Getúlio Vargas

Getúlio Vargas foi o presidente que mais tempo ficou no poder no Brasil e promoveu mudanças como industrialização, leis trabalhistas e modernização da administração pública.

Getúlio Vargas, ao centro, com seus aliados, logo após a vitória da Revolução de 1930, que o conduziu ao poder. [1]

Getúlio Vargas foi o político que mais tempo governou durante o período republicano. Ele chegou ao poder em 24 de outubro de 1930, logo após a vitória da revolução que acabou com a República Velha. Vargas governou o país de forma centralizada e realizou mudanças significativas, com impactos em toda a sociedade, como a política de industrialização e a aproximação da classe trabalhadora.

Ele foi deposto pelos militares em 1945, mas voltou ao poder cinco anos depois, eleito pelo voto popular ou, como gostava de dizer, “nos braços do povo”. Nessa segunda passagem pela presidência, Vargas encontrou uma forte oposição que o criticava tanto no Parlamento como na imprensa. Em agosto de 1954, seu governo passou por uma grave crise político-militar. Em 24 de agosto do mesmo ano, Getúlio Vargas se suicidou e deixou uma carta testamento, na qual, entre outras coisas, dizia: “saio da vida para entrar para a história”.

Leia também: Era Vargas – período em que Getúlio Vargas governou o Brasil

Vida pessoal de Getúlio Vargas

Getúlio Dorneles Vargas nasceu em São Borja, interior do Rio Grande do Sul, em 19 de abril de 1882. Contudo, na juventude, ele alterou seus documentos pessoais, mudando a data de nascimento para 1883. Sua família era de estancieiros e tinha propriedades rurais próximo da fronteira com a Argentina.

Ele se formou advogado pela Faculdade de Direito de Porto Alegre, em 1907. Em 1911, Vargas se casou com Darcy Lima Sarmanho, com quem teve cinco filhos: Lutero, Jandira, Alzira, Manuel e Getúlio Filho. Alzira foi a filha mais próxima e o acompanhou até o suicídio, em 1954. Em 1960, ela lançou o livro “Getúlio, meu pai” e abriu assim a história dele: “Era uma vez um homem só”.

Carreira política de Getúlio Vargas

A carreira política de Getúlio Vargas começou no Rio Grande do Sul. Ele se filiou ao Partido Republicano Riograndense e, em 1908, foi eleito deputado estadual, aproximando-se do líder gaúcho Borges de Medeiros. Em 1922, Vargas foi eleito deputado federal.

No governo Washington Luís (1926-1930), Vargas assumiu o Ministério da Fazenda. Borges de Medeiros o escolheu como seu sucessor para as eleições estaduais no Rio Grande do Sul, e, em 1928, Getúlio Vargas era eleito presidente do estado, como se chamava o governador estadual naquela época.

Revolução de 1930

Uma das características da República Velha foi a política do café com leite, que consistia no revezamento entre paulistas e mineiros na presidência da república. Em 1930, os brasileiros foram às urnas eleger o novo presidente. O paulista Washington Luís, presidente na época, deveria indicar o mineiro Antônio Carlos como candidato do governo para as eleições. Entretanto, ele rompeu a política do café com leite e indicou Júlio Prestes, também paulista. Os mineiros romperam com os paulistas e migraram para a oposição.

O predomínio das oligarquias paulista e mineira na política nacional provocou uma forte reação dos outros estados. Para as eleições de 1930, os opositores se reuniram em torno da Aliança Liberal, que lançou a candidatura do gaúcho Getúlio Vargas à presidência e do paraibano João Pessoa à vice-presidência. Como o voto era aberto, havia a possibilidade da eleição ser fraudada. Júlio Prestes foi eleito presidente em 01 de março, e sua posse, de acordo com a Constituição de 1891, aconteceria no dia 15 de novembro.

