As invasões bárbaras, também chamadas de invasões germânicas, foram ataques realizados pelos povos germânicos em terras romanas a partir do século III d.C.
As invasões bárbaras, ou invasões germânicas, são a forma como conhecemos os ataques que aconteceram em terras romanas, sobretudo no Império Romano do Ocidente, a partir do século III d.C. Essas invasões foram realizadas pelos germânicos, povos que habitavam terras ao norte dos rios Reno e Danúbio. Esses povos contribuíram para a decadência romana no século V.
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Resumo sobre as invasões bárbaras
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As invasões bárbaras (ou germânicas) foram conquistas territoriais que os povos germânicos passaram a realizar nas terras romanas a partir do século III d.C.
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Os germânicos eram povos que habitavam as terras ao norte dos rios Reno e Danúbio. Esses territórios faziam parte da Germania.
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Os germânicos migravam porque buscavam melhores terras e climas e porque fugiam de outros povos mais poderosos.
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Roma foi saqueada por visigodos e vândalos em 410 e 445.
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O último imperador de Roma foi destronado pelos hérulos em 476.
Contexto das invasões bárbaras
Quando abordamos as invasões bárbaras, estamos falando de um assunto que se relaciona com o contexto de decadência do Império Romano do Ocidente e da fase em que as terras romanas começaram a ser invadidas por uma série de povos que habitavam territórios além das fronteiras de Roma. Em sua maioria, esses povos eram os germânicos, oriundos de uma região conhecida na Antiguidade como Germania.
Eles habitavam áreas além das fronteiras romanas, conhecidas como limes, terras que ficavam depois dos rios Reno e Danúbio. É importante considerar que quando falamos de germânicos, não estamos falando de um povo, mas de dezenas de diferentes povos que migravam, e o sentido dessa migração era o interior das terras romanas.
As invasões bárbaras, como eram conhecidas, são atualmente nomeadas pelos historiadores como invasões germânicas, principalmente pelo juízo de valor que existe na palavra “bárbaro”, termo de origem grega que era usado para se referir a povos que não tinham a mesma cultura dos gregos antigos.
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Videoaula sobre a crise do Império Romano
Causas das invasões bárbaras
A expansão romana sobre o norte da Europa levou a uma série de conflitos dos romanos com os germânicos pelo controle das terras. Tanto o Reno quanto o Danúbio se estabeleceram como fronteiras naturais que separavam as terras romanas das terras germânicas. Entretanto, isso começou a mudar a partir do século III d.C.
A partir desse século, esses povos começaram a migrar, o que colocou grande pressão sobre as fronteiras romanas. Os historiadores debatem os motivos que explicam as migrações germânicas. Acredita-se que a procura por climas mais amenos e terras mais férteis teriam sido as razões para que isso acontecesse.
Outro fator fundamental que nos ajuda a entender essas migrações é a chegada dos hunos, povo da Ásia Central. A migração dos hunos forçou a fuga de uma série de outros povos que temiam aqueles. Isso criou um efeito dominó sobre a Europa Ocidental, fazendo com que diversas migrações acontecessem.
O historiador Franco Hilário Júnior aponta que cada povo germânico tinha de 50 mil a 80 mil habitantes, em média.|1| Assim, a migração de um povo colocou todo esse contingente de pessoas em um fluxo de movimento. A pressão dos germânicos sobre as fronteiras romanas aconteceu exatamente no momento em que a porção ocidental do Império Romano estava em decadência.
Isso fez com que o número de germânicos assimilados aumentasse consideravelmente. Esses povos recebiam terras dentro do Império Romano, mas em regiões de fronteira. Em troca, eles tinham como papel garantir a proteção do limes.
Ondas de invasões bárbaras
Em geral, os historiadores apontam para o fato de que a partir do terceiro século até o ano 500, a primeira onda de invasões aconteceu. O historiador Jacques Le Goff, por exemplo, afirma que em 276, alamanos, francos e outros povos germânicos haviam invadido a Gália, a Espanha e o norte da Itália, promovendo saques por onde passavam.|2|
A decadência romana se acentuou no século V, e, em 410, a cidade de Roma foi invadida e saqueada pelos visigodos, povo liderado por Alarico. Em 455, Roma foi novamente invadida e saqueada. Desta vez, os responsáveis foram os vândalos, povo liderado por Genserico. Visigodos e vândalos passaram por diversas terras romanas até que se estabeleceram na Península Ibérica e no norte da África, respectivamente.
