A Guerra do Contestado se inseriu no contexto dos movimentos populares durante os primeiros anos da República brasileira. Originada na área rural, assemelhou-se à Guerra de Canudos pelo caráter religioso, de contestação social contra os latifundiários, empresários regionais e também contra o governo federal instituído depois da Proclamação da República. Assemelhou-se ainda à Guerra de Canudos por ter sido uma guerra civil, opondo parte da população às forças militares federais.
O nome de Contestado estava ligado ao fato do local dos conflitos ser uma área fronteiriça entre Santa Catarina e Paraná. Em virtude da existência de uma rica floresta e plantações de erva-mate, a área era contestada pelos dois estados. Além disso, os posseiros que habitavam a região foram inicialmente expulsos de suas terras por grandes companhias empresariais que tinham interesse na exploração econômica da região.
A situação se agravou ainda mais quando houve a construção de uma ferrovia que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul. A obra era responsabilidade de uma empresa estadunidense, a Brazil Railway Company, que além da exploração da ferrovia, havia conseguido no contrato o direito de exploração das terras à margem do caminho de ferro. A principal atividade nestas terras seria a extração de madeira que ficaria a cargo de uma empresa que empregaria serrarias modernas, causando o desemprego da força de trabalho que vivia da exploração madeireira na região.
Os trabalhadores ficaram, dessa forma, sem acesso ao uso da terra e também desempregados. Nessa situação de desespero social, ganharam força os discursos e práticas religiosas de alguns pregadores que viviam na região. Dentre esses pregadores, destacou-se o “monge” José Maria. José Maria era a alcunha adotada por Miguel Lucena Boaventura, um ex-soldado do exército, católico, curandeiro e monarquista, que acreditava na volta de São Sebastião, o messias que iria melhorar as condições de vida da população explorada.
São Sebastião era, na verdade, o rei D. Sebastião, soberano português que morreu jovem na batalha de Alcácer-Quibir, no século XVI, e deu origem a uma lenda messiânica sobre sua volta, principalmente pelo fato de Portugal ter sido anexado pela Espanha após sua morte. Segundo a lenda portuguesa, D. Sebastião não havia morrido, já que seu corpo não havia sido encontrado e, quando retornasse, levaria novamente o Império português à glória de tempos anteriores.
O “monge” José Maria adotou este messianismo e com ele conseguiu angariar apoio da população sem terra e desempregada da região para encontrarem formas de transformar suas vidas. A defesa da Monarquia acontecia em virtude da identificação da República com a entrega de terras às empresas estrangeiras, roubando dos trabalhadores o direito que eles tinham sobre a terra. A legislação que regulamentava essa situação era a lei do diabo, dando um caráter religioso a um problema político e social. Nesse sentido, pregavam a constituição da Monarquia Celeste.
José Maria fundou ainda a comunidade de Quadro Santo, com os habitantes da região, que vivia do roubo de gado das propriedades da região. Formou ainda um grupo chamado Os Doze Pares de França com o intuito de defender a comunidade. Constituíram ainda a Monarquia Sul-brasileira, cujo manifesto foi publicado em 1914 por vários jornais do país.
Porém, já em 1912, as forças oficiais paranaenses, buscando conter a ampliação do movimento, pediram auxílio ao governo do presidente Hermes da Fonseca. Tropas foram enviadas para desmantelar o movimento. Mas os pelados (como eram conhecidos os seguidores de José Maria, por rasparem a cabeça) conseguiram resistir durante alguns anos. Em 1912, José Maria morreu em combate, mas a resistência às tropas federais se deu até 1915, quando o exército conseguiu por fim ao movimento após o envio de oito expedições.
O saldo de mortos foi calculado entre 2 e 6 mil pessoas. Pela primeira vez aviões eram usados em combates no Brasil, mostrando a forma de tratamento dada pelo governo federal à população durante a República Velha.
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