John Wyclif, precursor da Reforma Protestante

Defendendo a salvação pela fé e a autoridade das Escrituras, John Wyclif influenciou posteriormente Martinho Lutero em sua crítica ao catolicismo.

Gravura de John Wyclif, um dos principais precursores da Reforma Protestante

John Wyclif foi considerado um dos principais precursores da Reforma Protestante. Nascido em 1320, John Wyclif era um grande estudioso da bíblia e ferrenho crítico do clero católico. Foi professor na Universidade de Oxford na Inglaterra, escrevendo diversos livros sobre o cristianismo.

Foi um dos principais críticos da venda de indulgências (o perdão concedido pela igreja aos pecadores), mesmo antes de Martinho Lutero. Essa situação levou-o a apontar em vários momentos a corrupção praticada pelo clero como um grave problema dentro da Igreja Católica.

Para Wyclif, a responsabilidade básica do sacerdote deveria ser a de pregar o evangelho, estando todas as demais funções subjugadas a essa responsabilidade. Havia ainda na postura de Wyclif posicionamentos radicais para a época, como o de que a indicação do sacerdote de cada paróquia deveria ser função dos membros cristãos que a frequentavam, superando, dessa forma, a autoridade da hierarquia eclesiástica.

Em consonância com essa crítica, John Wyclif defendia que a salvação eterna era conseguida principalmente através da fé, criticando um posicionamento do clero católico de que essa mesma salvação poderia ser conseguida através das “boas obras”. Essa postura de Wyclif levou-a a afirmar que para os sacramentos da Igreja funcionarem era necessária, além da intermediação clerical, a fé do crente.

Wycliff criticava a doutrina da transubstanciação, através da qual, pelas palavras de um sacerdote, durante a eucaristia, o pão e o vinho transformavam-se no corpo e no sangue de Jesus Cristo. O teólogo inglês partiu de um posicionamento realista para poder realizar essa crítica doutrinária ao catolicismo, afirmando que a transubstanciação era decorrente de fantasias infiéis e infundadas, levando ainda à adoração idólatra dos alimentos.

Outra influência deixada por Wyclif aos grandes nomes da Reforma Protestante, como Lutero e João Calvino, foi a de que a autoridade das Escrituras era superior à tradição no que se refere à fé e à vida. Esse ideia o levou a criticar uma doutrina que se desenvolvia na prática dentro da Igreja Católica, a de que a palavra do papa era a palavra de Deus. Além disso, Wyclif defendia também a crença na predestinação, antecipando os dois grandes vultos do protestantismo.

Como em todas as demais críticas doutrinárias à Igreja Católica no final da Idade Média e início da Idade Moderna, as práticas defendidas por Wyclif tiveram ressonância na organização social do período. O teólogo inglês era defensor da devolução dos bens eclesiásticos ao poder temporal, nomeadamente ao soberano, o que lhe garantiu uma aproximação com o monarca inglês Eduardo III.

Entretanto, as práticas de Wyclif iam ainda mais abaixo na estrutura social do período. Seguindo sua interpretação de que a salvação ocorria pela fé e de que a autoridade religiosa residia nas escrituras, Wyclif decidiu traduzir a bíblia para o inglês. Essa ação iniciou uma nova prática de evangelização, ensinando camponeses e as camadas populares a ler para poderem conhecer e interpretar as escrituras. Essa ação de evangelização foi realizada por um grupo de seguidores de Wyclif, conhecidos como lolardos ou clérigos pobres.

Paralelo ao início desse movimento, estouraram na Inglaterra as revoltas camponesas em 1381, que ganharam o apoio de Wyclif. Porém, tal apoio o afastou da nobreza que era alvo da ação dos camponeses. Mesmo com a declaração do apoio à revolta, não foi preso, em razão de seu prestígio. Porém, foi obrigado a se retirar para uma paróquia em Leicestershire, onde morreu em 1384.

Wyclif influenciou posteriormente outros críticos da Igreja católica como Jan Hus, Martinho Lutero e João Calvino. Suas obras foram proibidas, sendo suas ideias condenadas pelo Concílio de Constança, em 1415.

Por: Tales Pinto

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