Milagre econômico brasileiro

O milagre econômico brasileiro foi uma das principais bandeiras de propaganda da ditadura civil-militar em seu início, apontando para a modernização do país.

Ponte Rio-Niterói passa sobre a Baía de Guanabara e é um dos símbolos do milagre econômico brasileiro

Durante o período da ditadura civil-militar que vigorou no país entre 1964 e 1985, verificou-se um crescimento econômico acelerado, principalmente entre 1968 e 1974, conhecido como o milagre econômico brasileiro.

Alcançando taxas médias de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 10% ao ano, o milagre econômico brasileiro era a aposta dos militares para modernizar industrialmente o país, ao mesmo tempo em que mantinha uma intensa e violenta repressão aos opositores políticos.

O principal nome da área econômica responsável pela gestão desse “milagre” foi o economista paulista Antônio Delfim Netto, então Ministro da Fazenda. O objetivo era modernizar a economia do país através de alguns pontos considerados essenciais: o controle inflacionário, já que o índice de aumento de preços havia chegado à 91,9% em 1964; o estímulo ao investimento de capital externo em alguns setores econômicos; o controle do aumento salarial dos trabalhadores, sempre abaixo da inflação; o investimento de capital estatal em setores estratégicos e básicos, como energia e transporte, que garantiria criar condições gerais de produção para o capitalismo no Brasil; e um processo de modernização agrícola, baseado na mecanização dos grandes latifúndios.

Grandes parques industriais foram construídos no país, principalmente na região Sudeste. A força de trabalho que laborava nesses locais era decorrente da massa de pessoas que deixou a zona rural. Esse êxodo causado pelo processo de mecanização da agricultura foi decorrente da diminuição de postos de trabalho nas novas fazendas-indústrias, que privilegiavam trabalhadores mais qualificados e mais produtivos. Porém, grande parte dos trabalhadores (os boias-frias ou volantes) continuavam trabalhando em situações precárias em atividades sazonais no campo e morando nas periferias das cidades, sem habitação adequada, transporte público ou mesmo acesso à educação.

Os trabalhadores que saíram do campo também construíram grandes obras públicas, como a hidrelétrica de Itaipu ou a ponte Rio-Niterói. Ao mesmo tempo em que o regime civil-militar controlava os salários, buscava-se aumentar o consumo das camadas populacionais de renda mais alta e dos trabalhadores mais qualificados. O automóvel montado no Brasil tornou-se um dos símbolos do período. Uma Política Nacional de Habitação foi criada, baseando-se na expansão de linhas de crédito de financiamento habitacional.

Uma das principais consequências do milagre econômico brasileiro foi a intensificação da concentração de renda entre os mais ricos do país. Em 1972, os mais ricos, que consistiam em 1% da população, detinham cerca de 39,8% da renda nacional, enquanto, em 1960, essa concentração era de 28,3%. O regime afirmava que era preciso primeiro fazer o bolo crescer para que ele fosse dividido. Mas tal divisão não foi efetivada.


A hidrelétrica de Itaipu foi um dos investimentos do Estado para garantir o oferecimento de energia para o crescimento econômico

Criou-se com esse cenário a imagem do Brasil como uma potência econômica, prestes a entrar no rol de países de primeiro mundo, já que era a 8ª econômica do planeta. Amparado nas conquistas do futebol, pretendendo colar a imagem do avanço econômico com as vitórias na Copa do Mundo de 1970, os slogans de “Pra Frente Brasil” e “Ninguém segura este país” foram adotados pelos militares.

Porém, a mudança do cenário internacional com a Crise do Petróleo, em 1973, e os problemas econômicos no capitalismo ocidental decorrentes dela frearam a manifestação do “milagre”. Os grandes investimentos realizados pelo Estado e as facilidades dadas ao capital internacional aumentaram consideravelmente a dívida pública do Brasil. A exportação dos produtos agrícolas, minerais e industriais diminuíram.

Frente à crise, a política do Estado não foi de criar mecanismos que efetivamente a enfrentariam. Em vez disso, o Estado pretendeu salvar a burguesia financeira e industrial. Mais uma vez era a população trabalhadora que arcava com as consequências econômicas desfavoráveis. Mesmo com as subsequentes políticas econômicas do regime, os níveis de crescimento econômico não foram os mesmos do “milagre econômico brasileiro”.

Por: Tales Pinto

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