As invasões normandas, realizadas pelos vikings a partir do século IX, buscavam saquear riquezas na região do Reino dos Francos.
As invasões normandas foram incursões vikings realizadas no Norte da Europa (Frísia e Normandia), região que corresponde atualmente à França, Bélgica e Países Baixos, onde estavam instalados os povos francos. Iniciadas no século IX, essas invasões resultaram no estabelecimento de um reino normando na Normandia, sob a liderança de Rollo, por volta de 911.
Quem eram os normandos?
Primeiramente, os normandos eram povos vikings. Apesar de os francos do século IX não distinguirem nacionalidades, os historiadores atualmente sabem que as invasões normandas realizadas nesse período eram formadas, em geral, por dinamarqueses. Havia também pessoas de outras origens nas expedições, porém, esse foi o principal grupo a invadir o Reino dos Francos.
Os estudos históricos ainda indicam que, além do território dos francos, os dinamarqueses focavam também o reino dos saxões, na Britânia, enquanto os suecos interessavam-se pelo Leste Europeu, e os noruegueses exploravam as regiões da Escócia, da Irlanda e de outras ilhas oceânicas, como a Islândia e a Groenlândia, por exemplo.
O nome “normando” refere-se à forma como os francos nomeavam os escandinavos vikings, chamados de nortmanni, que significa “homens do norte”.
Qual era o objetivo dos normandos?
O objetivo dos normandos era o saque. As expedições vikings realizadas na região procuravam formas rápidas e fáceis de se obter grandes somas de riqueza. De acordo com o historiador Albert D’Haenens, as intenções dos vikings eram claras:
Qualquer que fosse seu objetivo – uma abadia, uma cidade ou toda uma região –, os normandos desembarcavam para conseguir ouro e prata, ou o que podia indiretamente equivaler-lhes, escravos, gado, uma ou outra peça de butim, ou o enfeudamento de uma região costeira que tivesse certo tráfico comercial|1|.
Como eram as invasões?
Segundo os estudiosos, as expedições vikings eram compostas, em média, de 300 a 400 homens. O transporte da Escandinávia em direção ao reino dos francos era realizado em embarcações a vela ou a remo, que suportavam até 50 homens. Assim, os vikings navegavam a regiões julgadas desprotegidas, atacavam-nas levando tudo o que podiam e incendiavam o local, matando todos que estivessem em seu caminho.
As incursões normandas, a princípio, concentravam-se contra cidades litorâneas da Frísia e, depois, da Normandia. À medida que essas cidades foram empobrecendo em decorrência dos ataques múltiplos, os escandinavos passaram a adentrar essas regiões a partir dos rios navegáveis. As cidades, vilas e abadias próximas a esses rios tornaram-se alvos.
Posteriormente, os normandos passaram a utilizar cavalos e, pela rede de estradas da região, conseguiram ampliar sua área de influência e atacar locais distantes do litoral e dos rios. Os historiadores também afirmam que os normandos instalavam acampamentos em determinados lugares de forma a juntar forças para atacar grandes cidades, como Paris.
O grande diferencial dos escandinavos, segundo Albert D’Haenens, era o efeito surpresa. Ao atacar um local que não os aguardava, o saque acontecia mais rapidamente. A velocidade do ataque e da retirada dos escandinavos garantia a eles uma vantagem, pois os inimigos não conseguiam armar uma resistência em tempo hábil. As armas vikings eram, em geral, produzidas na Frísia e, portanto, não havia superioridade entre os armamentos deles e dos francos.
Primeira fase: o pânico
O primeiro momento das invasões normandas caracterizou-se por uma grande passividade dos francos. Pouquíssimas formas de resistência foram realizadas, e as ações dos francos eram, em geral, subornar os dinamarqueses a partir do danegeld (tributo dinamarquês) ou apenas fugir com tudo que fosse possível levar.
Em determinados locais atacados pelos normandos, as autoridades estabelecidas mobilizavam um grande esforço para arrecadar metais preciosos. O objetivo dessa arrecadação era pagar os normandos para se retirar e atacar outro local. Essa medida era apenas paliativa, pois, poucos meses depois, os dinamarqueses retornavam com novos ataques.
Esse suborno era chamado de danegeld, que significa literalmente “tributo dinamarquês”. D’Haenens afirma que esse tributo era levantado, principalmente, à custa dos recursos da Igreja. Os registros apontam, pelo menos, 39 mil libras (cerca de 18 mil quilos) de ouro entregues aos dinamarqueses. Esse número pode representar apenas 1/3 do que foi pago aos invasores, uma vez que os registros podiam ser falhos.
Registros de fuga contam, principalmente, o principal alvo dos dinamarqueses: os abades. As abadias atraíam os dinamarqueses pela pouca proteção e pela grande quantidade de riqueza acumulada. Ao saber de uma invasão viking, os religiosos carregavam toda a riqueza possível e relíquias sagradas e mudavam-se para regiões distantes, retornando somente um ano depois. Além disso, nas terras invadidas, havia pouca mobilização popular e da nobreza para defendê-los dos normandos.
Segunda fase: a resistência
A resistência franca formou-se na segunda metade do século IX. À medida que os ataques se tornavam sistêmicos, acontecia a mobilização com o objetivo de expulsar os invasores. As cidades passaram a contar com muralhas e torres de vigilância. Essas torres objetivavam avistar os bandos normandos a distância. Isso era importante, pois o elemento principal do ataque normando era o efeito surpresa.
As muralhas foram outro importante recurso de defesa, uma vez que os normandos não carregavam armas de cerco, pois seriam muito pesadas. Assim, qualquer arma desse tipo utilizada contra os francos era construída no local da invasão, o que a tornava muito ineficiente. O desenvolvimento de defesas pelos francos, portanto, enfraqueceu o empreendimento normando. Além disso, os dinamarqueses evitavam qualquer confronto que resultasse em grande mortalidade.
No século X, as invasões normandas tornaram-se cada vez mais raras. O grande destaque desse período foi o estabelecimento de um reino concedido aos escandinavos pelos francos na região da Normandia, em 911.
|1| D’HAENENS, Albert. As Invasões Normandas: Uma catástrofe? São Paulo: Perspectiva, 1997, p.34.
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