A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um dos principais fenômenos da história da arte da sociedade brasileira. Financiada pela burguesia cafeicultora de São Paulo, a Semana de Arte e o movimento modernista desenvolvido a partir desse momento exerceram forte influência sobre a produção artística brasileira durante o século XX.
O objetivo dos idealizadores da Semana de Arte Moderna não era tanto a apresentação de novas concepções estéticas para a vida artística brasileira. O foco da Semana era destruir as velhas formas artísticas na literatura, música e artes plásticas, encravadas na produção brasileira desde meados do século XIX, tais como o parnasianismo na literatura e o realismo acadêmico nas artes plásticas. O alvo era destruir tudo o que havia de passadismo na cultura nacional.
A necessidade da destruição desse passado teve origem nas críticas que alguns artistas sofreram sobre suas produções após o contato com as vanguardas artísticas europeias. O principal fato ocorreu com a exposição das obras da artista plástica Anita Malfatti em 1917. Após as críticas do escritor Monteiro Lobato, feitas em sua coluna do jornal O Estado de São Paulo, as obras de Anita Malfatti, inspiradas nas vanguardas europeias, passaram a ser atacadas. Tal situação serviu como estopim para a crítica ao conservadorismo artístico nacional.
Já em 1921, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia pensavam em transformar as comemorações da Independência do Brasil em momento de emancipação estética. O apoio veio do mecenas Paulo Prado, que decidiu apoiar a ação dos jovens artistas. Através de doações realizadas por alguns cafeicultores paulistas, eles puderam alugar o Theatro Municipal de São Paulo, em fevereiro de 1922, para as exposições de artes plásticas, literatura, arquitetura e música.
O primeiro grande alvoroço causado na Semana foi a leitura do poema Os sapos, de Manuel Bandeira, por Ronald de Carvalho. Nesse poema, Bandeira realizou uma crítica à forma estética parnasiana, muito forte na época, resultando em vaias por parte do público.
Outros artistas destacaram-se também na exposição. Além dos já acima citados, houve a participação de Heitor Villa-Lobos, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Mário de Andrade, Di Cavalcanti, Ferrignac, John Graz, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, Victor Brecheret, Wilhelm Haarberg e Hildegardo Velloso.
Apesar de não terem apresentado uma nova proposição estética na Semana de Arte Moderna, os artistas participantes iriam desenvolver posteriormente uma nova forma de expressão artística no Brasil, em torno principalmente do Movimento Antropofágico. Nesse movimento, os artistas procuravam aliar a utilização das teorias artísticas de vanguarda da Europa com as raízes culturais brasileiras, em um processo de deglutição do que vinha do estrangeiro. Ficou célebre o Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade.
Apesar da crítica feita nesse momento pelos modernistas em relação à ruptura com o passado artístico, não havia uma ligação dessa produção estética com o contexto social em que estava inserida a maior parte da população brasileira. Era ainda um movimento de elite. Além disso, tal situação aproximava-se da convulsão contestatória que o Brasil oligárquico vivenciava na década de 1920, em um movimento talvez similar ao que o tenentismo representava na política.