A derrota da Aliança Liberal já era esperada por conta de o voto aberto possibilitar a adulteração da escolha do eleitor. Contudo, a sorte da oposição mudou quando João Pessoa foi assassinado. Sua morte foi associada à perseguição política do governo federal e reavivou os ânimos da oposição.

Começou a crescer um movimento que pretendia derrubar o governo Washington Luís. Civis e militares se uniram em torno dessa causa e, em outubro de 1930, começaram a marchar do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro para colocar um ponto final na República Velha.

No dia 24 de outubro do mesmo ano, as tropas revoltosas desembarcaram no Rio e depuseram o presidente Washington Luís, e o presidente eleito Júlio Prestes foi impedido de tomar posse. Apesar de o governo federal ter aguardado uma reação contra a movimentação dos revoltosos vindos do Sul do país, a Revolução de 1930 desembarcou triunfante na capital federal. Encerrava-se assim um capítulo na história republicana brasileira. Para saber mais sobre esse importante levante da política brasileira, leia: Revolução de 1930.

Vargas na Presidência – Era Vargas

Logo após a deposição de Washington Luís, uma junta militar foi formada para iniciar o Governo Provisório. A Constituição de 1891 foi anulada, o Congresso, fechado, e os presidentes de estado foram depostos. Vargas desembarcou no Rio de Janeiro poucos dias depois da vitória da revolução e assumiu a chefia do Governo Provisório, governando por meio de decretos-leis.

  • Governo Provisório (1930-1934)

Getúlio Vargas no poder tratou de governar de forma centralizada. Ele nomeou interventores federais da sua confiança para governar os estados. Cada interventor deveria seguir o Código dos Interventores. Dessa forma, as antigas oligarquias estaduais que apoiavam o governo deposto perderam suas forças.

Outra medida tomada por Vargas foi no âmbito econômico. A quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, desvalorizou o preço do café brasileiro no mercado externo, trazendo enormes prejuízos para os cafeicultores. Apesar de os ex-presidentes tentarem auxiliar a atividade cafeeira, a solução para a crise não vinha. Com a Revolução de 1930, Vargas tentou imitar seus antecessores e manter a ajuda do governo federal aos cafeicultores, mas teve o mesmo resultado.

Durante o Governo Provisório, Vargas investiu na industrialização do país ao criar políticas de incentivo à indústria de base. Além disso, já vislumbrando as mudanças sociais oriundas dessa política econômica, Vargas se aproximou do trabalhador urbano. Os sindicatos perderam força ao serem incorporados ao Estado brasileiro. O presidente criou as leis trabalhistas, que garantiram direitos aos trabalhadores, como férias, descanso remunerado e outros benefícios. Foi criado o Ministério do Trabalho para atender as demandas da classe trabalhadora.

Com a anulação da Constituição de 1891 e o fechamento do Congresso Nacional, Getúlio Vargas governava o país por meio da publicação de decretos-leis. Com o atraso na convocação de uma Assembleia Constituinte que elaboraria uma nova Constituição e limitaria os poderes presidenciais, São Paulo começou a enxergar o chefe do Governo Provisório como um ditador. Na capital paulista, os estudantes organizaram inúmeras manifestações contra os decretos federais e as nomeações para a Interventoria, que agradava mais a Vargas do que aos paulistas. As tropas fiéis ao getulismo não pouparam forças para dispersar as manifestações.

Quando quatro jovens morreram em um protesto contra Vargas, os paulistas perceberam que precisavam dar um passo mais ousado se queriam, de fato, uma nova Constituição. As iniciais dos sobrenomes dos estudantes mortos (Marigaia, Meireles, Drausio e Camargo – MMDC) tornaram-se símbolo da luta contra o autoritarismo do Governo Provisório. Os paulistas decidiram pegar em armas para derrubar Getúlio Vargas.

