Dia de Santo Estêvão: uma curiosa festa medieval

Santo Estêvão era relembrado com uma festa marcada pelos excessos e alegria

Atualmente, são fartos os relatos de historiadores que se preocupam em reverter a imagem tradicional que a Idade Média ganhou ao longo dos séculos. Não raro, são vários os exemplos que apontam o medievo como uma época marcada pela busca de conhecimento, o estabelecimento de inovações ou a criação de importantes tratados filosóficos. No entanto, vale a pena ressaltar que são poucos os exemplos preocupados em mostrar essa vivacidade do período medieval através de situações de natureza popular.

Para expor esse outro lado obscurecido, podemos ter nas festas uma boa oportunidade de fortalecer esse novo olhar. Como bem sabemos, os trabalhadores do medievo não tiravam algum tipo de férias regulares ou tinham feriados estabelecidos pela força da lei, como nos dias atuais. Contudo, isso não era empecilho para que várias festividades e períodos de diversão acontecessem ao longo de todo um ano. Visando exemplificar os tons dessa festa, podemos aqui falar sobre o curioso Dia de Santo Estêvão.

Santo Estêvão foi conhecido como um dos primeiros líderes da igreja após a morte de Jesus Cristo. Conhecido como integrante de um grupo de pregadores mais radicais, esse cristão acabou sendo duramente perseguido pelas autoridades judaicas da época. Acusado do crime de blasfêmia, foi preso e condenado ao apedrejamento. Anos mais tarde, já na condição de santo, sua festa passou a marcar as festas do solstício de inverno, no fim de dezembro e começo de janeiro.

No período medieval, a festa dedicada a Santo Estêvão era marcada por uma série de “desordens” que envolviam toda a comunidade. Os noviços e coroinhas passavam a assumir as funções que eram normalmente exercidas pelos padres. Nessa realidade invertida, serviam o vinho da missa aos convidados, tomavam a liberdade de contar piadas, tocavam os sinos freneticamente e dançavam pelo interior das igrejas.

Além disso, era realizada uma missa que tinha seu início com a escolha de um asno que deveria ser adornado com tecidos nobres. Durante cada momento da liturgia, os participantes da festa acompanhavam os momentos da celebração emitindo o urro de um asno em lugar do tradicional “amém”. Durante essa situação cômica, as qualidades do animal eram exaltadas e uma vida longa e farta lhe eram desejadas, como se o pobre animal fosse uma elevada autoridade.

Nessas manifestações, temos a presença de uma forte tradição festiva em que as hierarquias comumente reafirmadas no cotidiano perdiam lugar por situações invertidas. Para alguns historiadores, essa e outras festas eram um momento de suspensão das formalidades e hierarquias que regulavam o cotidiano. Sendo assim, o Dia de Santo Estêvão aparece como uma situação de festa bastante próxima do carnaval, que em suas tradições fundamentais também valoriza o riso e as inversões da normalidade.


Por Rainer Gonçalves Sousa
Colaborador Brasil Escola
Graduado em História pela Universidade Federal de Goiás - UFG
Mestre em História pela Universidade Federal de Goiás - UFG

Por: Rainer Sousa

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