Campos de concentração

Os campos de concentração nazistas foram criados, a princípio, para aprisionar comunistas e social-democratas, mas se tornaram locais onde milhões de judeus foram mortos.

Trilhos localizados na entrada do campo de concentração e de extermínio de Auschwitz, o maior construído pelos nazistas.*

Os campos de concentração nazistas ficaram bastante conhecidos na história porque foram locais onde se promoveu a matança em massa de judeus durante o Holocausto. Nesse genocídio, seis milhões de judeus foram mortos, principalmente, em câmaras de gás, nas quais os prisioneiros eram mortos por asfixia, causada pela ação do monóxido de carbono, ou por envenenamento, no caso do pesticida Zyklon B.

O que são campos de concentração?

Campos de concentração são construções militares que foram desenvolvidas, exclusivamente, para receber prisioneiros de guerra ou prisioneiros políticos. Esses locais sempre foram utilizados com a finalidade de segregar determinada classe política, social ou para separar estrangeiros do restante da população.

O assunto deste texto será centrado nos campos de concentração que foram construídos por nazistas ao longo do período em que estiveram no poder da Alemanha, entre 1933 e 1945. Os campos de concentração, em geral, são caracterizados pelo forte esquema de segurança, desenvolvido para impedir a fuga dos prisioneiros. Além disso, nesses locais, a violência e os maus-tratos aos prisioneiros eram práticas comuns.

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História dos campos de concentração

Apesar de os campos de concentração e de extermínio nazistas serem os mais conhecidos, os campos de concentração não foram criados por esses alemães. Essas instalações foram construídas em outros momentos da história, inclusive anteriores ao período nazista, e em outros países.

De acordo com registros históricos, britânicos construíram campos de concentração com o objetivo de abrigar seus inimigos durante a Guerra dos Bôeres, conflito que aconteceu entre 1899 e 1902. Campos de concentração também foram construídos por colonizadores espanhóis em Cuba. A colonização, por sinal, foi um período no qual esse tipo de instalação foi utilizado com frequência.

Os alemães também utilizaram esses locais de confinamento durante seu curto período como colonizadores. No começo do século XX, construíram campos de concentração para aprisionarem os povos hererós e namas, que habitavam o Sudoeste Africano Alemão, na época, colônia alemã localizada na atual região da Namíbia. Milhares de pessoas desses dois povos morreram.

Na Segunda Guerra Mundial, tornou-se comum a construção de campos de concentração em diversos locais. Na União Soviética, existiram as gulags, campos de trabalho forçado para onde Stalin mandava seus inimigos. Nos Estados Unidos, foram construídos campos de concentração para receber japoneses. No Brasil, houve campos de concentração para receber alemães, italianos e japoneses, pessoas de países com os quais o Brasil estava em guerra.

Campos de concentração nazistas

Uma das marcas da história da Alemanha Nazista é a construção dos campos de concentração. Durante o período de doze anos em que estiveram no poder, os nazistas ordenaram a construção de dezenas de campos de concentração, que receberam todo tipo de pessoas: doentes, comunistas, social-democratas, judeus, negros, homossexuais, ciganos, etc.

Os campos de concentração nazistas, a princípio, eram locais utilizados para aprisionar pessoas que se opunham ao regime político dos nazistas e que eram, por isso, taxadas como inimigas. Nesse sentido, eram apenas prisões, embora tenham sido registradas mortes por violência nesses locais.

Ao longo da Segunda Guerra Mundial, os campos de concentração nazistas tornaram-se verdadeiras máquinas de morte. Primeiro, começaram a matar as pessoas que consideravam “inválidas”: doentes mentais e deficientes físicos. Posteriormente, os campos de concentração nazistas passaram a receber judeus e assumiram, nesse momento, sua fase mais terrível.

Nesses locais, milhões de judeus morreram vítimas de doenças, violência, exaustão, fuzilamentos e gaseadas. No caso das câmaras de gás, utilizaram-se monóxido de carbono e Zyklon B para matar os prisioneiros.


Latas vazias do pesticida utilizado pelos nazistas em Auschwitz para executar os judeus na câmara de gás.**

Os campos de concentração surgiram na Alemanha Nazista em 1933, ano em que foi ordenada a construção do campo de Dachau. Esse campo foi designado para receber comunistas e social-democratas e logo serviu de inspiração para que outros campos fossem construídos na Alemanha. Os relatos sobre esse local apontam a violência com a qual os prisioneiros eram tratados.

