A Guerra do Paraguai foi o maior conflito que aconteceu na história da América do Sul e, diferentemente do que se acreditava antes, não foi motivada pelo imperialismo inglês.
A Guerra do Paraguai foi o maior conflito que aconteceu na história do continente sul-americano e estendeu-se de 1864 a 1870. Foi motivada pelos diferentes interesses das nações envolvidas, concentrando-se, principalmente, na disputa política que era travada no Uruguai durante a década de 1860.
Causas da Guerra do Paraguai
O estudo das causas da Guerra do Paraguai foi (e ainda é) motivo de intenso debate entre os historiadores nos últimos anos, e o entendimento que se tem hoje a respeito das causas dessa guerra alterou-se profundamente. Atualmente existe uma análise dos acontecimentos com maior embasamento em documentação e menos ideologizada.
As causas da Guerra do Paraguai estão concentradas no processo de formação das nações da Bacia Platina e nos diferentes interesses econômicos e políticos que cada uma dessas nações possuía. Esses interesses colocaram as nações em choque, sobretudo, durante a Guerra Civil Uruguaia, que foi fundamental para que as hostilidades começassem.
Primeiramente, a antiga interpretação das causas do conflito (os historiadores chamam isso de historiografia) afirmava que a Guerra do Paraguai havia sido motivada principalmente pelo interesse da Inglaterra em destruir o suposto modelo econômico autônomo que havia sido desenvolvido no Paraguai. A partir daí, Brasil e Argentina teriam sido manipulados para agredir o Paraguai e destruir sua economia.
Essa interpretação, conforme mencionado, é considerada pelos historiadores atualmente como INCORRETA e sem fundamentação documental. Estudos recentes apontam que as causas da guerra estão inseridas dentro do próprio contexto da Bacia Platina e resultaram do choque de interesses entre as nações envolvidas.
Outro ponto importante é que o Paraguai NÃO ERA um modelo de desenvolvimento autônomo, pois, segundo o historiador Francisco Doratioto:
[…] o Paraguai era um país agrícola atrasado; o regime autoritário não tinha “sentido social”, mas sim, o de uma ditadura para manter no poder Solano López. Este, com a família, utilizava o Estado como propriedade pessoal e, ainda, se apropriava de parte dos lucros gerados pela atividade agropecuária e extrativista de particulares|1|.
As hostilidades entre Brasil e Paraguai começaram a ganhar forma a partir da década de 1860, principalmente depois da posse de Francisco Solano López como ditador do Paraguai em 1862. Solano López colocou em prática uma política externa agressiva, que buscava colocar o Paraguai como uma potência alternativa no Cone Sul, rivalizando com Brasil e Argentina.
Inicialmente, Francisco Solano López aproximou-se dos federalistas, um grupo rebelde da Argentina, liderado por Justo José Urquiza, que se concentrava nas províncias de Entre Rios e Corrientes e que lutava contra o governo de Buenos Aires, representado por Bartolomé Mitre. A aproximação do Paraguai com os federalistas possibilitou também a aproximação paraguaia com o Uruguai, governado pelos blancos.
Essa aproximação entre o Paraguai e o governo uruguaio apresentava uma oportunidade importante para a economia paraguaia: uma saída para o mar a partir do porto de Montevidéu. Isso porque os paraguaios não poderiam utilizar o porto de Buenos Aires em razão da aliança existente entre o Paraguai e os federalistas.
A aproximação do Paraguai com federalistas e blancos desagradou o presidente argentino Bartolomé Mitre, que era adversário dos federalistas e aliado de outro partido no Uruguai, os colorados. Já o governo brasileiro desagradou-se da aproximação do Paraguai com os blancos, pois esse partido tinha interesses que iam contra os interesses brasileiros na região.
Toda essa relação agravou-se a partir de 1863, quando Venancio Flores, líder dos colorados, invadiu o Uruguai (apoiado pelos argentinos) e iniciou uma guerra civil contra os blancos. Pouco antes disso, o governo brasileiro estava sendo pressionado pelos estancieiros gaúchos a tomar alguma ação contra o governo blanco, pois as medidas tomadas pelos blancos prejudicavam as atividades econômicas dos gaúchos na região.
