Tancredo Neves

Tancredo Neves foi um líder político nascido em São João Del-Rei, em Minas Gerais, no dia 4 de março de 1910. Formou-se em Direito, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e, aos 25 anos, iniciou sua carreira política, elegendo-se vereador em sua cidade natal. Na década de 1950, filiou-se ao PSD e se elegeu deputado federal por Minas Gerais. Também foi ministro da Justiça no segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954).

No Congresso, teve atuação marcante, sendo primeiro-ministro durante o parlamentarismo (1961-1963), e se opôs ao golpe de 1964. Durante a abertura política do país, iniciou a negociação com os militares para o retorno dos civis ao poder.

Com Ulysses Guimarães, ele liderou o movimento pelas eleições diretas. Sem a eleição direta para a presidência da República, Tancredo foi o candidato da oposição no Colégio Eleitoral e derrotou Paulo Maluf, candidato oficial. Um dia antes de assumir a presidência, foi submetido a uma cirurgia de emergência e morreu em 21 de abril de 1985.

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Resumo sobre Tancredo Neves

  • Tancredo de Almeida Neves foi um político brasileiro que buscou a conciliação entre os diversos grupos para governar.

  • Foi deputado e senador da República.

  • Fez oposição à Ditadura Militar.

  • Em 1985, Tancredo foi eleito presidente, mas não tomou posse em decorrência de uma cirurgia realizada um dia antes.

  • Morreu em 21 de abril de 1985.

Juventude de Tancredo Neves

Tancredo de Almeida Neves nasceu em São João Del-Rei, interior de Minas Gerais, em 4 de março de 1910. Veio de uma família com atuação na política local: seu avô foi defensor da Proclamação da República e seu pai foi eleito vereador. Tancredo dizia que seu pai teve influência direta em sua carreira política, incentivando o filho a ler os discursos de Rui Barbosa. Sua primeira formação escolar foi no Colégio Santo Antônio, em São João Del-Rei, fundado por padres franciscanos.

Em 1928, Tancredo se mudou para Belo Horizonte, a fim de iniciar o curso de Direito na Universidade Federal de Minas Gerais. Nesse período, ele começou a se interessar por política e, em 1930, apoiou a revolução que colocou Getúlio Vargas no poder. Dois anos depois, Tancredo Neves se formou advogado e retornou para São João Del-Rei, abrindo um escritório de advocacia.

Trajetória política de Tancredo Neves

A política sempre esteve presente na família Neves. Tancredo herdou a paixão pela vida pública do avô e do pai. Além disso, o contexto histórico era estimulante para os jovens tomarem gosto pela política. A Revolução de 1930 foi marcante para a história republicana e muitos políticos iniciaram suas carreiras na vida pública após a chegada de Vargas ao poder, seja para apoiá-lo, seja para criticá-lo. Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, Tancredo Neves apoiou a causa paulista e foi preso por causa disso, mas solto logo depois.

Em 1935, ele se elegeu vereador em São João Del-Rei pelo Partido Progressista. Com o golpe do Estado Novo em 1937, Tancredo foi preso e teve seu mandato cassado, voltando à política em 1947, quando se elegeu deputado estadual pelo PSD (Partido Social Democrático). Na década de 1950, Tancredo foi ministro da Justiça durante o segundo governo Vargas. Ele acompanhou de perto a crise de agosto de 1954 e foi um dos primeiros a entrar no quarto presidencial, onde Getúlio Vargas havia se suicidado.

Com a instalação do regime parlamentarista em 1961, Tancredo Neves foi primeiro-ministro, e seu gabinete buscou a reconciliação logo após a crise militar desencadeada com a renúncia de Jânio Quadros. Com a vitória do presidencialismo no plebiscito de 1963, João Goulart, também chamado de Jango, obteve os poderes constitucionais. Em vários momentos, Tancredo Neves recomendava a Jango que tivesse cautela em seus discursos em defesa das reformas de base.

No dia 30 de março de 1964, um dia antes do golpe, Jango decidiu ir até o Automóvel Clube, no Rio de Janeiro, onde soldados estavam rebelados. Tancredo Neves recomendou ao presidente não participar desse evento, pois era uma manifestação contrária à hierarquia militar. Jango não ouviu as palavras de Tancredo e se dirigiu ao evento onde se encontravam os revoltosos. No dia seguinte, as tropas do Marechal Olympio Mourão se deslocaram de Juiz de Fora (MG) em direção ao Rio de Janeiro para depor João Goulart.