Outros povos ocuparam a Europa Continental, como os francos, na Gália; os alamanos, na Europa Central; os suevos, em Portugal; e os ostrogodos, na Península Itálica. Nas ilhas britânicas, a ocupação foi realizada por jutos, anglos e saxões, entre os anos de 441 e 443. Os hunos, povo que causava temor em germânicos e romanos, assolaram parte da Europa Ocidental, mas se dispersaram depois que o líder Átila morreu, em 453.
Os historiadores estabeleceram como marco para o fim do Império Romano e da Idade Antiga o destronamento de Rômulo Augusto, último imperador romano do Ocidente. Esse imperador foi destronado por Odoacro, líder dos hérulos, também um povo germânico. Depois do destronamento de Rômulo, as insígnias do imperador romano foram enviadas para Constantinopla.
Consequências das invasões germânicas
As terras do Império Romano do Ocidente foram ocupadas por diversos povos germânicos que estabeleceram diferentes reinos na Europa. A fusão das culturas romana e germânica deu forma à cultura europeia durante a Idade Média. Entre as principais consequências das invasões germânicas e do fim do Império Romano, destacam-se:
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a formação dos reinos germânicos;
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a fusão das culturas germânica e romana;
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a ruralização da Europa;
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a diminuição populacional;
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o processo de formação do feudalismo;
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o enfraquecimento do comércio.
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Quem eram os germânicos?
Como mencionado, os germânicos eram povos que habitavam áreas ao norte das fronteiras romanas na Europa Continental. Esses povos ocupavam a Germania, território que ficava nas terras das atuais Alemanha, Polônia, Países Baixos e Bélgica, parte da Escandinávia e parte dos países bálticos. A presença romana naquela região fez com que esses povos tivessem contato frequente com os romanos, o que incluía laços comerciais.
Os germânicos habitavam territórios ao norte de dois rios importantes: o Reno e o Danúbio. Esses rios demarcavam o limite do avanço romano. A nomenclatura que receberam foi atribuída por Júlio César, importante militar romano do período republicano. Esse termo foi usado por ele para diferenciar os povos cimbros e suevos dos povos celtas, e o nome acabou se popularizando.
Como mencionado, havia uma variedade gigantesca de povos germânicos. Entre eles, havia:
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alamanos;
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alanos;
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visigodos;
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ostrogodos;
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suevos;
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vândalos;
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francos;
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saxões;
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jutos;
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anglos;
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lombardos;
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gépidas.
Em sua maioria, os germânicos eram povos seminômades, isto é, que se mudavam de local de tempos em tempos e viviam do cultivo agrícola e da criação de animais. Como citado, o comércio também era uma prática realizada pelos germânicos, que faziam transações até mesmo com os romanos. Os germânicos se organizavam de maneira tribal, e seu líder era, normalmente, o guerreiro mais poderoso.
Os romanos, em geral, tinham visões preconceituosas acerca dos povos germânicos e de outros povos invasores, como os hunos. Um exemplo é esse relato de Amiano Marcelino, um historiador e militar romano do século IV. Em seu relato, ele descreve os alanos:|3|
Quase todos os alanos são altos e formosos, com os cabelos quase louros, um olhar terrível e perturbador, ligeiros e velozes no uso das armas. Em tudo são semelhantes aos hunos, mas na maneira de viver e nos costumes, menos selvagens […].
Assim como para os homens sossegados e plácidos o repouso é agradável, assim eles encontram prazer no perigo e na guerra. É considerado feliz aquele que sacrificou a sua vida na batalha, enquanto que aqueles que envelheceram e deixaram o mundo por uma morte fortuita atacam com terríveis censuras de degenerados e cobardes; e não existe nada de que mais se orgulhem do que matar um homem, qualquer que ele seja […].
Notas
|1| JUNIOR, Hilário Franco. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006, p. 20.
|2| LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente medieval. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 19.
|3| PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média: textos e testemunhas. São Paulo: Editora UNESP, 2000, p. 31-32.