A origem dos conflitos árabe-israelenses está ambientada no contexto das duas guerras mundiais e no imediato pós-guerra, especificamente entre 1947 e 1949.
A origem dos conflitos árabe-israelenses remonta ao início do século XX, quando passou a se concretizar a ideia de construção de um Estado Judaico na Palestina. Saber do contexto no qual tiveram origem esses conflitos é importante para se entender a Primeira Guerra árabe-israelense, que ocorreu entre os anos de 1947 e 1949 e que pode ser dividida em duas fases: a Guerra Civil do Mandato da Palestina (30 de novembro de 1947 a 14 de maio de 1948) e a Guerra de Independência de Israel (15 de maio de 1948 a 20 de julho de 1949).
O conflito desenvolveu-se a partir do momento em que houve a aprovação, por parte da recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU), do Plano de Partilha da Palestina e intensificou-se após a Declaração de Independência de Israel em 14 de maio de 1948.
- O Estado Judaico e o Mandato Britânico da Palestina
O contexto que acabou dando ensejo ao conflito entre árabes e judeus foi marcado pelos projetos nacionalistas de ambos os lados. Do lado judeu, havia o movimento sionista, fundado pelo húngaro Theodor Herzl, cujo órgão principal foi o Fundo Nacional Judaico (Karen Kayemet Israel) – uma espécie de banco que tinha por objetivo levantar fundos para a compra de terras na Palestina, então pertencente ao Império turco-otomano. As terras compradas abrigariam o futuro Estado Nacional judeu. Do lado árabe, havia o interesse de povos, como os jordanianos e os palestinos, de se tornarem independentes do Império turco-otomano e, tal como os judeus, formarem o seu Estado Nacional.
Quando sobreveio a Primeira Guerra Mundial, em julho de 1914, as potências associadas na Tríplice Aliança (Império Alemão, Áustria-Hungria e o reino da Itália) valeram-se do apoio do Império turco-otomano no Oriente e no Norte da África. Das potências contrárias, que formavam a Tríplice Entente, a Grã-Bretanha, em específico, deu apoio ao projeto sionista, em 1917, por meio de declaração do Ministro das Relações Exteriores, Arthur James Balfour, que prometeu aos judeus ajuda na fundação de seu Estado Nacional após a iminente derrota do Império Otomano.
O problema era que os britânicos precisavam também do auxílio militar dos árabes palestinos e jordanianos na luta contra os otomanos. Isso criou um impasse que o sociólogo Cláudio Camargo explica em seu ensaio presente no livro História das Guerras:
[…] a Grã-Bretanha estava em plena guerra contra o Império Otomano e, como precisava do apoio das populações árabes que habitavam aqueles territórios controlados pelos turcos, prometeu-lhes também mundos e fundos. Por isso, antes da Declaração de Balfour, o governo de Londres havia se comprometido com o emir Hussein ibn Ali, prefeito de Meca, a apoiar o estabelecimento de um reino árabe independente do Oriente Médio, em retribuição ao esforço árabe na guerra contra os otomanos. Pior: antes dessas vãs promessas, em 1916, os britânicos haviam firmado com os franceses os Acordos Sykes Picot, que previam a divisão do Oriente Médio em esferas de influência anglo-francesas em caso de vitória dos Aliados da Tríplice Entente (França, Grã-Bretanha e Rússia) contra a Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Império Otomano). [1]
Com o fim da Primeira Guerra e a derrota do Império Otomano, britânicos e franceses definiram uma estrutura de mandatos administrativos para a região do Oriente Médio. A região da Palestina ficou sendo tutelada pelo Mandato Britânico da Palestina, firmado em 1922. Entretanto, logo as diferenças entre as duas comunidades levaram à explosão dos conflitos.
- Guerra Civil do Mandato Britânico da Palestina
Durante a primeira década de vigência do mandato referido, o movimento sionista continuou a financiar a imigração de judeus europeus para a Palestina, e mais: as terras compradas assumiram o caráter de “propriedade do povo judaico” e só poderiam ser vendidas a judeus. Em meados da década de 1930, quando as ações antissemitas do nazismo alemão começaram a repercutir no mundo todo, o grão-múfti (autoridade espiritual do islamismo) de Jerusalém, Hajj Amin al-Husseini, organizou uma revolta contra as autoridades britânicas e os judeus instalados na Palestina. Al-Husseini era simpático ao nazismo e esteve com Adolf Hitler em diversas ocasiões.
Com o propósito de se organizarem contra as investidas das revoltas árabes, os judeus formaram a Haganá, organização paramilitar que depois viria a ser a base das forças armadas israelenses. No fim dos anos 1930 e durante toda a metade dos anos 1940, ocorreu a Segunda Guerra Mundial, o que enfraqueceu a capacidade de mediação de conflitos da Grã-Bretanha no Oriente Médio.
Findada a Segunda Guerra, o Mandato da Palestina já não conseguiu mais resolver a tensão instalada na região e transferiu o problema para a recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU). Em 30 de novembro de 1947, a ONU aprovou o Plano de Partilha da Palestina, dividindo o território em algumas porções para judeus e outras para árabes. A recém-fundada Liga Árabe (constituída por países como Egito, Síria, Líbano e Arábia Saudita) recusaram, de imediato, o plano.
Esse plano pôs fim ao Mandato da Palestina e deu início à guerra civil envolvendo, do lado judeu, a Haganá e outras facções que flertavam com o terrorismo, como o Irgun e o Lehi, e, do lado árabe palestino, os Exércitos da Guerra Santa e da Libertação. O conflito limitou-se a essas forças até 14 de maio de 1948, quando, por uma decisão das autoridades judaicas, na pessoa de David Ben-Gurion, o conflito tomou proporções bem maiores.
- Primeira Guerra árabe-israelense
Em 14 de maio de 1948, David Ben-Gurion, que viria a ser o primeiro-ministro de Israel, assinou a Declaração de Independência de Israel em Tel Aviv. A independência teve o reconhecimento imediato da URSS e dos EUA. Mal houve a comemoração do povo judaico, a reação da Liga Árabe já foi apresentada. Era deflagrada a Primeira Guerra árabe-israelense, com todos os exércitos da Liga Árabe mobilizados contra Israel.
Da Haganá surgiram as Forças de Defesa de Israel, que se uniram aos grupos Irgun e Lehi para combater os árabes. O mundo ficou impressionado com o poder de ação das forças israelenses, sobretudo na parte de logística e estratégia. A guerra só teve fim em 20 de julho de 1949, quando houve o último acordo de Israel com a Síria, com a vitória definitiva de Israel.
Depois da guerra, como diz Cláudio Camargo:
[…] Israel tinha expandido muito seu território: de 55% da Palestina que lhe tinha sido atribuídos pelo plano de partilha da ONU, conquistou 79% dela pelas armas. Essas terras tornaram-se, de fato, território de Israel. Ficaram de fora a cadeia de baixas montanhas do centro e sul da Palestina, conhecidas como Margem Ocidental ou Cisjordânia, que ficou sobre o controle da Transjordânia, além da Faixa de Gaza, que ficou sobre a administração militar egípcia. Jerusalém, que foi dividida entre a parte oriental – a cidade antiga e o bairro extramuros, que foram ocupadas pelos jordanianos; e a parte ocidental extramuros, que ficou sob o controle de Israel [2]
NOTAS
[1] CAMARGO, Cláudio. “Guerras Árabes-Israelenses”. In: MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2013. p. 429.
[2] Ibid. p. 430.