Ditadura militar

Quando os militares depuseram João Goulart da presidência, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vago o cargo. Tancredo Neves, deputado pelo PTB, opôs-se ao ato. Para ele, Andrade não poderia ter tomado tal medida, porque Jango ainda estava em território brasileiro. Porém, de nada adiantou a crítica de Tancredo, pois o golpe já estava consumado e, em poucos dias, os militares assumiriam de fato o poder, mergulhando o Brasil em uma longa ditadura.

Durante esse período, Tancredo manteve a sua resistência à repressão militar dentro do Congresso. Seu jeito moderado de se posicionar não o fez perder o mandato, apesar dos diversos pedidos da linha-dura militar.

Com a abertura política iniciada no governo Ernesto Geisel (1974-1979), Tancredo iniciou as articulações pela redemocratização. Ele dialogava com militares e opositores, buscando um entendimento entre as partes. Em 1982, foi eleito governador de Minas Gerais. Era a primeira eleição estadual direta em 12 anos. A partir desse momento, Tancredo passou a governar seu estado natal e visava à política nacional, ao buscar intensificar a abertura política e o retorno dos civis à presidência.

Em 1984, o país inteiro se mobilizou nos comícios das diretas. Esse movimento tinha como objetivo a aprovação da emenda Dante de Oliveira, que tornaria diretas as eleições presidenciais do ano seguinte. Tancredo e outras lideranças, como Ulysses Guimarães, Franco Montoro e Leonel Brizola, uniram-se em prol das eleições diretas. Porém, a emenda não conseguiu os votos suficientes para ser aprovada e foi arquivada. A derrota causou profunda tristeza entre os brasileiros, mas Tancredo tentou reanimar os apoiadores para que a força do movimento pelas eleições presidenciais diretas não se dissipasse.

Com a não aprovação da emenda Dante de Oliveira, a última sucessão presidencial da ditadura foi indireta, ou seja, o Congresso Nacional se reuniu em Colégio Eleitoral para eleger o novo presidente. Os candidatos eram Tancredo Neves, pela oposição, e Paulo Maluf, pela situação. Com a desidratação da candidatura de Maluf, Tancredo já estava certo da sua vitória no Congresso e já começava a escolher os nomes dos seus ministros.

Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves foi eleito com 380 votos contra 180 de Paulo Maluf. Assim se encerrava o longo ciclo militar iniciado 21 anos antes, e Tancredo se tornava o primeiro civil a ser eleito presidente depois do golpe de 1964.

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Tancredo na Presidência

Logo após a sua eleição, Tancredo Neves fez uma longa viagem para os Estados Unidos e para a Europa, no intuito de apresentar aos governos de outros países e aos investidores estrangeiros o novo período político em que o Brasil estava entrando. Logo após esse giro internacional, Tancredo se voltou para os preparativos para a sua posse, que estava marcada para o dia 15 de março de 1985.

Pouco antes da posse, Tancredo já havia se queixado de dores abdominais. Porém, ele não queria fazer nenhum tratamento, pois temia que qualquer procedimento cirúrgico pudesse impedi-lo de tomar posse na data programada e que a linha-dura militar não concordasse em passar o poder para o vice, José Sarney. Aliados próximos a Tancredo o aconselharam a procurar um tratamento médico, mas ele respondeu: “Façam de mim o que quiserem, mas depois da posse”.

A saúde de Tancredo complicou-se no dia anterior à posse. Depois de uma celebração no Santuário Dom Bosco, em Brasília, o presidente eleito foi internado no Hospital de Base, na capital federal. Mesmo hospitalizado, Tancredo manteve a preocupação quanto à posse de Sarney, caso fosse necessária a realização de uma cirurgia. O vice-presidente, até 1979, era aliado dos militares, sendo o último presidente do Arena, partido governista. Sarney mudou de lado nos anos 1980 e, dentro do amplo arco de alianças montado por Tancredo, tornou-se vice-presidente. Por conta disso, justificava-se a preocupação do presidente eleito quanto a uma provável reação da linha-dura militar em entregar o poder para um político visto como um “traidor”.

Apesar do temor tanto pela saúde de Tancredo como pela reação da linha-dura, a posse de José Sarney foi feita com tranquilidade. O general João Figueiredo, último presidente da ditadura militar, não compareceu à solenidade de posse de Sarney no Palácio do Planalto. Encerravam-se, naquele ato, o ciclo militar no poder. José Sarney foi empossado interinamente na presidência da República, bem como os ministros previamente escolhidos por Tancredo.

