A Guerra dos Farrapos iniciou-se em 1835, quando estancieiros gaúchos, insatisfeitos com o império, decidiram rebelar-se. Esse revolta estimulou um movimento separatista que deu origem a duas repúblicas (Rio-Grandense e Juliana). Os farrapos foram derrotados em 1845, quando foi assinado o Tratado de Poncho Verde.
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Contexto da Guerra dos Farrapos
A província do Rio Grande do Sul, no século XIX, possuía um grande número de estancieiros e charqueadores, ambos criadores de gado. Os dois grupos faziam parte da elite da sociedade gaúcha, e a produção de estancieiros e charqueadores atendia às necessidades de algumas províncias do Sudeste, sobretudo na disponibilização de alimentos para os escravizados (o charque).
Além disso, considera-se que o extremo sul do Brasil era uma região de muita importância, uma vez que, na década de 1830, havia ainda uma série de problemas fronteiriços que envolviam nosso país, o Uruguai e a Argentina. Portanto, os estancieiros possuíam certo poderio militar e certa experiência com a guerra, e a proteção da fronteira, muitas vezes, era feita por eles.
Historicamente, a região gozava de certa autonomia política, característica que começou a se alterar com a independência do Brasil. A monarquia no nosso país ficou marcada por ser centralizadora, o que desagradava às elites políticas e econômicas do Rio Grande do Sul. Um dos pontos de grande insatisfação era a presença de tropas imperiais na província — uma herança da Guerra da Cisplatina.
Outro incômodo era o peso dos impostos sobre o charque produzido no Rio Grande do Sul. Os charqueadores gaúchos também se incomodavam com as taxas sobre o charque produzido fora do Brasil. Eles consideravam que as taxas cobradas pelo império eram baixas demais.
Havia outras insatisfações de ordem econômica na província que envolviam a falta de apoio financeiro do império e a atividade dos estancieiros da província. Essa insatisfação política e econômica e a influência de ideais republicanos e federalistas, cada vez mais populares, contribuíram para a formação de ideais separatistas.
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Guerra dos Farrapos – República Rio-Grandense
Em 18 de setembro de 1835, grandes lideranças dos farrapos (aqueles que defendiam a separação do Rio Grande do Sul) reuniram-se e decidiram por uma revolta contra o império na província. Essa revolta se iniciou em 20 de setembro de 1835 e, progressivamente, levou à concretização do projeto separatista, resultando no nascimento da República Rio-Grandense, proclamada na Câmara Municipal de Jaguarão, em 20 de setembro de 1836.
A proclamação de uma república no Rio Grande do Sul não aconteceu somente como parte da vontade de lideranças farroupilhas e das elites de estancieiros, mas foi uma ideia que também passou a ser apoiada por outros atores sociais. O envolvimento de parte da sociedade gaúcha foi importante para o movimento avançar.
A revolta dos farrapos se transformou em uma guerra civil contra o império, na qual os farroupilhas lutavam pela manutenção de sua república e o império lutava para colocar fim nessa revolta. Algumas das lideranças da revolta foram Bento Gonçalves, que chegou a ser nomeado presidente da República Rio-Grandense, além de Antônio de Souza Neto, David Canabarro, Giuseppe Garibaldi e Bento Manuel Ribeiro.
Os farrapos tiveram bom desempenho no campo de batalha, e o auge da República Rio-Grandense foi entre 1838 e 1839. Nesse período eles conseguiram levar sua revolta para a província de Santa Catarina, onde David Canabarro e Giuseppe Garibaldi lideraram tropas para conquistar Laguna, resultando na proclamação da República Juliana, em julho de 1839.
Algumas batalhas, como a de Seival, ficaram gravadas como importantes vitórias militares dos gaúchos. Depois desse período positivo, a situação dos farrapos foi piorando gradativamente e territórios foram sendo perdidos.
A região de Laguna, onde foi proclamada a República Juliana, foi conquistada pelas tropas imperiais em novembro de 1839. Alguns anos depois, a República Rio-Grandense se resumia a um território muito pequeno e as forças dos gaúchos eram cada vez menores.
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Desfecho da Guerra dos Farrapos
Como mencionado, a partir do ano de 1839, a situação dos farrapos começou a ficar cada vez pior. Primeiramente houve um declínio econômico dos envolvidos com a guerra. Além disso, o fim de outras rebeliões em curso no país, entre os anos de 1840 e 1841, permitiu que o império pudesse concentrar as suas forças contra os gaúchos.
Outro fator crucial para a derrota dos farrapos foi a chegada de Luís Alves de Lima e Silva para liderar as tropas imperiais. Conhecido na época como barão de Caxias (futuro duque de Caxias), o militar soube formar uma estratégia para derrotar os farrapos, além de reorganizar as tropas imperais que lutavam no Rio Grande do Sul.
A situação dos farrapos se tornou tão delicada que, já em 1842, os gaúchos não tinham forças para sustentar confrontos abertos e diretos contra as tropas imperiais. Nesse momento, os farrapos atuavam com táticas de guerrilha, promovendo ataques surpresa que resultavam em pequenas escaramuças.
Os desentendimentos entre as lideranças dos farrapos também contribuíram para enfraquecer sua condição, e essa visível decadência motivou muitos dos envolvidos com a guerra a fugirem para o Uruguai. O barão de Caxias, percebendo essa situação delicada, partiu para o campo da diplomacia.
As negociações entre farrapos e o império se estenderam por meses e resultaram no que ficou conhecido como Tratado de Poncho Verde, assinado no dia 1º de março de 1845. Esse tratado colocou fim na Guerra dos Farrapos, reintegrando o Rio Grande do Sul ao território brasileiro. Seus principais termos foram os seguintes:
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Os gaúchos poderiam nomear seu presidente de província;
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Anistia para todos os envolvidos com a guerra;
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Os escravizados que participaram da revolta seriam anistiados;
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Os militares farrapos seriam incorporados ao Exército imperial e manteriam sua patente;
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Os farrapos teriam suas dívidas arcadas pelo governo imperial;
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O charque estrangeiro receberia um imposto de 25%.
Os farrapos eram abolicionistas?
Muito se discutiu sobre se os farrapos eram abolicionistas ou não e se o movimento defendia a abolição da escravidão. No entanto, o fim da escravidão nunca foi uma pauta dos farrapos, apesar de ter sido incluído como exigência no Tratado de Poncho Verde. No contexto gaúcho, os farrapos só defenderam a abolição dos que lutaram por eles.
Isso pode ser afirmado porque, durante a guerra, os farrapos nunca libertaram seus próprios escravos. Bento Gonçalves, por exemplo, possuía dezenas de trabalhadores escravizados em sua estância. Além disso, os farrapos financiavam sua guerra realizando a venda de escravizados no Uruguai.
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