A festa do Divino Espírito Santo marca uma das mais profundas influências da colonização portuguesa em nossa História. No ano de 1323, a rainha portuguesa D. Isabel resolveu organizar uma festa que rememorasse o episódio bíblico do Domingo de Pentecostes. A partir de então, se estabeleceu uma que hoje vive em algumas cidades interioranas da região Sudeste e Centro-Oeste.
Há tempos essa festa, que hoje representa o patrimônio histórico imaterial de algumas regiões, mobilizava uma grande parcela das populações. Antes de se estabelecer no Brasil, essa festa religiosa tomou espaço nas ilhas de Açores no início do processo de expansão marítima portuguesa. No período do Pentecostes, um pouco antes da Páscoa, a população açoriana realizava grandes banquetes públicos.
No período colonial, a festa do Divino Espírito Santo contava com a coroação simbólica de um imperador e banquetes públicos. Para realizar o ponto alto da festa, diversos grupos percorriam fazendas recolhendo doações e esmolas para os preparativos do banquete. Muitas famílias tradicionais disputavam entre si maior destaque na festa, através da quantidade de dinheiro ou recursos doados para o evento.
Esse tipo de rixa simbólica chegou a inviabilizar o próprio acontecimento da festividade. No início do século XIX, o vigário do Rio de Janeiro tomou posse das doações feitas para realização de um leilão convertido em favor das populações mais carentes. A disputa na participação da festa, na grande maioria das vezes, envolvia o privilégio de representar uma das personagens do festejo.
Entre diversos papéis a serem representados, havia o rei, o capitão da guarda, o alferes da bandeira e o pajem do estoque (uma espécie de tesoureiro). Antes da festa, eram realizadas as chamadas folias, quando os devotos alegravam a população com dança e música em troca de esmolas. As irmandades responsáveis por essas folias eram todas reunidas durante o banquete público, também conhecido como o “jantar para os pobres”.
A participação dessas irmandades contava com a presença de indivíduos de diferentes classes sociais. As chamadas irmandades de pretos e mulatos eram bastante recorrentes durante a festa do Divino Espírito Santo. Essa mobilização das populações subalternas chegava a despertar o receio das autoridades oficiais. Em certas ocasiões, saíam boatos de que os negros aproveitariam da festa para libertarem presos ou integrantes da irmandade.
Com o passar do tempo, diversos episódios de conflito entre os devotos da folia e as autoridades aconteceram. Na grande parte das vezes, os oficias temiam que a organização da folia resultasse em algum tipo de desordem ou motim popular. Durante a festividade, havia muita música e a coroação do rei era apontada como o ponto alto de todo o período de festa.
A partir do século XIX, a festa do Divino Espírito Santo perdeu seu espaço nos grandes espaços urbanos da época. Os projetos de modernização e a disseminação dos projetos civilizatórios criticavam a permissão de festas que integravam a população de maneira livre. Hoje em dia, as festas se concentram em poucas cidades históricas como Paraty (RJ) e Pirenópolis (GO).