Crise de 1929

A Crise de 1929 foi uma crise econômica severa que afetou o sistema capitalista global no século XX. A quebra da Bolsa de Nova York foi o estopim da crise.

Multidão em frente a uma agência do American Union Bank. A falência de bancos foi uma das consequências da Crise de 1929.

A Crise de 1929 foi o colapso econômico mais severo do século XX, desencadeado pela quebra da Bolsa de Nova York em outubro daquele ano, marcando o início da Grande Depressão. Esse evento ocorreu em um contexto de especulação financeira desenfreada, crédito excessivo e desequilíbrios no crescimento industrial, sem uma distribuição equitativa da riqueza. Entre os principais motivos da crise, estavam a especulação no mercado de ações e as políticas monetárias que facilitaram o aumento de investimentos insustentáveis.

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Resumo sobre a Crise de 1929

  • A Crise de 1929 foi o colapso econômico mais severo que ocorreu no século XX.
  • A quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em outubro de 1929, foi o estopim da crise e desencadeou a Grande Depressão.
  • A crise provocou a falência de bancos, empresas, aumento do desemprego global, o colapso da produção industrial e deu início a uma profunda recessão econômica nos Estados Unidos e no mundo.
  • As principais causas da crise foram a especulação desenfreada no mercado de ações, o excesso de crédito fácil promovido pelo governo americano e o descontrole do sistema financeiro.
  • No Brasil, a Crise de 1929 provocou a queda dos preços do café, principal produto de exportação, acelerando o fim da política do café com leite e levando à ascensão de Getúlio Vargas.
  • O New Deal foi um conjunto de políticas intervencionistas que objetivavam combater a Grande Depressão com criação de empregos, obras públicas e regulação do mercado financeiro.
  • A recuperação gradual da economia só ocorreu após a Segunda Guerra Mundial.

Videoaula sobre a Crise de 1929

O que foi a Crise de 1929?

A Crise de 1929, também conhecida como a Grande Depressão, foi o colapso econômico mais profundo do século XX. Teve origem nos Estados Unidos e se espalhou para o restante do mundo.

→ Divergências históricas sobre a Crise de 1929

O tema da Crise de 1929 e da Grande Depressão requer uma análise cuidadosa de diferentes perspectivas historiográficas, pois os historiadores interpretam de formas variadas as causas e consequências desse evento marcante. As obras de Eric Hobsbawm|1| e Murray Rothbard|2| representam visões distintas sobre os acontecimentos, refletindo suas escolas de pensamento.

Enquanto Hobsbawm, que adota uma abordagem marxista, analisa o impacto do colapso do capitalismo global e seus desdobramentos sociais e políticos, Rothbard, com base na escola austríaca, foca nas intervenções governamentais como causa central do prolongamento da crise. Essas divergências historiográficas ressaltam a importância de um estudo comparativo para compreender plenamente a complexidade da Crise de 1929.

Para Hobsbawm, a crise representou o fracasso do capitalismo liberal, demonstrando a incapacidade desse sistema de sustentar o crescimento econômico global sem crises periódicas de grandes proporções. Ele vê a Crise de 1929 como um marco que abalou a ordem mundial, culminando em uma década de profundas mudanças políticas e sociais.

Por outro lado, Rothbard interpreta a crise de forma diferente. Para ele, o problema não foi intrínseco ao capitalismo, mas sim a consequência das políticas intervencionistas do governo americano, que, ao manipular a oferta monetária, gerou distorções no mercado que culminaram no crash (na quebra) da bolsa. Segundo Rothbard, a Crise de 1929 poderia ter sido menos grave e mais curta se o governo não tivesse interferido de forma tão agressiva, especialmente com medidas como o New Deal.

O gráfico representa a queda das ações na Bolsa de Valores de Nova Iorque no início da Crise de 1929.