Em 9 de julho de 1932, começou a Revolução Constitucionalista. São Paulo lutou sozinha nessa batalha, enquanto as tropas federais contaram com apoio de outros estados. Em poucas semanas, a capital São Paulo foi bombardeada pelos aviões getulistas, e as tropas paulistas não resistiram aos ataques dos soldados federais. Em setembro do mesmo ano, São Paulo se rendeu à Vargas, mas a causa pela qual se levantou contra o governo não foi em vão.

Soldados que participaram da Revolução Constitucionalista de 1932, quando São Paulo pegou em armas contra o Governo Provisório. [1]

Em 1933, foi convocada uma Assembleia Nacional Constituinte. Nela tivemos a estreia das mulheres na participação política. Com o Congresso reaberto, a Constituição de 1934 foi promulgada, trazendo importantes conquistas sociais, como:

  • voto feminino

  • voto secreto

  • Justiça Eleitoral

  • leis trabalhistas

Na mesma sessão que promulgou a segunda Carta republicana, Vargas foi eleito pelos parlamentares presidente da república. Começava uma nova, mas curta fase de Getúlio Vargas no poder, governando sob uma Constituição democrática.

Veja também: Democracia – regime político em que o povo contribui no processo de tomada de decisões

  • Governo Constitucional (1934-1937)

Na Europa, o nazifascismo ganhava terreno na Alemanha e na Itália. O comunismo, vindo da União Soviética, também se expandia. A crise socioeconômica provocava manifestações de ambos os lados. Trabalhadores inspirados nos ideais comunistas faziam greves e organizavam protestos nas ruas contra a miséria e as péssimas condições de trabalho. Por outro lado, nazistas e fascistas marchavam pelas ruas e entravam em confronto com os trabalhadores, tentando, a todo custo, manter a ordem social e acabar com as greves.

O fascista Benito Mussolini governava a Itália desde a década de 1920. O nazista Adolf Hitler se tornou chanceler alemão, com todos os poderes, um 1933. Dois líderes nazifascistas impondo suas vontades pela força e obrigando seus povos à obediência.

Essa instabilidade social iniciada na Europa desembarcou no Brasil, na década de 1930. Dois grupos se formaram, tendo como base as ideologias conflitantes na Europa. De um lado, a Aliança Nacional Libertadora, inspirada no comunismo, de outro, a Ação Integralista Brasileira, de inspiração fascista, e ambas constantemente entravam em confronto entre si. Em 1935, ocorreu a Intentona Comunista, uma tentativa frustrada da ANL de tomar o poder depondo Getúlio Vargas. As tropas governistas conseguiram debelar a revolta.

  • Estado Novo (1937-1945)

Cartão Postal, produzido pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, demonstrando a centralização do poder na imagem de Getúlio Vargas. [1]

Vargas utilizou essa instabilidade social para dar um golpe de Estado. Desde a promulgação da Constituição de 1934, ele se mostrava descontente com a ausência de amplos poderes para impor a ordem social. Em 1937, o governo denunciou a existência do Plano Cohen, uma nova tentativa comunista de tomar o poder. Tendo como justificativa esse plano, Vargas deu um golpe em 10 de novembro do mesmo ano, iniciando a ditadura do Estado Novo.

A Constituição, promulgada havia pouco tempo, foi anulada, o Congresso foi fechado, e os partidos políticos foram extintos. O jurista Francisco Campos redigiu o texto da Constituição de 1937, outorgada no mesmo dia do golpe e que garantiu mais poderes ao presidente da república, impôs a censura e extinguiu os direitos individuais.

Apesar do autoritarismo do Estado Novo, a imagem de Getúlio Vargas perante o público não foi abalada. Ele criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que tinha como objetivo fazer a propaganda do governo, toda focada na imagem do presidente, e censurar as publicações de oposição. Foi graças ao DIP que Vargas reforçou sua imagem de “pai dos pobres”, presidente próximo dos trabalhadores.

