Ocorrida em 1848, a Revolta Praieira foi a última das rebeliões provinciais do Império e seu fim representou a estabilidade política para D. Pedro II ter o apogeu de reinado.
Em 1848, estourou mais um movimento insurrecional na província de Pernambuco, que desde o início do século XVIII conheceu conflitos contra as autoridades instituídas. A Revolta Praieira, ocorrida entre novembro de 1848 e março de 1849, foi também a última das rebeliões provinciais que ocorreram durante o Império.
O nome praieira deriva do fato de o principal jornal divulgador dos posicionamentos dos revoltosos, o Diário Novo, localizar-se na Rua da Praia, em Recife. A origem do conflito está relacionada às disputas políticas e econômicas entre os proprietários de terras de Pernambuco, principalmente entre os que haviam feito fortuna no início do século XIX e as famílias mais tradicionais.
No aspecto econômico, as disputas ocorreram em torno do acesso aos escravos que chegavam à província, já que as leis que proibiam paulatinamente o tráfico dos escravos africanos dificultavam o acesso à força de trabalho que iria laborar nas lavouras. Apesar das proibições, o comércio era aceito pelas autoridades policiais, que faziam vista grossa ao tráfico e também lucravam com ele, pois recebiam dinheiro no deslocamento dos negros para os engenhos.
Nessa situação, quem comandava o poder político comandava as forças policiais e garantia o acesso à força de trabalho escravo. Como os médios proprietários, os rendeiros e alguns lavradores pagavam mais caro pelos escravos que os grandes senhores de engenho, eles resolveram se articular politicamente para tentar reverter a situação.
Para confrontar os conservadores, os médios proprietários de terras e os novos saíram do Partido Liberal e formaram o Partido Nacional de Pernambuco, em 1842, com o apoio dos bacharéis da Faculdade de Direito de Olinda e de comerciantes pernambucanos. Em 1843, elegeram deputados para a Assembleia Provincial e, em 1845, chegaram ao poder em Pernambuco com a nomeação de Antônio Pinto Chichorro da Gama para a presidência da Província, substituindo Francisco Rego de Barros, grande senhor de engenho de Pernambuco.
No poder, os novos governantes passaram a nomear seus correligionários para os cargos públicos, retirando os antigos, que eram ligados às famílias tradicionais. Mas a reviravolta contra os rebeldes viria em 1847, quando, no Rio de Janeiro, o governo liberal foi destituído. Antônio Chichorro da Gama foi substituído por Manoel de Souza Teixeira e este por Vicente Pires da Mota, que demitiu os funcionários ligados aos praieiros.
Diante das dificuldades de um luta dentro das instituições, os praieiros resolveram se rebelar. Suas propostas foram expostas no Manifesto ao Mundo, escrito por Borges da Fonseca e inspirado pelos primeiros socialistas europeus como Robert Owen, Charles Fourrier e também o anarquista Proudhon. Os rebeldes pediam voto livre e universal, liberdade de imprensa, garantia de trabalho, nacionalização do comércio (que era controlado por portugueses), abolição do trabalho escravo e instauração da República.
A Revolta Praieira inseria-se ainda no contexto de conflitos que ocorreram na Europa e em outras partes do mundo em 1848, no processo conhecido como Primavera dos Povos.
Os conflitos começaram após dificuldades econômicas vindas da falta de moedas no comércio e do aumento dos preços dos produtos alimentícios. A população urbana passou a acusar os portugueses pela situação, depredando seus estabelecimentos comerciais nas cidades.
As ações contra o governo provincial iniciaram-se em novembro de 1848. Em dezembro, o governo imperial enviou armas e tropas para por fim ao conflito. Os rebeldes organizaram duas colunas para fazer frente às forças legalistas, somando 1500 homens. Uma delas, comandada por Pedro Ivo, venceu as tropas legalistas e postou-se próxima a Recife à espera da segunda coluna. Porém, esta, comandada por João Ribeiro Roma e Nunes Machado, foi derrotada.
A partir daí os conflitos passaram a ocorrer em alguns focos no interior, mas não conseguiram conter as forças militares ligadas aos governos provincial e central. Em 1850, o conflito foi controlado, sendo que parte dos envolvidos foi presa e outra parte seguiu para o exílio. Em 1851, houve ainda uma anistia aos presos.
Com o fim da Revolta Praieira, o governo imperial conseguiu alcançar estabilidade política e conciliar os interesses das elites agrárias. Com essa estabilidade, D. Pedro II pôde viver o apogeu de seu reinado, sustentado pela riqueza advinda da exportação do café.