Contexto histórico da Crise de 1929

O contexto histórico da crise envolve o cenário econômico do pós-Primeira Guerra Mundial e a prosperidade artificial da década de 1920. Para Hobsbawm, essa prosperidade era enganosa, sendo sustentada por práticas especulativas e uma desigualdade crescente, o que tornava o sistema capitalista vulnerável a colapsos. Ele destaca como a expansão industrial e tecnológica não foi acompanhada por uma distribuição equitativa de riqueza, gerando tensões sociais.

Entretanto, Rothbard aponta que a expansão do crédito e o papel do Federal Reserve teriam inflacionado a economia ao longo da década de 1920. Segundo ele, o aumento artificial da oferta monetária levou a investimentos insustentáveis, especialmente no mercado de ações, o que preparou o terreno para a crise. Em sua visão, a crise não foi resultado de uma falha do capitalismo, mas sim de intervenções estatais que distorceram o mercado.

Veja também: Quando aconteceu a primeira crise do capitalismo?

Quais foram os motivos da Crise de 1929?

Para Hobsbawm, os motivos da crise estão enraizados no próprio sistema capitalista, que se caracterizava por crises cíclicas de superprodução e subconsumo. Ele aponta que a especulação descontrolada no mercado financeiro, somada a uma falta de regulamentação adequada, criou uma bolha que estourou em 1929, levando à crise.

Rothbard, por outro lado, acredita que os motivos da crise foram essencialmente atribuíveis às políticas monetárias inflacionárias do Federal Reserve, que criaram um boom artificial. Ele argumenta que, ao invés de um laissez-faire puro (expressão que denota a livre atuação do mercado), o governo estava ativamente envolvido em distorcer a economia por meio da manipulação da moeda e do crédito, o que resultou no crash inevitável.

Quebra da Bolsa de Nova York

A quebra da Bolsa de Nova York, em outubro de 1929, foi o evento que marcou o início da Grande Depressão. Para Hobsbawm, a quebra foi um reflexo das fraquezas subjacentes da economia global, com a especulação exacerbada e o sistema financeiro sem regulamentação atuando como os principais catalisadores. A falência de bancos e empresas financeiras foi um sinal da crise mais ampla do capitalismo.

Rothbard, no entanto, vê a quebra como um ajuste inevitável após anos de políticas monetárias inflacionárias. Segundo ele, a especulação desenfreada foi facilitada pelo crédito fácil disponibilizado pelo governo e pelos bancos centrais. Rothbard considera que a quebra da bolsa não foi, em si, a causa da Grande Depressão, mas um sintoma da bolha inflacionária criada por anos de más políticas monetárias.

Linha do tempo da Crise de 1929

A linha do tempo da Crise de 1929 pode ser traçada desde o crash da bolsa, em outubro de 1929, até o início da recuperação, que só ocorreu com a eclosão da Segunda Guerra Mundial.

Hobsbawm aponta que a crise atravessou toda a década de 1930, com diferentes intensidades em várias regiões do mundo, até que a mobilização econômica para a guerra reverteu os efeitos da depressão. Rothbard, no entanto, destaca eventos específicos que, em sua visão, agravaram a crise, como as intervenções do governo de Hoover e, posteriormente, as políticas do New Deal de Roosevelt. Para ele, as ações governamentais prolongaram a crise ao inibir o ajuste natural do mercado.

Do ponto de vista cronológico, pode-se organizar a linha do tempo da crise da seguinte maneira:

→ Antes da Crise de 1929 (1920-1928)

  • Década de 1920 (roaring twenties): crescimento econômico acelerado nos EUA, alta confiança no mercado financeiro, aumento da produção industrial e expansão do crédito.
  • Bolha especulativa: os preços das ações na Bolsa de Valores de Nova York subiram rapidamente, criando uma bolha no mercado.

→ A Crise de 1929 propriamente dita

  • 24 de outubro de 1929 (quinta-feira negra): queda abrupta no valor das ações na Bolsa de Valores de Nova York, levando à venda em massa de ações por investidores em pânico.
  • 28 de outubro de 1929 (segunda-feira negra): outra grande queda no mercado, com uma perda ainda maior no valor das ações.
  • 29 de outubro de 1929 (terça-feira negra): o colapso total do mercado, com mais de 16 milhões de ações sendo vendidas, iniciando o crash da bolsa.