Enquanto censurava a imprensa, prendia e torturava opositores nas cadeias públicas do país. Getúlio Vargas aparecia publicamente desfilando pelas ruas ou estádios lotados, fazendo discursos que ressaltavam as leis trabalhistas. Em 1942, a Consolidação das Leis Trabalhistas foi realizada no Estádio São Januário, no Rio de Janeiro, repleto de fotos de Vargas e cartazes com agradecimentos pelos direitos trabalhistas.

O rádio era o principal meio de comunicação do Brasil. O governo criou o programa radiofônico A Hora do Brasil, que era obrigatoriamente apresentado em todas as rádios, às 19:00, tendo Vargas como atração principal, falando diretamente para os brasileiros e anunciando seus feitos para o povo. Sem questionamentos por parte do Congresso e dos partidos políticos, sem a imprensa para criticar e denunciar, Vargas pôde comunicar-se sem nenhuma interferência com seu público-alvo: os trabalhadores.

Getúlio Vargas participando de um evento comemorativo ao Dia do Trabalhador, uma demonstração da sua proximidade com a classe trabalhadora. [1]
  • Vargas e a Segunda Guerra Mundial

Em setembro de 1939, a Alemanha nazista invadiu a Polônia, desencadeando a Segunda Guerra Mundial. No primeiro momento do confronto, o Brasil optou pela neutralidade, apesar de integrantes do governo mostrarem simpatia pelo nazifascismo.

Além disso, como o país estava em franco processo de industrialização, a Europa em guerra seria uma boa oportunidade para as indústrias brasileiras, já que a produção industrial europeia seria suspensa para atender as demandas do conflito. O ministro das Relações Exteriores do governo, Osvaldo Aranha, alinhado com os Estados Unidos, buscava uma aproximação do governo com as tropas aliadas.

A entrada dos norte-americanos na guerra, no final de 1941, e o afundamento de navios brasileiros por submarinos alemães, em 1942, fizeram com que Vargas abandonasse a neutralidade e acompanhasse os Aliados na guerra. A base aérea de Natal (RN) era um ponto estratégico para que os aviões aliados fizessem escala a fim de atacar as tropas nazifascistas pelo sul europeu.

O presidente norte-americano Franklin Roosevelt fez uma visita à capital potiguar e se encontrou com Getúlio Vargas. Os dois chegaram a um acordo: o Brasil cederia a base de Natal e os Estados Unidos emprestariam 2 milhões de dólares para o governo brasileiro construir a Usina de Volta Redonda, no interior do Rio de Janeiro. O ataque de submarinos alemães a navios brasileiros provocou grandes manifestações populares, que exigiam a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial.

Em maio de 1942, o governo criou a Força Expedicionária Brasileira, e, em 1944, soldados brasileiros foram enviados à Itália para participarem da vitória conta as tropas do Eixo. A FEB obteve vitórias importantes, como a tomada de Monte Castelo, em fevereiro de 1945.

Acesse também: Segunda Guerra Mundial no Enem: como esse tema é cobrado?

  • Fim do Estado Novo

Apesar da censura a qualquer manifestação contrária ao governo, alguns documentos eram divulgados de forma clandestina. Em 1943, o Manifesto dos Mineiros, documento crítico à ditadura, assinado por 76 políticos, intelectuais e industriais de Minas Gerais, circulou de mão em mão, de forma secreta, para que a mensagem pudesse alcançar o maior número de pessoas sem ser barrada pela censura.

Em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, não fazia mais sentido, no lado ocidental do mundo, ter países governados por ditadores. O longo tempo de Getúlio Vargas no poder estava no final. A volta dos soldados da FEB ao Brasil colocou em xeque a ditadura do Estado Novo. Era contraditório lutar na Europa contra regimes totalitários e voltar para o seu país sendo governado por um ditador.

