: Roma nasce do ventre de Tróia fecundado por Marte.” [1]
Rômulo teria reinado em Roma até o ano de 717 a.C. A ele sucederam mais seis monarcas: três deles de origem latina e sabina e três de origem etrusca. Entre os latinos e sabinos, os reis foram os seguintes: Numa Pompílio, Túlio Hostílio e Anco Márcio. Os etruscos passaram a dominar a região do Lácio no século VII a.C. E, a partir de 616 a.C., anexaram a cidade de Roma. Os reis etruscos foram Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Tarquínio, o Soberbo.
NOTAS
[1] THAMOS, Márcio. A expressão concreta do mito de Roma (em um trecho da Eneida de Virgílio). Revista Olho d'água, São José do Rio Preto, 1(1). p
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