Economia Política

A Economia Política pode ser definida como a ciência que procura explicar a relação entre o processo econômico (produção, consumo, etc.) e a vida em sociedade.

Adam Smith foi um dos pioneiros na sistematização da economia política
  • O que é economia política?

Por “Economia Política” entende-se a disciplina, ou ciência, que, durante os séculos XVIII e XIX, desenvolveu-se com o objetivo de compreender e explicar os processos de produção, circulação e consumo de bens materiais, bem como das relações humanas que os permeiam. Isso implica a análise de realidades, como a divisão social do trabalho, o direito à propriedade privada, a dinâmica do mercado, o advento da Revolução Industrial etc. Foi da Economia Política que veio a se estruturar, no século XX, a moderna Ciência Econômica, ou Economia Pura.

  • Origem do conceito de economia política

A expressão “Economia Política” foi cunhada em 1615 pelo francês Antoine Montchrétien e apareceu pela primeira vez em seu livro Traité de l'Economie Politique (Tratado de Economia Política). Montchrétien, inspirado em autores ligados ao pensamento político absolutista, com Jean Bodin, foi um dos primeiros teóricos a ressaltar a interpenetração entre política e economia, ou entre organização social, o Estado, e a atividade econômica.

  • Economia política e suas ramificações

Ainda no século XVII, autores como o britânico John Locke deram prosseguimento às reflexões sobre essa interação entre atividade econômica e a política, desde um ponto de vista filosófico, procurando definir o caráter natural do direito à vida, à liberdade e à propriedade; até o papel que o Estado desempenharia: proteger tais direitos. Locke foi sucedido pela tradição dos chamados economistas clássicos, ou os clássicos do liberalismo britânico, dos séculos XVIII e XIX. Adam Smith, com o seu famoso A Riqueza das Nações, figura entre os principais. Outros nomes importantes são os de David Ricardo, Thomas Malthus e Turgot.

Como ressaltam os autores Marcelo Braz e José Paulo Netto, os clássicos da Economia Política:

[…] não desejavam, com seus estudos, constituir simplesmente uma disciplina científica entre outras: almejavam compreender o modo de funcionamento da sociedade que estava nascendo das entranhas do mundo feudal; por isso, nas suas mãos, a Economia Política se erguia como fundante de uma teoria social, um elemento articulado de ideias que buscava oferecer uma visão do conjunto da vida social. E mais: os clássicos não se colocavam como “cientistas puros”, mas tinham claros objetivos de intervenção política e social. [1]

Entre os principais revisores desses clássicos da Economia Política, estão nomes como o do liberal John Stuart Mill, Karl Marx – fundador do “socialismo científico”, o anarquista Pierre-Joseph Prodhon e o teórico austríaco da utilidade marginal ou da teoria da subjetiva do valor, Carl Menger. A despeito das divergências teóricas, todos esses autores estiveram envoltos em problemas como o valor que se atribui a determinada mercadoria e a relação desse valor com o preço da mercadoria e com o trabalho empregado para que ela chegue ao estágio de “produto”.

Esse tipo de problemática pode ser mais bem entendida quando começamos a fazer perguntas sobre coisas do nosso cotidiano, como: Por que uma mercadoria como um telefone celular é mais cara que outra, como um chiclete? Por que o preço de um livro velho autografado pelo autor é mais caro que um exemplar novo, do mesmo livro, mas sem o autógrafo? Tudo isso está relacionado com a teoria do valor, um dos pilares da Economia Política.

  • Teoria do valor e divisão do trabalho

Adam Smith e David Ricardo foram os grandes sistematizadores da relação entre valor e trabalho. Para esses autores, a divisão do trabalho no interior das manufaturas, depois em fábricas e indústrias, foi fundamental para o aumento da produção de bens materiais e para a geração de riqueza, de forma geral, já que o consumo dessas mercadorias produzidas era estimulado pelo recebimento do salário por parte do trabalhador.

Essa dinâmica do mercado foi analisada e criticada por Karl Marx na obra O Capital, mas também por autores de outras escolas, que procuraram revisar essa relação e distinguir nela algo para além da crítica da exploração da mão de obra, da alienação etc. Um desses autores foi o economista austríaco Ludwig von Mises, que, em seu livro Ação Humana – um tratado de economia, disse o seguinte a respeito do tratamento que os clássicos da Economia Política deram à teoria do valor e relação com o trabalho:

[…] A teoria geral da escolha e preferência vai muito além dos limites que cingem o campo dos problemas econômicos estudados pelos economistas, de Cantillon, Hume e Adam Smith até John Stuart Mill. É muito mais do que simplesmente uma teoria do “aspecto econômico” do esforço humano e da luta para a melhoria de seu bem-estar material. É a ciência de todo o tipo de ação humana. Toda decisão humana representa uma escolha. Ao fazer sua escolha, o homem escolhe não apenas entre diversos bens materiais e serviços. [2]

Para Mises, mais fundamental que uma ciência econômica era uma “ciência da ação humana”, que ele chamou de “praxeologia”. Qualquer cálculo econômico-político, segundo esse ponto de vista, deveria levar em conta as necessidades e os interesses do “agente homem”, isto é, do indivíduo, que é a célula do sistema econômico.

NOTAS

[1] BRAZ, Marcelo; NETTO, José Paulo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2006. p. 17.

[2] MISES, Ludwig von. Ação Humana – um tratado de economia. Trad. Donald Stewart Jr. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010. p. 23.

Por: Cláudio Fernandes

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