Revolta da Armada

A Revolta da Armada foi uma rebelião da Marinha contra o governo republicano do Brasil, que estava adquirindo características de uma ditadura militar.

Tropas brasileiras em zona portuária do Rio de Janeiro em 1893, durante a Revolta da Armada.[1]

A Revolta da Armada foi uma rebelião da Marinha brasileira marcada por duas revoltas ocorridas entre 1891 e 1894, tendo como principais causas a insatisfação com a Ditadura Militar, a instabilidade política após a proclamação da República e a negligência em relação à Marinha. Seus objetivos incluíam contestar os governos republicanos, restaurar a ordem constitucional e, em alguns casos, buscar a restauração da monarquia.

A Primeira Revolta, em 1891, visava à convocação de uma Assembleia Constituinte, enquanto a Segunda, de 1892 a 1894, pretendia destituir o presidente Floriano Peixoto e, em alguns casos, restaurar a monarquia.

Leia também: Constituição de 1891 — a validação da república e do governo constitucional de Deodoro da Fonseca

Resumo sobre a Revolta da Armada

  • A Revolta da Armada foi uma rebelião liderada pela Marinha do Brasil entre os anos de 1891 e 1894.
  • Teve como causas a insatisfação com a Ditadura Militar, instabilidade política pós-República e falta de investimentos na Marinha.
  • A Primeira Revolta da Armada ocorreu em 1891, contestando o governo de Deodoro da Fonseca e exigindo a convocação de uma Assembleia Constituinte.
  • A Segunda Revolta da Armada, de 1892 a 1894, visava destituir o presidente Floriano Peixoto e, em alguns casos, restaurar a monarquia.
  • A intervenção americana na Revolta da Armada ocorreu com apoio diplomático e material ao governo republicano, devido a interesses econômicos dos EUA no Brasil.
  • Portugal concedeu asilo a rebeldes da Revolta da Armada, levando ao rompimento temporário das relações diplomáticas com o Brasil.
  • A Revolta da Armada e a Revolução Federalista foram eventos marcados por conflitos armados que refletiram a instabilidade política da Primeira República brasileira.
  • As consequências da Revolta da Armada foram o fortalecimento do poder militar, a persistência da instabilidade política, a intervenção estrangeira, entre outros fatores.

Videoaula sobre a Revolta da Armada

O que foi a Revolta da Armada?

A Revolta da Armada foi um movimento de rebelião liderado por unidades da Marinha do Brasil contra os dois primeiros governos republicanos do país, que estavam adquirindo características de uma ditadura militar. Esse levante ocorreu em dois momentos distintos durante os governos de Deodoro da Fonseca e de Floriano Peixoto.

A revolta foi uma manifestação de descontentamento por parte de setores militares, especialmente da Marinha, que se opunham às políticas adotadas pelos governos republicanos e buscavam restaurar uma ordem que consideravam mais adequada para o país.

Quais são as causas da Revolta da Armada?

As causas da Revolta da Armada podem ser atribuídas a uma série de fatores que culminaram na eclosão do movimento de rebelião liderado por unidades da Marinha do Brasil. Uma das principais causas foi a adoção de medidas autoritárias e centralizadoras pelo governo de Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do país após a proclamação da República.

O governo de Deodoro, enfrentando desafios políticos e econômicos, concentrou poderes em suas mãos, dissolvendo o Congresso Nacional em 1891 e impondo decretos autoritários, o que contribuiu para a percepção de que o país estava se distanciando dos princípios democráticos e republicanos. Além disso, a falta de estrutura e investimentos na Marinha também desempenhou um papel crucial na eclosão da revolta.

A Marinha, uma das principais forças armadas do Brasil, foi negligenciada pelo governo, que direcionava poucos recursos para sua modernização e fortalecimento. A falta de investimentos em equipamentos, treinamento e condições de trabalho gerou insatisfação entre os oficiais e marinheiros, que se sentiram desvalorizados e marginalizados.

A Revolta da Armada foi motivada por insatisfações dos oficiais em relação ao governo de Deodoro da Fonseca.

Assim, a combinação entre a postura autoritária do governo de Deodoro da Fonseca e a negligência em relação à Marinha criou um ambiente propício para o surgimento da Revolta da Armada.

Veja também: Tenentismo — principal movimento de oposição da elite contra a República Oligárquica

Quais eram os objetivos da Revolta da Armada?

