Revolta de Beckman

A Revolta de Beckman foi uma revolta nativista que aconteceu na cidade de São Luís, entre os anos de 1684 e 1685, sendo motivada pela insatisfação, sobretudo dos homens-bons, com as medidas tomadas pela administração colonial na questão do comércio e da obtenção de trabalhadores escravos.

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Contexto da Revolta de Beckman

No século XVII, a cidade de São Luís fazia parte do Estado do Maranhão e Grão-Pará, território criado por Portugal em 1654. Essa região era territorialmente vasta e se estendia do estado do Ceará ao estado do Amazonas. Não era a província mais rica da colônia portuguesa e sobrevivia, sobretudo, de atividades de subsistência.

A cidade de São Luís presenciou a Revolta de Beckman entre os anos de 1684 e 1685.

A economia local se sustentava por meio de atividades baseadas na agricultura e no extrativismo. Na província, havia aqueles que buscavam sua sobrevivência no cultivo de itens como o algodão, o tabaco, o cacau e o açúcar, enquanto outros preferiam explorar os sertões para extrair as conhecidas drogas do sertão.

As atividades produzidas nessa província não davam muito retorno para as populações locais, o que significa que a condição para obtenção de escravos africanos era bastante limitada. Como os escravos africanos eram caros e os colonos da província do Maranhão não tinham condição de comprá-los em grande número, os indígenas passaram a ser vistos como a principal mão de obra.

É importante percebermos que o trabalho realizado no período colonial demandava grande número de mão de obra, e, na impossibilidade de serem obtidos escravos africanos, os índios se tornavam alvo da ganância portuguesa. A utilização dos índios como escravos pelos colonos do Maranhão criou uma série de problemas com os jesuítas, ordem religiosa que procurava defender os indígenas, a fim de catequizá-los em suas missões.

Apesar da dificuldade de obter africanos escravizados, a província do Maranhão viu a chegada de africanos acontecer pela primeira vez em 1662. A partir de 1682, com a criação da Companhia de Comércio do Maranhão, foi prometido que cerca de 500 africanos escravizados chegariam ao Maranhão por ano. Entretanto, essa promessa nunca foi cumprida.

Outra questão muito importante que envolvia essa companhia era que ela foi criada com o intuito de realizar o monopólio das mercadorias na província, ou seja, tudo que seria exportado no Maranhão passaria pela Companhia de Comércio e tudo o que era importado para lá também deveria passar pela companhia. Esse monopólio ficou conhecido como estanco e foi pensado com o objetivo de combater o contrabando de mercadorias e a sonegação de impostos.

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Por que os colonos se rebelaram?

O que explica a rebelião dos colonos dessa província foi a insatisfação deles com a forma como a metrópole administrava aquela província da colônia. Em primeiro lugar, os colonos estavam proibidos desde 1680 a escravizar os índios; em segundo, a companhia não entregava os africanos escravizados como tinha prometido; em terceiro, o monopólio comercial atrapalhava a sobrevivência da população, diminuindo seus lucros.

No caso dos trabalhadores escravos, é importante mencionar que a pressão dos jesuítas sobre a questão indígena fez o regente de Portugal, D. Pedro II (não confunda com o D. Pedro II, imperador do Brasil no século XIX), decretasse que a escravização de indígenas seria proibida a partir de 1680. O trato dos indígenas ficaria exclusivamente nas mãos da ordem religiosa que os ensinava o catolicismo ao mesmo tempo que explorava a mão de obra deles.

Como os africanos não estavam sendo entregues conforme prometido, a questão da mão de obra tornou-se um problema para os colonos no Maranhão. Por fim, o papel da companhia no monopólio comercial também agitou a população de São Luís, pois era alegado que essa companhia vendia caro demais e comprava por valores considerados baixos.

Revolta de Beckman

Podemos perceber, portanto, quais fatores desagradavam à população de São Luís. A parcela da população que mais se incomodava com a administração colonial eram os homens-bons, o grupo mais rico daquela sociedade. Outro fator que incomodava essa elite de São Luís era o fato de que a administração da província ficava em Belém.

Por fim, pode-se mencionar até mesmo uma insatisfação das camadas populares de São Luís com a miséria da população local. De toda forma, os dois grandes líderes desse movimento vinham da elite, com destaque para Manuel Beckman, dono de engenho e um dos líderes da revolta. Seu irmão, Tomás, também se envolveu no movimento, mas tinha papel secundário.

No dia 24 de fevereiro de 1684, realizava-se uma procissão religiosa em São Luís. Os rebeldes aproveitaram a ocasião para dar início a sua revolta por meio de um ataque a Casa de Estanco, de posse da Companhia de Comércio. Depois disso, a revolta se espalhou por São Luís, com os rebeldes dominando locais estratégicos da cidade.

O responsável pela defesa do Maranhão, o capitão-mor Balthasar Fernandes, foi preso. Os rebeldes então formaram uma Junta Geral de Governo, que deu início a algumas mudanças na administração de São Luís. O novo governo do Maranhão ficou nas mãos de três pessoas: Tomás Beckman, Manuel Coutinho e João de Sousa de Castro.

Os envolvidos com a revolta em São Luís tentaram expandir seu movimento para o restante da província, mas não tiveram sucesso na ação. Assim, a Revolta de Beckman ficou reduzida aos limites da cidade de São Luís.

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Desfecho da Revolta de Beckman

A Revolta de Beckman se estendeu durante mais de um ano. No entanto, em virtude dos desentendimentos entre suas lideranças e da incapacidade em se expandir para o resto da província, o movimento fracassou. Em maio de 1685, uma esquadra foi enviada para recuperar a cidade e o fez sem grandes problemas.

Nessa esquadra, estava Gomes Freire de Andrade, nomeado para o governo do Maranhão. A reconquista de São Luís e a chegada de Gomes Freire colocaram fim à Revolta de Beckman. Entre as punições dadas aos envolvidos, destaca-se a punição de Manuel Beckman e Jorge de Sampaio de Carvalho: morte por enforcamento.

Duas mudanças significativas que aconteceram na província do Maranhão foi a extinção da Companhia de Comércio, pela rejeição que ela tinha, e revogação da proibição de escravização dos indígenas. Com isso, estabeleceram-se novos critérios para limitar a escravização de índios no Maranhão.

A revogação da proibição permitiu o retorno das expedições que adentravam o sertão para capturar índios como escravos. A escravização de indígenas só seria definitivamente encerrada por ordem do Marquês de Pombal em 1755.

Por: Daniel Neves Silva

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