Cristianismo japonês

O cristianismo japonês é marcado por adaptações oriundas da perseguição imposta aos seus praticantes.

Quando falamos sobre a expansão marítimo-comercial portuguesa, sempre pensamos nos territórios que os lusitanos conquistaram nos continentes americano e asiático. Entretanto, por volta de 1543, os portugueses também se aventuraram até o extremo Oriente ao alcançarem o arquipélago japonês. Apesar de uma curta estada, os portugueses deixaram importantes marcas na cultura daquele povo, principalmente no que se refere ao âmbito religioso.

Como bem sabemos, o expansionismo marítimo português tinha por objetivos estabelecer a conquista de novas rotas comerciais e divulgar o cristianismo nas terras descobertas. Por volta de 1580, o território japonês contava com 150 mil cristãos e mais de 200 igrejas. A rápida adesão se dava pelo fato de alguns líderes políticos abrirem espaço para o trabalho missionário e enxergarem na cristianização uma forma de se atingir a unidade em um Japão politicamente desunido.


Contudo, por volta de 1587, o governo japonês resolveu se voltar contra os cristãos e missionários que se espalhavam pelo território. Para alguns historiadores, a conversão representava uma séria ameaça ao poder tendo em vista que importantes famílias tradicionais se voltaram para o cristianismo. Mediante a repressão, os japoneses empreenderam formas de resistência que deram origem aos chamados kakure kirishtan (cristãos ocultos).

Nesse momento, a falta de diálogo entre os clérigos que organizavam as reuniões secretas dos kakure kirishtan impôs uma série de mudanças e adaptações. As orações eram proferidas em uma mistura peculiar de japonês, latim e português. Além disso, a hóstia e o vinho tradicionalmente usados na execução das liturgias foram substituídos por arroz, sashimi e saquê. No século seguinte, a perseguição se tornou ainda mais rígida com a instalação de uma verdadeira inquisição contra os cristãos.

Alguns inquisidores realizavam registros de toda a população que se manifestasse como praticante do budismo. Dessa forma, os não declarados se transformavam em alvo preferencial da repressão. Em outros casos havia a tortura psicológica, onde alguns inquisidores instigavam um suspeito à confissão ao esmagar uma cruz ou imagem de Nossa Senhora. Mediante a reação, os perseguidores descobriam as famílias que adotavam ao cristianismo secretamente.

Apesar da forte repressão, os kakure kirishtan conseguiram sobreviver ao longo dos séculos. No século XIX, tempo de reabertura do Japão ao mundo Ocidental, um grupo de missionários franceses identificou cerca de 60 mil japoneses que praticavam o cristianismo secretamente. No século posterior, observamos que os kirishtan tiveram grande importância para que os japoneses migrados para o Brasil se convertessem ao cristianismo.

Por: Rainer Sousa

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