Os campos de concentração nazistas não foram construídos para abrigar prisioneiros em razão de um suposto aumento da população carcerária na Alemanha. Esses campos de concentração foram fruto de um planejamento feito por Adolf Hitler ao longo de toda sua trajetória política. Segundo o historiador Richard J. Evans, Hitler afirmou, em discurso no ano de 1921, que construiria campos de concentração para os judeus. Outras falas do tipo feitas por nazistas haviam sido denunciadas na sociedade alemã nas décadas de 1920 e 1930|1|. Portanto, os campos de concentração foram premeditados.

No final da década de 1930, foi desenvolvido um “programa de eutanásia”, responsável pela morte de milhares de pessoas que possuíam algum tipo de deficiência física ou mental. Para esse programa, foram designadas seis instalações de extermínio que atuaram, oficialmente, entre 1939 e 1941. Essas instalações foram responsáveis pela morte de 70.273 pessoas|2|. Nelas, muitas vítimas foram mortas em câmaras de gás de monóxido de carbono.

O esquema de morte desenvolvido no “programa de eutanásia” foi exportado em uma escala muito maior para a Solução Final, programa nazista para o extermínio de todos os judeus da Europa. Em 1941, o membro do Partido Nazista Odilo Globocnik foi ordenado a designar a construção de câmaras de gás para exterminar judeus. Para isso, utilizou alguns funcionários que haviam atuado no “programa de eutanásia”.

Os campos de concentração nazistas para judeus, a princípio, foram estabelecidos para aprisionar e explorar a mão de obra desse povo. No curso da guerra, os nazistas decidiram que novos campos seriam construídos para atuarem no extermínio dos judeus. Somente entre 1941 e 1942, os nazistas decidiram, de fato, o extermínio total dos judeus.

Foram construídos seis campos de extermínio, todos localizados na Polônia, para lidar com a execução de judeus em escala industrial: Auschwitz, Belzec, Chelmno, Sobibor, Majdanek e Treblinka. Os outros campos podem ser classificados como campos de concentração e de trabalho e eram designados para abrigar e forçar judeus ao trabalho.

A quantidade de mortos estimada para cada um dos seis campos de extermínio existentes foi de:

  • Auschwitz-Birkenau: 1,2 milhão de mortos

  • Treblinka: 800 mil mortos

  • Belzec: 600 mil mortos

  • Chelmno: 300 mil mortos

  • Sobibor: 250 mil mortos

  • Majdanek: 80 mil mortos


Imagem aérea do museu que foi construído no local onde ficava o campo de extermínio de Belzec.***

Auschwitz possuía, internamente, estrutura para funcionar das três maneiras. Assim, esse campo funcionava como campo de concentração, trabalho e extermínio e foi o local que mais recebeu judeus não poloneses. Os horrores dos campos de concentração foram denunciados com a guerra em curso, mas a real dimensão dos acontecimentos só foi obtida com o final da Segunda Guerra Mundial.

O que acontecia nos campos de concentração?

Dentro dos campos de concentração, os judeus – mas não somente eles, pois os campos também receberam ciganos e prisioneiros de guerra – sofriam todo tipo de violências. Muitos eram submetidos a um trabalho exaustivo, e as condições de vida eram péssimas, com instalações, roupas e alimentos bastante precários.

Havia prisioneiros que eram surrados por motivos banais, e execuções sumárias eram realizadas em prisioneiros que cometessem algum “delito”. Conforme relato do sobrevivente italiano Primo Levi|3|, as pessoas que desmaiassem de exaustão eram chicoteadas para acordarem e retornarem ao trabalho. Além disso, em alguns casos, os judeus eram submetidos a testes médicos macabros, como os cometidos em Auschwitz pelo médico nazista Josef Mengele.

O relato de Primo Levi também pode servir de embasamento das experiências vividas por esse judeu italiano. Ele narrou a respeito da dureza do transporte no qual dezenas de judeus eram aglomerados dentro de um vagão de trem apertado, e viajavam durante dias até um campo de concentração.

O transporte do Primo Levi, por exemplo, durou quatro dias e foi acompanhado de uma pausa por dia para refeição|4|. Existem ainda relatos que falam que a viagem foi sem nenhum tipo de pausa para alimentação, causando a morte de milhares de pessoas|5|. O transporte, inclusive, poderia se estender durante vários dias porque a condução de prisioneiros judeus não tinha prioridade nas ferrovias.

