O caudilhismo foi um modo de se fazer política de maneira, em grande parte, autoritária que surgiu após as guerras pela independência na América Latina.
Com o processo de independência da América Hispânica no século XIX, isto é, das regiões do continente americano que foram colonizadas pela coroa espanhola, um nova forma de organização política passou a fazer-se presente. A figura dos “caudilhos” (em espanhol, caudillos), líderes políticos a um só tempo carismáticos, demagogos e autoritários, tornou-se proeminente nesse cenário. Tal proeminência formou o fenômeno que historiadores e sociólogos têm denominado de caudilhismo.
Um dos principais elementos que possibilitaram o destaque dos caudilhos da América Hispânica foi o fato de a maior parte desses líderes ser constituída de militares ou de membros da elite econômica com influência sobre milícias que participaram ativamente das guerras de independência. O prestígio social que um caudilho tinha em sua região era inigualável e vinha desde antes dos processos de independência, como bem apontou a pesquisadora Beatriz Helena Domingues, em seu ensaio Caudilhismo na América Latina:
Nas décadas que antecederam a independência tais caudilhos ganhavam o apoio de exércitos, ou criavam suas próprias milícias “plebeias”. Desta forma garantiam seu controle sobre várias classes pela adulação, pelo magnetismo pessoal ou pela ameaça do uso da força. O método normalmente dependia dos “princípios originais” e dos antecedentes do líder, adaptados aos diferentes segmentos da sociedade. São exemplos desta política os governos de Rosas na Argentina, Santa Anna no México, Carrera na Guatemala e Francia no Paraguai. [1]
Além dos líderes mencionados acima por Beatriz Domingues, outros que se destacaram posteriormente foram Martín Miguel de Guemes, Ramon Castilla e Carlos Antonio Lopez. A conquista do poder por um caudilho geralmente ocorria por meio de um golpe de Estado com auxílio militar. Mas a despeito do golpe, o modelo do caudilhismo possuía ampla aceitação popular, exatamente por mesclar à força das armas o carisma e capacidade demagógica do líder.
Esse fenômeno assemelha-se muito ao que se desenvolveu no Brasil após a Proclamação da República, em 1889, isto é: o coronelismo. No Brasil, a figura do coronel, em escala regional, aparenta-se à do caudilho, já que há, do mesmo modo, o uso da força, do carisma pessoal (que culmina no paternalismo) e retórica demagógica.
NOTAS
[1] DOMINGUES, Beatriz Helena. Caudilhismo na América Latina: entre a teoria política e a literatura. Anais Eletrônicos do VIII Encontro Internacional da ANPHLAC. 2008, p. 10.