→ Consequências imediatas da Crise de 1929 (1929-1930)

  • Fechamento de empresas e bancos: com a queda das ações, muitas empresas faliram, e bancos começaram a fechar devido à falta de liquidez.
  • Desemprego em massa: a falência de empresas levou ao aumento drástico do desemprego, afetando milhões de trabalhadores.
  • Queda nos preços agrícolas: a demanda por produtos agrícolas caiu, afetando agricultores que já estavam em dificuldade.
  • Recessão global: a crise rapidamente se espalhou para outras economias, impactando o comércio internacional e levando muitos países a entrarem em recessão.
Crianças recebendo sopa na Austrália, em 1934. A Crise de 1929 teve início nos Estados Unidos, mas se espalhou pelo mundo.

→ Repercussões globais da Crise de 1929 (1931-1933)

  • Quebra de bancos e sistemas financeiros: muitos bancos nos EUA e na Europa faliram, levando à paralisação do crédito e à contração econômica global.
  • Revoltas sociais: a crise gerou descontentamento social, com protestos e greves em diversas partes do mundo, como nos EUA e na Europa.
  • Desvalorização das moedas: para tentar mitigar os efeitos da crise, diversos países desvalorizaram suas moedas, o que agravou a instabilidade econômica.

→ Política e economia (1933-1940)

  • 1933 (New Deal de Franklin D. Roosevelt): nos EUA, o presidente Franklin D. Roosevelt implementou o New Deal, um conjunto de políticas públicas para combater a crise. O New Deal incluiu programas de obras públicas, regulamentações financeiras e seguridade social.
  • Retomada econômica lenta: embora algumas melhorias tenham ocorrido após 1933, a recuperação total da economia global só veio com o início da Segunda Guerra Mundial (1939), que impulsionou a produção industrial e o emprego.

Quais foram as consequências da Crise de 1929?

As consequências da Crise de 1929 foram devastadoras, tanto no âmbito econômico quanto no social. Hobsbawm destaca que a crise contribuiu para o avanço de regimes autoritários, como o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália, além de fortalecer o comunismo na União Soviética. Ele vê a depressão como um catalisador de mudanças políticas drásticas, além de agravar a miséria e o desemprego em níveis globais.

Fila de desempregados representando o agravamento da miséria que afetou o mundo após a crise.

Para Rothbard, as consequências da crise foram exacerbadas pela interferência governamental, que impediu uma recuperação rápida. Ele critica as políticas intervencionistas de Roosevelt, que, em sua opinião, retardaram a volta do crescimento econômico. Em sua visão, a crise também teve o efeito negativo de aumentar o controle do governo sobre a economia, o que ele considera uma ameaça à liberdade de mercado.

Quais os efeitos da Crise de 1929 no Brasil?

A Crise de 1929 teve impactos profundos no Brasil, especialmente por sua dependência de exportações de café, que representavam a maior parte da economia nacional. Com o colapso dos preços internacionais do café após a quebra da Bolsa de Nova York, o país se viu em uma situação de crise econômica, com estoques acumulados e uma enorme redução nas receitas de exportação. Essa situação culminou no desgaste do governo de Washington Luís e na Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder

Para tentar conter os efeitos da crise, o governo adotou políticas de intervenção econômica, como a queima de estoques de café para controlar os preços e medidas protecionistas que buscavam reorientar a economia brasileira para a industrialização e o mercado interno.

Além disso, a Crise de 1929 acelerou transformações sociais e políticas no Brasil. O colapso das exportações de commodities revelou a fragilidade da economia agroexportadora, forçando uma reconfiguração da estrutura econômica e social. Sob a liderança de Vargas, o Brasil iniciou uma transição rumo à industrialização e ao fortalecimento do setor urbano.