Essa pressão fez com que o governo brasileiro demonstrasse interesse em intervir na Guerra Civil Uruguaia sob a alegação de defender os cidadãos brasileiros, que supostamente estavam sendo agredidos por milícias dos blancos. A intenção do governo brasileiro em intervir na guerra a favor dos colorados gerou muita insatisfação em Francisco Solano López, que ameaçou atacar o Brasil caso o país invadisse o Uruguai.
No entanto, a relação entre Brasil e Paraguai já era tensa, pois havia entre as duas nações um litígio territorial. Os dois países reivindicavam um pedaço de terra que corresponde atualmente ao Mato Grosso do Sul. Além disso, havia uma discussão entre os dois países acerca da navegação nos rios da Bacia Platina que cruzavam o Paraguai e o Brasil. Defendia-se a livre navegação nesses rios.
A intervenção brasileira no Uruguai, portanto, só contribuiu para desgastar mais uma relação já bastante complicada e, apesar das ameaças paraguaias, o Brasil invadiu o Uruguai em setembro de 1864. O Brasil, que não esperava que o Paraguai cumprisse suas ameaças, foi de fato atacado em dezembro de 1864, quando a embarcação Marquês de Olinda foi aprisionada por autoridades paraguaias, e a província do Mato Grosso foi invadida. A guerra, então, teve início.
Principais eventos da Guerra do Paraguai
A Guerra do Paraguai pode ser dividida em dois momentos: um período inicial e bem curto em que as ações ofensivas foram tomadas pelo Paraguai, e outro período de maior duração em que o Paraguai ocupou as ações defensivas do conflito. Logo após invadir o Mato Grosso, Solano López ordenou a invasão do Rio Grande do Sul e de Corrientes. Nesse período, o Paraguai esteve à frente das ações.
A invasão da província de Corrientes fez com que a Argentina entrasse no conflito contra o Paraguai. Isso aproximou diplomaticamente Brasil e Argentina, que, juntamente ao Uruguai (nesse momento já governado pelos colorados), assinaram o Tratado da Tríplice Aliança em maio de 1865. Os três países acordaram que lutariam juntos pela derrubada do ditador Solano López.
O ataque realizado pelos paraguaios contra o Rio Grande do Sul e Corrientes terminou com os exércitos paraguaios sendo derrotados e recuando novamente para o território paraguaio na segunda metade de 1865. A partir daí, a guerra estendeu-se por quase cinco anos com os membros da Tríplice Aliança derrotando o Paraguai de maneira gradual e lenta.
Ao longo do conflito, milhares de soldados morreram de cólera ou por causa dos ferimentos (isso era extremamente comum nas guerras travadas no século XIX). Dos principais acontecimentos do conflito, podem ser destacados:
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Batalha Naval de Riachuelo: a Marinha Brasileira destruiu inteiramente a Marinha Paraguaia e impôs um bloqueio que isolou o Paraguai até 1870;
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Batalha de Curupaiti: os exércitos da Tríplice Aliança sofreram uma grande derrota, que causou a morte de, pelo menos, quatro mil soldados (existem estimativas que apontam a morte de até 9 mil);
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Batalha de Acosta Ñu ou Batalha de Campo Grande: essa batalha aconteceu já no final da guerra e ficou conhecida pelo fato de o exército paraguaio, nessa ocasião, ter sido composto em grande maioria por crianças de até 15 anos.
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Batalha de Cerro Corá: batalha final que resultou na morte de Solano López por soldados brasileiros e pôs fim ao conflito.
Consequências da Guerra do Paraguai
A Guerra do Paraguai trouxe inúmeras consequências para as nações envolvidas, porém, as duas nações que mais sofreram impactos foram as que mais se envolveram com o conflito, ou seja, Paraguai e Brasil. No caso paraguaio, a guerra contribuiu para a destruição da pouca infraestrutura que o país possuía e contribuiu para a morte de aproximadamente 150 mil pessoas.
No caso do Brasil, a guerra contribuiu para o endividamento da nossa economia com os gastos superando em onze vezes o orçamento da nação para 1864. A guerra também marcou a início da decadência da Monarquia no Brasil e iniciou o afastamento entre a Monarquia e o Exército, o que resultou no golpe que proclamou a República em 15 de novembro de1889.
Nota
|1| DORATIOTO, Francisco. Guerra do Paraguai. In.: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2013, p. 255.