  • Contestar o autoritarismo do governo: durante o governo de Deodoro da Fonseca, a revolta foi motivada, em parte, pela insatisfação com a tendência ditatorial que o governo estava tomando. Os líderes da Marinha se opunham às medidas autoritárias adotadas por Deodoro, como a dissolução do Congresso Nacional e a centralização do poder nas mãos do presidente.
  • Restaurar a ordem constitucional e democrática: eles defendiam a convocação de uma Assembleia Constituinte para definir os rumos do país de forma mais democrática e participativa.
  • Destituir o presidente em exercício: isso aconteceu durante o governo de Floriano Peixoto, que sucedeu Deodoro após sua renúncia. Floriano também enfrentou oposição da Marinha devido às suas políticas autoritárias e à centralização do poder. Um dos objetivos da revolta era destituí-lo da presidência.
  • Restaurar a monarquia: para alguns líderes e membros da Marinha, o principal objetivo da revolta era a restauração da monarquia no Brasil. Eles viam na monarquia uma forma de restaurar a estabilidade política e social no país, especialmente após a instabilidade causada pela proclamação da República e pelos primeiros anos do governo republicano.

Como foi a Primeira Revolta da Armada (1891)

A Primeira Revolta da Armada ocorreu em 1891, logo após a proclamação da República. Os revoltosos, liderados pelo almirante Custódio de Melo, contestaram a legitimidade do governo provisório republicano e exigiram a convocação de uma Assembleia Constituinte para definir os rumos do país. A revolta foi reprimida pelo governo republicano, e muitos dos líderes foram presos ou exilados.

Como foi a Segunda Revolta da Armada (1892-1894)

A Segunda Revolta da Armada teve início em 1892 e se estendeu até 1894. Nessa segunda revolta, os revoltosos buscavam não apenas a restauração da monarquia, mas também a destituição do presidente Floriano Peixoto, que havia assumido o poder após a renúncia de Deodoro da Fonseca.

A revolta foi marcada por confrontos armados em diversas regiões do país, mas acabou sendo derrotada pelo governo republicano.

Intervenção americana na Revolta da Armada

A frota vendida pelos Estados Unidos ao Brasil estava sucateada, mas, ainda assim, venceu os revoltosos.

Durante a Revolta da Armada, os Estados Unidos interferiram através da venda de uma frota naval para o Brasil. Como a Marinha brasileira estava em revolta, não seria possível ao governo reagir sem uma nova frota naval. Porém, a frota vendida pelos americanos estava bastante sucateada, razão pela qual recebeu o nome de “Esquadra de Papelão”.

Uma das causas da Revolta foi a precarização das condições estruturais da Marinha do Brasil, que se confirmaram no desfecho do conflito: a Esquadra de Papelão derrotou a Marinha brasileira, contribuindo para o fim da revolta.

O caso português na Revolta da Armada

Em março de 1894, durante a Revolta da Armada, o capitão de fragata português Augusto de Castilho desempenhou um papel crucial ao conceder asilo ao almirante Saldanha da Gama e aos rebeldes sobreviventes. No entanto, o governo brasileiro não reconheceu esse ato como um gesto de humanitarismo, mas sim como uma concessão indevida a criminosos. Segundo o governo brasileiro, os rebeldes eram acusados de pirataria, o que os excluía do direito de asilo por não serem perseguidos por motivos políticos.

Enquanto isso, o governo português entendia a situação de forma diferente, considerando os rebeldes criminosos políticos e comprometendo-se a não desembarcá-los em território estrangeiro, mantendo-os a bordo até que uma solução diplomática fosse alcançada. No entanto, a questão se complicou quando os navios de Castilho, o Mindello e o Affonso de Albuquerque, não tiveram condições de atravessar o Atlântico para desembarcar os rebeldes em território português.

Diante dessa situação, Castilho navegou com os rebeldes para a Bacia do Rio da Prata, com a intenção de fretar um navio para levá-los para Angola. No entanto, enquanto os navios estavam ancorados na região, ocorreu uma fuga surpreendente de 254 rebeldes, incluindo o próprio almirante Saldanha da Gama, que mais tarde se uniriam aos revolucionários na Revolução Federalista.

O episódio teve repercussões diplomáticas significativas. O ministro de relações exteriores do Brasil, Alexandre Cassiano do Nascimento, rompeu as relações com Portugal em resposta ao ocorrido. Essa ruptura nas relações entre os dois países seria posteriormente reatada durante o governo de Prudente de Moraes. Esses eventos demonstram a complexidade das relações internacionais durante a Revolta da Armada e os desafios enfrentados pelos governos brasileiro e português na gestão dessa crise.

Relação entre a Revolta da Armada e a Revolução Federalista

A Revolta da Armada e a Revolução Federalista foram dois importantes conflitos que marcaram o período da Primeira República brasileira e tiveram interconexões em alguns aspectos: ambos os eventos ocorreram durante a Primeira República brasileira, um período de grande instabilidade política e social, que se estendeu de 1889 a 1930.

Tanto a Revolta da Armada quanto a Revolução Federalista foram motivadas, em parte, pelo descontentamento com o governo central e pela insatisfação com as políticas adotadas pelo governo republicano. Enquanto a Revolta da Armada foi liderada principalmente por setores da Marinha, a Revolução Federalista teve origem no Sul do país, especialmente no Rio Grande do Sul, onde havia forte oposição ao governo central e aos grupos dominantes em outras regiões.