Apesar desses questionamentos, a base de apoio de Getúlio Vargas se manteve intacta. O movimento Queremista, inspirado nas faixas “Queremos Getúlio”, foi organizado por apoiadores do presidente que exigiam a permanência dele até a realização de uma nova Constituinte. No entanto, os militares, que voltaram fortalecidos da guerra, decidiram exercer o seu poder ao depor Getúlio Vargas da presidência da república, em 29 de outubro de 1945.

Mesmo deposto, o então ex-ditador mostrou sua força perante os brasileiros. Nas eleições presidenciais ocorridas em dezembro de 1945, a primeira em 15 anos, o Marechal Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra de Getúlio Vargas, foi eleito presidente da república. A recém-promulgada Constituição de 1946 permitia que o mesmo político poderia se candidatar a uma vaga no Parlamento representando vários estados.

Vargas foi eleito senador por vários estados, como Rio Grande do Sul, seu estado natal, e São Paulo, que entrou em guerra contra ele em 1932. No entanto, Vargas decidiu renunciar ao mandato de senador, pois o novo Parlamento concentraria seu ataque a ele, e mudou-se para São Borja (RS), sua cidade natal. Depois de 15 anos no poder, Getúlio Vargas abandonou a política e virou fazendeiro.

  • Segundo Governo Vargas (1951-1954)

Samuel Wainer era jornalista e trabalhava para os Diários Associados, cadeia de rádio e jornal que pertencia a Assis Chateaubriand, magnata da imprensa brasileira na primeira metade do século passado. Em 1950, Wainer recebeu uma pauta para fazer uma reportagem sobre a produção de trigo no Rio Grande do Sul.

Ao se deslocar para o Sul do país e fazer a reportagem, Wainer recordou que Getúlio Vargas morava em sua fazenda, próximo de onde ele estava, e tentou entrevistá-lo. O ex-ditador aceitou a proposta, e a entrevista abalou aquele ano de eleição presidencial. Vargas foi categórico ao afirmar que voltaria ao poder como líder das massas. Quando a entrevista foi publicada, provocou forte reação dos políticos e de seus antigos adversários.

Samuel Wainer, o profeta, e Getúlio Vargas: o jornalista fez a entrevista com o ex-ditador, em 1950, e anunciou sua volta como “líder das massas”. [1]

Getúlio Vargas se candidatou à presidência da república em outubro de 1950. O jornalista Carlos Lacerda, que seria seu maior opositor, escreveu em seu jornal, Tribuna da Imprensa, sobre o retorno de Vargas à política: “O Sr. Getúlio Vargas não pode ser candidato. Sendo candidato, não pode ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Tomando posse, devemos recorrer à revolução para tirá-lo do poder”.

Vargas foi eleito presidente da república, derrotando o candidato da União Democrática Nacional (UDN). Dessa vez, ele chegava ao poder não por meio de uma revolução, como aconteceu em 1930, mas pelo voto popular ou, como disse, “nos braços do povo”.

Ao retornar à presidência, Vargas percebeu que precisava de um jornal que o defendesse das acusações que outros órgãos da imprensa faziam contra ele. Logo recordou-se de Samuel Wainer, a quem chamavam de “profeta”, por causa da entrevista que revelou seu retorno ao governo.

O Banco do Brasil liberou crédito para que o jornalista criasse o seu próprio jornal. Em 1951, surgia o Última Hora, um jornal que defenderia Vargas, atacaria seus opositores e inovaria a imprensa com nova diagramação. O empréstimo do Banco do Brasil não passaria em vão pela oposição, que se articulou para fazer uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigá-lo. Carlos Lacerda fundou o Tribuna da Imprensa, em 1949, e seu jornal se tornou símbolo antivarguista.

O segundo governo Vargas não trouxe novidades em comparação ao primeiro. O Estado se fez presente na economia, principalmente na exploração do petróleo. Em 1953, foi criada a Petrobras, estatal que monopolizaria a extração e o refino do petróleo. Outras estatais também foram criadas, como a Eletrobrás, responsável pela energia elétrica, e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), que concederia empréstimos para a industrialização.