O relato do Primo Levi é baseado em sua experiência em Monowitz, um dos complexos de trabalhadores de Auschwitz. Ele fala que os judeus partiam cedo para trabalhar em funções quase sempre braçais que se estendiam durante todo o dia. A pausa era dada somente por uma hora para o almoço. Aqueles que parassem de trabalhar poderiam sofrer castigos físicos ou até mesmo ser executados.

As condições de higiene do campo, à primeira vista, pareciam aceitáveis, mas uma análise mais minuciosa era suficiente para perceber a falta de salubridade do local. Os judeus recebiam peças de roupa gastas e eram responsáveis por fazer a manutenção das próprias vestimentas. As roupas de frio eram disponibilizadas por pouco tempo e eram tomadas, independente se estivesse frio ou não.

Os sapatos eram duros e machucavam os pés dos prisioneiros. Os alojamentos eram infestados de percevejos e pulgas, e as camas possuíam cobertores gastos, que eram, muitas vezes, insuficientes para combater o frio. Os alojamentos também recebiam um número de pessoas que superava sua capacidade máxima.

Os prisioneiros que fossem descobertos com piolhos eram encaminhados para uma descontaminação que os fazia ficar sem roupas durante toda a noite. Nos banhos, eram obrigados a sair dos banheiros nus, independente da condição climática. A dureza das condições no tratamento dos prisioneiros levava à proliferação de todo tipo de doenças nesses locais.

Campo de concentração de Auschwitz


Portal que fica em uma das entradas de Auschwitz. Nele, está escrito: “o trabalho liberta”.

Entre todos os campos de concentração construídos pelos nazistas, um dos mais conhecidos é o campo de Auschwitz-Birkenau. Conforme mencionado, esse era um campo de concentração, trabalho e extermínio. Auschwitz foi o maior campo de concentração e, por isso, foi responsável pela maior quantidade de mortes entre todos os campos nazistas. Lá morreram, aproximadamente, 1,2 milhão de pessoas.

Esse campo foi criado em 1940, e seu propósito inicial era receber prisioneiros alemães e soviéticos. Posteriormente, passou a receber judeus para exploração de sua mão de obra. Finalmente, a partir de 1942, tornou-se também um campo de extermínio de judeus.

Em Auschwitz, foi utilizado nas câmaras de gás o Zyklon B, pesticida que, em contato com o oxigênio, solta um gás altamente venenoso. Auschwitz foi o campo que mais recebeu judeus de fora da Polônia e foi libertado pelos Aliados no começo de 1945.

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Doenças nos campos de concentração

Em virtude de toda condição desumana que existia nos campos de concentração nazistas, é natural supor que naqueles locais havia multiplicação de doenças de variados tipos.

Segundo relatos de Primo Levi, muitas doenças aconteciam em virtude da alimentação pobre que era disponibilizada aos prisioneiros. A falta de gorduras, proteínas e vitaminas era grave e fazia com que muitos prisioneiros tivessem edemas (inchaços anormais), principalmente nas pernas. Diversas doenças relacionadas com a falta de vitamina (avitaminose) aconteciam, porém nenhuma específica foi relatada.

A alimentação inadequada também fazia com que muitos prisioneiros tivessem problemas no estômago e no intestino, e casos de diarreia eram comuns. O frio também causava doenças, como bronquite e pneumonia, e o trabalho manual muito pesado também causava muitos problemas entre os prisioneiros.

Os nazistas combatiam o máximo possível a proliferação de piolhos para impedir que doenças fossem espalhadas. Pessoas que contraíssem sífilis, tuberculose e malária eram imediatamente enviadas para Birkenau para serem mortas nas câmaras de gás.

|1| EVANS, Richard J. A chegada do Terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2016, p. 422.
|2| SNYDER, Timothy. Terras de sangue: a Europa entre Hitler e Stalin. Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 313.
|3| LEVI, Primo. Assim foi Auschwitz: testemunhos 1945-1986. São Paulo. Companhia das letras, 2015, pp. 30.
|4| Idem, p. 12-13.
|5| SNYDER, Timothy. Terras de sangue: a Europa entre Hitler e Stalin. Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 323.

*Créditos da imagem: CL-Medien e Shutterstock

**Créditos da imagem: Sirio Carnevalino e Shutterstock

***Créditos da imagem: Christian Faludi e Shutterstock

Por: Daniel Neves Silva

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