Governo Médici: repressão e crescimento econômico

O governo de Emílio Médici representou o pico da repressão da ditadura civil-militar, ao mesmo tempo em que o país conhecia níveis elevados de crescimento econômico.

O ditador-presidente Médici com a equipe de futebol campeã da Copa do Mundo de 1970.*

O governo do ditador-presidente Emílio Garrastazu Médici representou o auge da violência e da repressão do Estado contra a população no período em que vigorou a ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985). Entretanto, as campanhas publicitárias de ufanismo nacionalista e o chamado “milagre econômico” brasileiro serviram também para encobrir as torturas, estupros e assassinatos dos opositores da ditadura.

Médici ocupou a presidência da República entre 1969 e 1974 após o afastamento de seu antecessor Costa e Silva. Foi em seu governo que vigorou intensamente o AI-5, resultando na perseguição, investigação, coleta de informação, censura e tortura às pessoas que se opunham à ditadura civil-militar. As guerrilhas rurais, cujos focos se localizavam no Vale do Ribeira (São Paulo), na Serra do Caparaó (Minas Gerais) e no Araguaia (Pará/Goiás), foram derrotadas nesse governo após a maior operação militar brasileira desde a Segunda Guerra Mundial.

As guerrilhas urbanas que também haviam conseguido relativo sucesso foram debeladas durante o governo de Médici, principalmente após a criação de uma vasta rede de obtenção de informações para as operações de contraguerrilha. Órgãos de informação das Forças Armadas, como o Centro de Informação do Exército (CIEx), o Centro de Informações da Marinha (Cenimar) e o Centro de Informação Social do Exército (Cisa), somaram-se ao Serviço Nacional de Informação (SNI) para enfrentar as pessoas e grupos que se opunham à ditadura civil-militar. Uma das principais formas de obtenção das informações, além de escutas, eram a prisão e tortura das pessoas investigadas.

Havia ainda em cada região militar um Comando de Operações de Defesa Interna (Codi) que controlava a ação das tropas dos Destacamentos de Operações Internas (DOI). O objetivo do chamado DOI-Codi era garantir a política de Segurança Nacional, que, com a ditadura civil-militar, passou a incluir, além dos possíveis inimigos externos, os chamados inimigos internos, formados por grupos políticos e forças sociais que eram considerados uma ameaça à estabilidade do Estado controlado pelos militares.

Foi formada ainda a Operação Bandeirante (Oban), que contava com fontes de financiamento de grandes empresários do país e que subordinava policiais militares e oficiais dos serviços de informação das Forças Armadas com o objetivo de auxiliar na repressão aos opositores. Era comandada pelo delegado paulista Sérgio Paranhos Fleury, que anteriormente comandava os chamados “esquadrões da morte”, grupo de policiais que exterminava policiais comuns.

A censura aos meios de comunicação servia para encobrir tais ações e também para evitar a divulgação de opiniões e ideias contrárias à ditadura civil-militar.

Uma grande campanha de publicidade e ufanismo nacionalista foi promovida durante o governo de Médici. A ideia da construção do Brasil potência, do país grande e em crescimento para chegar ao primeiro mundo era utilizada como forma de apoio às medidas do governo. Slogans como “Para Frente Brasil!”, “Ninguém Segura este país” e “Brasil: Ame-o ou deixe-o” foram criações do governo Médici.

A Copa do Mundo de futebol de 1970 serviu para inflamar o sentimento nacionalista e também para mostrar o ditador-presidente como um cidadão comum brasileiro, aparecendo em fotos e imagens televisivas torcendo pela vitória de seu país.


Usina de Itaipu, uma das obras faraônicas do “milagre econômico brasileiro”.

Na economia, a manutenção de parte da equipe econômica de Costa e Silva, principalmente o ministro Delfim Netto, resultou em um planejamento econômico, o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que gerou altos índices de crescimento, chegando a aumentar o PIB em mais de 10% ao ano.

O chamado “milagre econômico brasileiro” proporcionou às camadas de renda média e elevada da população o aumento do nível de bens de consumo individual, a garantia de somas elevadas de investimento estrangeiro, além de um processo intenso de industrialização. Obras faraônicas foram construídas, como a usina hidrelétrica de Itaipu, a rodovia Transamazônica e a ponte Rio-Niterói.

Apesar do crescimento econômico, a classe trabalhadora de rendimentos mais baixos não foi beneficiada com o “milagre econômico”. A política de arrocho salarial e de repressão às lutas de reivindicações por melhores salários acabou resultando em um aumento da concentração de renda por parte de uma minoria da população brasileira. Ao lado da vitória na Copa do Mundo e do crescimento do “Brasil Potência”, eram mantidas nas sombras a repressão e tortura aos opositores políticos e miséria de grande parte da população.

Crédito da Imagem: Arquivo Público do Estado de São Paulo.

Por: Tales Pinto

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