A crise também deu início a uma maior centralização do poder nas mãos do governo federal, permitindo o desenvolvimento de uma política mais intervencionista e voltada para o mercado interno. Essas mudanças foram cruciais para o desenvolvimento de um novo modelo econômico, que favoreceu a diversificação da economia brasileira nas décadas subsequentes.

O New Deal

O New Deal, implementado por Franklin D. Roosevelt, é visto de forma extremamente distinta pelos dois autores. Hobsbawm considera o New Deal como uma resposta necessária às falhas do capitalismo ao criar uma rede de segurança social e estabilizar a economia por meio da intervenção estatal.

Rothbard, no entanto, critica ferozmente o New Deal, vendo-o como um conjunto de políticas que apenas prolongaram a crise ao interferir na capacidade do mercado de se ajustar naturalmente. Ele vê o New Deal como o início de um governo hiperativo, que, ao aumentar sua intervenção na economia, comprometeu as liberdades individuais e a eficiência do mercado.

Saiba mais: Como ficou a economia brasileira durante o governo de Vargas

Exercícios resolvidos sobre a Crise de 1929

1. Durante a década de 1920, os Estados Unidos passaram por um período de grande prosperidade econômica conhecido como “os loucos anos 20”. O crescimento industrial e o aumento do consumo foram impulsionados por uma expansão do crédito e uma confiança desmedida no mercado financeiro. Com base no contexto acima, pode-se afirmar que a principal causa da Crise de 1929 foi:

A) a falta de regulamentação no mercado financeiro e o aumento da especulação desenfreada.
B) o fim da Primeira Guerra Mundial, que destruiu as economias europeias e americanas.
C) o aumento da produção agrícola nos Estados Unidos, que superou a demanda mundial.
D) a implementação de políticas intervencionistas que reduziram o crescimento econômico global.
E) a falência das empresas industriais americanas, incapazes de se adaptarem à modernização tecnológica.

Resposta: A)

A principal causa da Crise de 1929 foi a especulação excessiva no mercado financeiro, com pouca regulamentação, o que criou uma bolha econômica. Quando essa bolha estourou, a quebra da bolsa gerou pânico financeiro e uma depressão econômica global. Alternativas como o aumento da produção agrícola (C) e o impacto da Primeira Guerra Mundial (B) são fatores indiretos, mas não as causas principais do colapso.

2. Após a Crise de 1929, Franklin D. Roosevelt foi eleito presidente dos Estados Unidos em 1932, com a missão de tirar o país da Grande Depressão. Sua principal resposta à crise foi a implementação do New Deal, um conjunto de políticas econômicas e sociais destinadas a restaurar a economia e combater o desemprego. Com base no contexto apresentado, qual foi o principal objetivo das políticas do New Deal?

A) Aumentar a presença do governo na economia e criar mecanismos de regulação financeira.
B) Reverter os efeitos da Primeira Guerra Mundial na economia americana e mundial.
C) Criar um sistema de livre mercado sem interferência governamental, fortalecendo o setor privado.
D) Estimular a produção agrícola para reverter a queda dos preços internacionais de commodities.
E) Reduzir o tamanho do governo para cortar despesas públicas e equilibrar o orçamento federal.

Resposta: A)

O New Deal foi caracterizado por um aumento significativo da intervenção do governo na economia, com o objetivo de regular o mercado financeiro, criar empregos e proteger os trabalhadores. A alternativa (C) está incorreta, pois o New Deal representou justamente o oposto: maior interferência governamental. A opção (B) relaciona-se à Primeira Guerra Mundial, mas não era o foco principal das políticas de Roosevelt.

Notas

|1| HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

|2| ROTHBARD, Murray N. A grande depressão americana / Murray N. Rothbard; Tradução de Pedro Sette-Câmara. - São Paulo: Instituto Ludwig von Mises. Brasil, 2012. 366р.

Fontes

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

ROTHBARD, Murray N. A grande depressão americana / Murray N. Rothbard; Tradução de Pedro Sette-Câmara. - São Paulo: Instituto Ludwig von Mises. Brasil, 2012. 366р.

Por: Tiago Soares Campos

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