Atentado da Rua Tonelero

O Atentado da Rua Tonelero dirigiu-se contra a vida do principal opositor de Getúlio Vargas, o jornalista Carlos Lacerda. Esse acontecimento selou o isolamento de Vargas.

Carlos Lacerda logo após o atentado sofrido na Rua Tonelero*

O Atentado da Rua Tonelero foi um episódio que aconteceu no dia 5 de agosto de 1954, quando pistoleiros realizaram um atentado contra a vida do jornalista Carlos Lacerda na cidade do Rio de Janeiro. Esse acontecimento intensificou a crise política enfrentada por Getúlio Vargas durante seu governo democrático e abriu o caminho para que ele cometesse suicídio poucos dias depois.

Antecedentes

O Atentado da Rua Tonelero está inserido dentro do contexto do segundo governo de Getúlio Vargas, conhecido como governo democrático, durante o período da Quarta República. Getúlio Vargas havia sido eleito para a posição de presidente após vencer a eleição de 1950, derrotando Eduardo Gomes (UDN) e Cristiano Machado (PSD) na eleição.

O grande destaque desse governo de Getúlio Vargas foi a defesa de uma pauta nacionalista, o que dividiu a política brasileira e levou os adversários políticos de Vargas à radicalização. O debate econômico daquele período voltava-se bastante para os caminhos que o Brasil deveria seguir para garantir o desenvolvimento econômico.

Dentro das pautas que eram debatidas, Getúlio Vargas tinha uma preferência aberta pela política nacionalista. Assim, o governo de Vargas defendia que determinadas áreas da economia brasileira deveriam ser exploradas e desenvolvidas a partir de recursos e de empresas nacionais. Dentro dessa questão, uma campanha teve grande peso e repercutiu largamente na sociedade brasileira.

A Campanha do Petróleo despontou em meados de 1951 e basicamente defendia que a exploração desse recurso deveria ser realizada por uma empresa brasileira. Essa campanha levou ao projeto que resultou na criação da Petrobras em 1953, empresa que iniciou funcionamento com monopólio da exploração do petróleo brasileiro e também causou a fúria dos opositores de Vargas.

A oposição a Vargas nesse período era representada pelas alas conservadoras da nossa política e sociedade que se concentravam ao redor da União Democrática Nacional (UDN). O grande nome da oposição varguista nesse período era o do jornalista Carlos Lacerda. A proposta de nacionalização do petróleo, outras medidas que buscavam nacionalizar a exploração de nossos recursos e a ampliação da intervenção estatal sobre a economia desagradaram fortemente a esses grupos, seja por interesses internos, seja por alguns estarem vinculados com interesses do capital estrangeiro.

Os ataques contra o governo de Getúlio Vargas exploravam o temor ao comunismo que existia no Brasil. Getúlio Vargas era atacado como um político demagogo e que tinha como projeto a implantação de uma “República Sindicalista” no Brasil (algo como uma ditadura dos trabalhadores).

Esses ataques ganharam intensidade a partir de 1953 por causa da política trabalhista do governo de Vargas. Em 1953, houve diversas demonstrações da insatisfação dos movimentos de trabalhadores em virtude da alta da inflação e do aumento do custo de vida. Naturalmente, a insatisfação dos trabalhadores gerou uma reação de Vargas, que nomeou João Goulart para o Ministério de Trabalho.

João Goulart, nessa época, era um jovem político conhecido por sua extensa capacidade de negociação e por ter uma boa relação com os movimentos sindicais. Ele conseguiu controlar os ânimos dos movimentos trabalhistas, porém, a oposição colocou-o como alvo de seus ataques e ampliou as acusações sobre Vargas de querer implantar uma ditadura sindicalista.

Os ataques da oposição, naturalmente, eram infundados, mas contribuíram fortemente para a perda de popularidade do governo. Os ataques realizados por Carlos Lacerda eram diários, e muitas das acusações eram falsas. Carlos Lacerda utilizava seu jornal de pouca tiragem – Tribuna da Imprensa – para ampliar a repercussão de seus ataques.

Por sua atuação, Carlos Lacerda tornou-se inimigo aberto do governo, e os apoiadores de Vargas descontentes com o estrago que o jornalista fazia na popularidade do governo acharam que era hora de eliminar Lacerda.

Atentado da Rua Tonelero

Os apoiadores de Vargas decidiram que era o momento de eliminar Lacerda para preservar a estabilidade do governo. Assim, segundo o historiador Thomas Skidmore, “o general Mendes de Moraes e o deputado Euvaldo Lodi sugeriram a Gregório Fortunato, chefe da guarda do palácio presidencial, que era seu dever ‘cuidar’ de Lacerda”|1|.

Gregório Fortunato servia Vargas há mais de trinta anos e convenceu-se a agir depois que lhe sugeriram “cuidar” de Lacerda. Fortunato contratou um pistoleiro profissional e deu as instruções para que ele assassinasse Carlos Lacerda. O atentado aconteceu no dia 5 de agosto de 1954, quando Carlos Lacerda chegava em sua residência, localizada em Copacabana.

A execução do atentado foi um fracasso, e Carlos Lacerda sofreu um ferimento leve no pé. No entanto, o guarda-costas de Lacerda, o major da Aeronáutica Rubens Vaz, foi morto. Esse cenário deu início a uma crise política sem precedentes no governo de Vargas. Com isso, a relação de Vargas com as Forças Armadas azedou de vez.

A investigação que se fez para desvendar os envolvidos no atentado foi conduzida pela Aeronáutica, que atropelou a determinação da justiça de se realizar uma investigação independente. Essas investigações descobriram um mar de corrupção ao redor das pessoas que ocupavam cargos no Palácio do Catete.

A descoberta de corrupção em meio aos assessores presidenciais e a comprovação de que Gregório Fortunato havia sido o mandante do atentado foram a pá de cal sobre o governo de Vargas, isto é, determinaram o fim do governo varguista. As Forças Armadas passaram a exigir de maneira taxativa a renúncia de Vargas, que afirmava que só sairia do Palácio do Catete (palácio presidencial) morto.

Vargas isolou-se no Palácio do Catete e, percebendo que sua situação era irremediável, cometeu suicídio no dia 24 de agosto de 1954, apenas 19 dias depois de acontecido o atentado contra Lacerda. Vargas deixou uma “carta-testamento”, na qual alegava ter sido perseguido durante todo o seu governo.

O suicídio de Vargas causou grande comoção na população, que espontaneamente passou a perseguir todas as figuras que estavam diretamente relacionados com a oposição a Getúlio Vargas durante o seu governo. Carlos Lacerda, por exemplo, foi obrigado a fugir do país às pressas.

*Crédito da imagem: CPDOC/FGV

|1| SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castello (1930-1964). São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 473.

Por: Daniel Neves Silva

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