A marquesa de Santos, também conhecida como Domitila de Castro Canto e Melo, teve seu nome marcado na história brasileira como a amante de d. Pedro I. Seu caso com o imperador durou sete anos e rendeu-lhe títulos, riqueza e o ódio de muitos que não o aprovavam.
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Origens e juventude
Domitila de Castro Canto e Melo, mais conhecida na história brasileira como marquesa de Santos, nasceu na cidade de São Paulo, em 27 de dezembro de 1797. Ela vinha de uma família bastante tradicional da cidade, e seu pai chamava-se João de Castro do Canto e Melo, e sua mãe, Escolástica Bonifácia de Oliveira Toledo e Ribas.
Muito provavelmente, Domitila, assim como suas três irmãs, Maria, Benedita e Ana Cândida, teve educação muito conservadora. Ela não teve um acesso muito regular à leitura, portanto, tinha certa dificuldade com a escrita, fato comprovado pela dificuldade que ela tinha de escrever seu próprio nome. Domitila ainda teve uma terceira irmã chamada Fortunata, mas esta não sobreviveu à infância.
Casamento
Domitila foi a última filha de João de Castro a casar-se. Isso não significa que ela se casou com idade avançada, uma vez que seu casamento aconteceu quando tinha 15 anos de idade. Seu primeiro marido foi o militar Felício Pinto Coelho de Mendonça. Ele era um alfares que fazia parte de um esquadrão baseado em Vila Rica (atual cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais).
Felício Pinto era um homem de boa origem familiar (entenda-se: de uma família rica), uma vez que seu pai era capitão-mor e dono de lavras de ouro, além de possuidor de escravizados. O escritor Paulo Rezzutti compara a diferença na situação entre as famílias e mostra que o pai de Felício tinha cerca de 200 escravos, enquanto o pai de Domitila tinha apenas três|1|.
O casamento de Domitila aconteceu em 13 de janeiro de 1813, e, meses depois, a missão de Felício em São Paulo acabou, e ele retornou para Vila Rica com sua esposa. Desse casamento, Domitila gerou três filhos: Francisca, Felício e João. A união, no entanto, não foi feliz porque seu marido era alcoólatra, viciado em jogos e violento.
Domitila chegou a abandonar sua casa em Vila Rica, por causa da agressividade de seu marido, retornando para a casa de seus pais, em São Paulo, em 1816. A partir do ano seguinte, ela se reaproximou do marido, mas o casamento quase terminou em tragédia quando, em 1819, Felício tentou assassinar Domitila. Ela foi esfaqueada na perna e barriga e ficou dois meses em recuperação.
Seu marido alegou traição para justificar sua atitude, mas ele nunca conseguiu comprovar a sua acusação, e Domitila entrou com o pedido de divórcio. Em 1824, ela teve sucesso no pedido, em grande medida, pela ajuda do imperador. Além do divórcio, ela manteve a guarda dos seus filhos.
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Romance com d. Pedro I
O grande momento da vida de Domitila, do ponto de vista histórico, foi o seu envolvimento com d. Pedro I, imperador do Brasil entre 1822 e 1831. Quando Domitila conheceu d. Pedro, ele ainda não era imperador e o Brasil ainda não era independente cronologicamente. O encontro dos dois aconteceu em agosto de 1822, poucas semanas antes do grito do Ipiranga.
D. Pedro já era regente do Brasil e estava à frente de todo o processo de separação, e viajava por São Paulo quando conheceu Domitila. Não se sabe exatamente quando foi iniciado o romance entre os dois, mas acredita-se que tenha sido poucos dias depois de terem se conhecido.
D. Pedro já era casado com a austríaca d. Maria Leopoldina, mas isso nunca foi impedimento para o futuro imperador do Brasil, muito famoso por seus casos e por ser mulherengo. Por sete anos, Domitila, chamada por d. Pedro I de Titília, foi amante do imperador, e o caso só teve fim porque d. Pedro I precisou casar-se novamente.
Durante esses sete anos, Domitila soube aproveitar-se da situação. Ele contava com os inúmeros favores do imperador, que fazia as suas vontades, além de dar a ela riqueza e títulos. A situação não foi diferente para os familiares de Domitila, que também gozaram de muitos privilégios com o imperador.
O caso extraconjugal que os dois mantinham era conhecido em toda a corte, e o imperador não fazia questão de escondê-lo da própria esposa. D. Pedro I chegou a nomear sua amante como dama da imperatriz, e levou-a em uma viagem oficial à Bahia, junto de Leopoldina e de sua filha mais velha. Isso gerou muita indignação na época.
Essa situação fez de Domitila uma pessoa muito impopular e odiada na Corte, mas muitos se silenciavam por temerem o imperador. Domitila teve até algumas de suas propriedades apedrejadas no Rio de Janeiro. Esse ódio tornou-se mais intenso depois que Leopoldina faleceu, em 1826, vítima de um aborto que pode ter sido causado por agressões do imperador durante uma discussão.
Domitila gerou cinco filhos ilegítimos com d. Pedro I. Um desses filhos nasceu morto, dois morreram na infância, e somente Isabel Maria e Maria Isabel sobreviveram. Elas, assim como sua mãe, receberam títulos nobiliárquicos do imperador, sendo conhecidas como duquesa de Goiás (Isabel Maria) e condessa de Iguaçu (Maria Isabel).
Os títulos de Domitila, por sua vez, foram os seguintes:
- viscondessa de Santos, recebido em 1825;
- marquesa de Santos, recebido em 1826.
Os detalhes íntimos da relação de d. Pedro I e Domitila foram revelados por centenas de cartas trocadas entre eles, e, em muitas delas, o imperador fazia menção aos seus desejos sexuais. Fala-se que ele chegou a desenhar seu órgão sexual e a colocar pelos pubianos nessas cartas.
A relação de d. Pedro I com Domitila estendeu-se até 1829, mas o imperador foi obrigado a encerrá-la para que pudesse contrair um segundo casamento. Sua má fama obtida com o caso extraconjugal tornou difícil a obtenção de uma segunda esposa, e o afastamento da amante permitiu que o imperador se casasse com Amélia de Leuchtenburg.
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Morte
Depois de ser afastada de d. Pedro I, Domitila retornou para São Paulo, casando-se uma segunda vez. Seu segundo marido chamava-se Rafael Tobias de Aguiar, e, com ele, Domitila teve seis filhos. Antes de casar-se novamente, ela teve uma casa em São Paulo muito famosa por receber festas dadas por ela: o Solar da Marquesa. Domitila viveu até a margem dos 70 anos, falecendo em 3 de novembro de 1867.
Nota
|1| REZZUTTI, Paulo. Domitila: a verdadeira história da marquesa de Santos. São Paulo: Books, 2017.
Créditos da imagem
[1] Commons