Geração Beat

A Geração Beat teve uma importância fundamental no cenário cultural americano após a Segunda Guerra Mundial.

Imagem de capa da obra “On the road”, escrita por Jack Kerouac e publicada no Brasil pela editora L&PM, com tradução de Eduardo Bueno, em 2004

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), evento que legou à humanidade um dos cenários mais catastróficos já vistos, teve-se início, sobretudo nos Estados Unidos da América, uma onda de otimismo consumista, uma fase de crescimento econômico avassalador, bem como a expansão e o domínio da cultura estadunidense em praticamente todo o mundo ocidental. Nesse contexto de euforia, que alguns autores chamaram de “era dos eletrodomésticos” (já que eles eram consumidos em grande quantidade), uma geração de jovens intelectuais rebeldes tornou-se uma das maiores referências para a contracultura que apareceu nas décadas de 1960 e 1970. Trata-se da Geração Beat (Beat Generation, em inglês).

A expressão “geração beat”, segundo um de seus membros mais destacados, Allen Ginsberg, apareceu em uma conversa entre dois outros representantes, Jack Kerouac e John Clellon Holmes, em 1948. Kerouac e Holmes discutiam o termo gerações ou a história das gerações de jovens, e Kerouc destacou que toda geração era uma “beat generation”, isto é, uma “geração perdida/batida/malfadada”. A expressão passou a vigorar nos círculos desses jovens escritores a partir do início dos anos 1950. Assim, o uso do termo “beat” tornou frequente-se e sua polissemia (múltiplos significados) também. Um jovem beat poderia ser, a um só tempo, um marginal (batido, no sentido de sujo ou escorraçado) e um amante do som do Jazz, por exemplo, já que beat também significa “batida” (ritmo musical).

A quase totalidade dos membros da Geração Beat gostava do som do Jazz, sobretudo o Jazz Bebop, caracterizado por ser exclusivamente instrumental e muito experimental. Entre os membros principais estavam: Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Peter Orlovsky, Lafcadio Orlovsky, Neal Cassady, William Burroughs, Gregory Corso e Gary Snyder. Além do gosto pelo Jazz, o que também caracterizava os beats era o estudo compulsivo de literatura, o estilo de vida precário, realmente marginal, e as variadas experiências místico-religiosas e sexuais.

Entre as referências dos beats, além da literatura clássica, estavam os poetas malditos, como Baudelaire e Rimbaud, que também eram notórios usuários de drogas e com grande interesse em religião. Aos poucos, os beats foram construindo o próprio mito de sua geração, que se espalhou e contaminou as gerações seguintes, tanto no terreno da literatura quanto na música e em outras artes.

Entre as obras principais produzidas por eles, estão: “Pé na estrada”, de Jack Kerouac; “Uivo”, de Allen Ginsberg, e “Almoço Nu”, de William Burroughs. A seguir apresentamos um trecho de “Uivo”, que ilustra o que foi essa geração:

Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa, hipsters com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado na maquinaria da noite […]”. [1]

NOTAS

[1] GINSBERG, Allen. Uivo. Kaddish e outros poemas (trad. Claudio Willer). Porto Alegre: Rio Grande do Sul, 2006. p.25.

Por: Cláudio Fernandes

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