Morte de Tancredo Neves

O início da Nova República foi ofuscado pelo tratamento de saúde de Tancredo Neves. Os meios de comunicação transmitiam os boletins médicos do presidente e as expectativas da sua recuperação. Com o agravamento da doença, Tancredo foi transferido para São Paulo, no Hospital do Coração. Na porta do hospital, milhares de pessoas aguardavam informações e faziam orações pela recuperação do presidente. Havia uma expectativa de que o governo Tancredo Neves pudesse solucionar os problemas econômicos e sociais que o país enfrentava nos anos 1980.

Enquanto esteve se tratando em São Paulo, Tancredo, sua esposa, Risoleta, e a equipe médica posaram para uma foto no quarto do hospital. A razão do registro era acalmar a população. Porém, a foto foi uma espécie de “montagem”. Atrás do sofá onde Tancredo estava sentado, os médicos esconderam os cilindros de oxigênio que mantinham o presidente vivo. A foto foi uma forma de camuflar a realidade.

Apesar das orações e das tentativas de mostrar que estava em recuperação, na noite do dia 21 de abril de 1985, data que o país celebra o inconfidente Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, o jornalista Antônio Brito, assessor de imprensa da presidência da República, anunciava a morte de Tancredo de Almeida Neves. O caixão com o corpo do presidente saiu do hospital em cima de um caminhão do Corpo de Bombeiros em direção ao aeroporto onde embarcaria para Brasília.

O corpo de Tancredo foi velado no Palácio do Planalto e, logo em seguida, encaminhado para São João Del-Rei, sua terra natal. Os brasileiros fizeram fila para se despedir do presidente eleito que não tomou posse e se amontoaram pelas ruas de São Paulo, Brasília e São João Del-Rei para se despedir do seu líder. Com a morte de Tancredo, José Sarney foi efetivado na presidência, governando até 15 de março de 1990.

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Exercícios resolvidos

Questão 1 – Leia os itens abaixo e assinale a alternativa correta que corresponde à atuação de Tancredo Neves durante os 21 anos de ditadura militar no Brasil.

A) Tancredo Neves foi um dos entusiastas do golpe que depôs João Goulart da presidência e, por isso, recebeu apoio dos militares nas eleições indiretas de janeiro de 1985.
B) A atuação de Tancredo Neves durante a ditadura militar foi questionada por conta da sua dualidade entre o apoio e a crítica ao governo ditatorial.
C) No segundo governo Vargas (1951-1954), Tancredo Neves pertenceu à ala udenista, que fez severas críticas ao presidente.
D) Tancredo Neves, juntamente com Ulysses Guimarães, foi um líder que se opôs à ditadura e atuou diretamente na redemocratização do Brasil em 1984.

Resolução

Alternativa D. Tancredo Neves foi um dos principais líderes da oposição à ditadura iniciada em 1964. Moderado, ele conseguiu articular uma aliança que derrotou os militares no Colégio Eleitoral que o elegeu presidente da República em 1985.

Questão 2 – Tancredo Neves foi eleito presidente da República no Colégio Eleitoral realizado em janeiro de 1985. Sobre esse contexto da História do Brasil, é correto afirmar:

A) Tancredo renunciou à presidência da República logo após a sua posse, em 15 de março de 1985, convocando eleições diretas para o ano seguinte.
B) logo após tomar posse, Tancredo Neves foi deposto por um golpe militar liderado por marechais da linha-dura que jamais admitiram a abertura política.
C) Tancredo foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral, em janeiro de 1985, mas não tomou posse, por conta de uma cirurgia de emergência, vindo a falecer semanas depois.
D) os militares não passaram o poder para os civis, como fora acordado, e Tancredo Neves iniciou uma resistência armada que não logrou êxito.

Resolução

Alternativa C. Um dia antes de tomar posse como presidente da República, Tancredo Neves foi submetido a uma cirurgia de emergência, que o impossibilitou de tomar posse. Quem assumiu interinamente a chefia do Poder Executivo foi seu vice, José Sarney. Tancredo morreu em 21 de abril de 1985, causando uma grande comoção nacional.

Crédito da imagem

[1] Cidadão de Minasderivative work: DarwIn / Commons

Por: Carlos César Higa

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