O massacre de Katyn foi um crime de guerra cometido pela União Soviética contra a Polônia em 1940. Foi realizado durante a invasão soviética do território polonês.
O massacre de Katyn foi um genocídio cometido pela União Soviética (URSS) após a invasão da Polônia durante a Segunda Guerra Mundial. O crime veio à tona internacionalmente em 1943, quando tropas nazistas localizaram as valas comuns onde os soviéticos enterraram os mortos.
Invasão da Polônia
Pouco antes do início da Segunda Guerra, a Alemanha e a União Soviética assinaram um acordo de não agressão em que ambas se comprometeram a manter a paz entre si caso houvesse um conflito na Europa. A assinatura do acordo aconteceu no dia 26 de agosto de 1939. Esse pacto estipulava também, em cláusulas secretas, a expansão territorial das duas nações.
Em relação à expansão sobre as terras polonesas, URSS e Alemanha concordaram em invadir, ocupar e dividir a Polônia entre si, pois, “aos olhos de Berlim e Moscou, o Estado polonês devia sua existência apenas à força maior dos Aliados em 1919 e não tinha legitimidade”|1|. A invasão alemã na Polônia aconteceu no dia 1º de setembro de 1939 e marcou o início da Segunda Guerra.
A invasão soviética só aconteceu no dia 17 de setembro de 1939, sob o pretexto de garantir a defesa das minorias bielo-russas e ucranianas que estavam em risco com a invasão alemã |2|. As tropas soviéticas renderam as tropas polonesas que estavam no leste da Polônia e iniciaram a deportação de poloneses para a URSS.
Deportação dos poloneses e o massacre dos Oficiais
Memorial polonês em homenagem às vítimas de Katyn. Está localizado em Varsóvia, capital da Polônia *
Com a ocupação soviética, estabeleceu-se no leste polonês o sistema soviético de governo, com a implantação do ensino soviético e o registro dos cidadãos. Milhares de poloneses foram arbitrariamente deportados para a União Soviética por serem considerados “perigosos” para a sociedade.
No caso do Exército, a União Soviética ordenou a extradição de aproximadamente 15 mil oficiais poloneses. A maioria desses oficiais pertencia à elite cultural polonesa e era reservista, ou seja, não exercia suas funções no Exército. Esses oficiais poloneses foram agrupados em três centros de prisioneiros: Starobilsk, na Ucrânia, e Kozelsk e Ostashkov, na Rússia.
Enquanto estavam em cárcere, os oficiais poloneses foram submetidos a inúmeros interrogatórios por parte dos agentes da polícia secreta soviética (NKVD). A morte dos prisioneiros foi proposta pelo chefe do NKVD, Lavrenti Beria, a Josef Stalin em março de 1940 sob alegação de que esses oficiais eram membros de grupos contrarrevolucionários |3|.
Após a aprovação de Stalin, Beria iniciou uma troika, isto é, um comitê de seleção para estipular quantos e quais oficiais seriam mortos. No total, o massacre encabeçado por Beria matou 21.892 poloneses nos três campos de prisioneiros. O processo de execução foi realizado em locais diferentes de acordo com o campo onde o prisioneiro estava. Veja o relato de Snyder sobre o que ocorreu no campo de Starobilsk:
Do campo de Starobilsk, os prisioneiros faziam a viagem de trem, 100 ou 200 de cada vez, até Kharkov, onde ficavam detidos nas prisões do NKVD. Embora não tivessem como sabê-lo, eles foram levados a um dos principais centros de extermínio de poloneses na União Soviética. […] Após um ou dois dias na prisão, eles eram conduzidos a uma sala e examinados detalhadamente. Depois, para outra sala, esta escura e sem janelas. Um guarda perguntava “Posso?” e em seguida guiava o prisioneiro. Como se lembraria mais tarde um domem do NKVD, “ouvia-se um estrépito, e estava acabado”. Os corpos eram empilhados sobre caminhões. Os casacos cobriam as cabeças dos cadáveres, a fim de não deixar que a plataforma dos caminhões fosse manchada de sangue. Os corpos eram postos em posições invertidas, alternadamente, para que formassem uma pilha|4|.
Somente no campo de Starobilsk foram mortos 3.739 prisioneiros |5|. O massacre foi descoberto em 1943, após a invasão alemã na União Soviética. Como forma de promover negativamente o regime soviético, o ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, divulgou de maneira intensiva o massacre cometido pela polícia secreta soviética. Esse crime de guerra somente foi reconhecido pela Rússia recentemente, em 2010.
|1| HASTINGS, Max. O mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p.16.
|2| SNYDER, Timothy. Terras de sangue. Rio de Janeiro: Record, 2012, p.162.
|3| Idem, p.176.
|4| Idem, p.178.
|5| Idem, p.178.
*Créditos da imagem: Marekusz e Shutterstock