Alguns líderes e participantes da Revolta da Armada acabaram se unindo à Revolução Federalista após o fracasso da revolta naval. Um exemplo notável é o almirante Saldanha da Gama, que escapou da prisão durante a Revolta da Armada e posteriormente se uniu aos federalistas, desempenhando um papel significativo na luta contra o governo central.

Tanto a Revolta da Armada quanto a Revolução Federalista foram marcadas por confrontos armados em várias regiões do país. Enquanto a Revolta da Armada se concentrou principalmente no Rio de Janeiro e em outras áreas costeiras, a Revolução Federalista envolveu uma série de batalhas e conflitos armados no Sul do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

Saiba mais: Revolta dos 18 do Forte — outra rebelião de militares motivada pela insatisfação contra o governo

Consequências da Revolta da Armada

A Revolta da Armada evidenciou a influência dos militares na política brasileira.

A Revolta da Armada contribuiu para o fortalecimento do papel dos militares na política brasileira. Mesmo que os revoltosos tenham sido derrotados, o conflito evidenciou a influência e o poder das Forças Armadas no cenário político do país.

A revolta exacerbou a instabilidade política que já era característica dos primeiros anos da República brasileira. A sucessão de conflitos e revoltas contribuiu para a fragilidade das instituições democráticas e para a percepção de que o país estava passando por um período de instabilidade política crônica.

A intervenção dos Estados Unidos no conflito, em apoio ao governo republicano, destacou a influência estrangeira nos assuntos internos do Brasil. Isso ressaltou a dependência do país em relação às potências estrangeiras e às suas políticas externas. O conflito também teve impactos econômicos significativos, especialmente devido à intervenção estrangeira e à instabilidade política. Isso afetou diversos setores da economia brasileira, contribuindo para um clima de incerteza e dificultando o desenvolvimento econômico do país.

Apesar da derrota da Revolta da Armada, o movimento reacendeu o debate sobre a restauração da monarquia no Brasil. Muitos membros da elite brasileira, descontentes com a instabilidade política e os rumos do governo republicano, passaram a ver na monarquia uma possível solução para os problemas do país.

Exercícios resolvidos sobre a Revolta da Armada

1. Durante a Primeira República brasileira, uma série de revoltas e conflitos marcou o cenário político do país. Um desses eventos foi a Revolta da Armada, que teve origem em descontentamentos internos e influência externa. Sobre as causas desse movimento, assinale a alternativa correta:

A) A Revolta da Armada foi motivada principalmente pela falta de apoio popular aos líderes republicanos.

B) Um dos fatores que contribuíram para a Revolta da Armada foi a insatisfação dos militares com a Ditadura Militar e a falta de investimentos na Marinha.

C) A Revolta da Armada teve como principal causa a intervenção diplomática da França nos assuntos internos do Brasil.

D) O descontentamento com as políticas agrárias adotadas pelo governo central foi o principal motivo da Revolta da Armada.

E) A Revolta da Armada foi resultado direto da influência política da Igreja Católica sobre as Forças Armadas.

Resposta correta: B) A falta de apoio popular aos líderes republicanos e a intervenção diplomática da França não foram os principais motivos da Revolta da Armada. A insatisfação dos militares com a Ditadura Militar e a falta de investimentos na Marinha foram fatores-chave que contribuíram para o movimento de rebelião.

2. A Revolta da Armada, ocorrida no Brasil entre 1891 e 1894, teve consequências significativas para a história do país. Sobre essas consequências, assinale a alternativa correta:

A) Uma das principais consequências da Revolta da Armada foi a restauração da monarquia no Brasil, com a reabertura do Congresso Nacional e a convocação de eleições para escolha do novo imperador.

B) A Revolta da Armada não teve impacto significativo na política brasileira, sendo rapidamente esquecida após o término dos conflitos.

C) Uma das consequências da Revolta da Armada foi o fortalecimento do poder civil e o enfraquecimento das Forças Armadas, que perderam influência política no país.

D) O principal legado da Revolta da Armada foi a intensificação das relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, que resultou em um acordo de cooperação militar entre os dois países.

E) A Revolta da Armada contribuiu para a perpetuação da instabilidade política na Primeira República brasileira e o fortalecimento do poder militar como ator político relevante.

Resposta correta: E) A Revolta da Armada teve um impacto significativo na política brasileira, contribuindo para a persistência da instabilidade política e o fortalecimento do poder militar como uma influência política relevante no país. As outras alternativas apresentam informações incorretas ou irrelevantes em relação às consequências desse evento histórico.

Créditos da imagem

[1] Wikimedia Commons

Fontes

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2012

SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Cia. das Letras, 2018.

Por: Tiago Soares Campos

Assista as nossas videoaulas:

Artigos Relacionados

Últimas Aulas

Predicado
Heresias Medievais
Força Peso
Os três poderes: o que são e como funcionam?
Todas as vídeo aulas

Versão completa