Em 1950, o Brasil se tornou o primeiro país da América Latina a ter uma emissora de televisão. A TV Tupi fazia parte dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Carlos Lacerda usou esse novo meio de comunicação para ampliar os ataques que fazia ao governo Vargas no Tribuna da Imprensa. Enquanto isso, no Parlamento, a UDN, principal partido opositor a Vargas, também se articulava contra o governo. Getúlio Vargas já não apresentava a mesma força política dos tempos de 1930.

Suicídio de Getúlio Vargas

Carlos Lacerda foi um implacável opositor de Getúlio Vargas e foi alvo do atentado da Rua Tonelero, que aprofundou a crise de agosto de 1954.

A crise política do segundo governo Vargas se agravou em agosto de 1954. No dia 5, Lacerda sofreu um atentado em frente ao prédio em que morava, na Rua Tonelero, no bairro de Copacabana. Ele voltava de uma palestra, e Rubem Vaz, major da Aeronáutica, fazia a sua segurança pessoal. No momento do atentado, os pistoleiros atiraram contra Lacerda, mas acertaram mortalmente o major. Um policial que estava perto do local do crime revidou os tiros e foi ferido, mas conseguiu anotar a placa do carro no qual os assassinos fugiram. Lacerda foi alvejado no pé.

As investigações apontaram que o carro usado na fuga era um táxi que tinha o ponto em frente ao Palácio do Catete, sede do Poder Executivo Federal. Não demorou para associar-se o atentado da Rua Tonelero ao governo Vargas. Como o major Vaz era militar da Aeronáutica, iniciou-se uma investigação na Base Aérea do Galeão. Essa investigação tinha tanta autonomia que foi batizada de “República do Galeão”.

Rapidamente os participantes do atentado foram identificados, e o nome de Gregório Fortunado, chefe da guarda pessoal de Vargas, foi apontado como o mandante do crime. Sua relação com Vargas era antiga, desde os tempos do Rio Grande do Sul. Fortunato era leal ao seu chefe, e, com as acusações de Lacerda, decidiu agradar a Vargas matando seu maior inimigo.

Getúlio Vargas foi pressionado a renunciar. Seu vice, Café Filho, sugeriu que ambos renunciassem a seus cargos e que fosse nomeado um governo provisório para que pacificasse o país. O jornal governista Última Hora estampou em sua capa uma frase de Vargas: “Só morto sairei do Catete”. Na noite do dia 23 de agosto de 1954, Vargas se reuniu com seus ministros militares. Novamente foi recomendada a renúncia, que o presidente, pela primeira vez, consentiu em aceitar.

Logo após a reunião, o presidente subiu para o segundo andar e entrou no quarto presidencial. Poucas horas depois, ouviu-se o barulho de um tiro. Rapidamente seus assessores entraram no quarto e se depararam com Vargas deitado, a arma na sua mão e seu peito ferido. Na sua escrivaninha estava a carta testamento, documento em que respondeu seus acusadores e que finalizou com a célebre frase: “Saio da vida para entrar para a história”.

Assim que a carta foi lida pelo rádio, os populares se reuniram em torno do Palácio do Catete para se despedir do “pai dos pobres”, do “líder das massas”. Outro grupo mais exaltado foi atá as sedes dos jornais que faziam oposição ao governo, como Tribuna da Imprensa e O Globo, ateando fogo nas máquinas e revirando carros de reportagem. Na noite anterior, ao saber da notícia de que Vargas renunciaria, integrantes da oposição se reuniram para comemorar, mas o suicídio do presidente acabou com a festa.

No dia seguinte ao suicídio, uma multidão carregou o caixão com o corpo do presidente até o Aeroporto Santos Dumont, partindo para São Borja (RJ), onde foi enterrado. Três futuros presidentes acompanharam o cortejo:

  • Juscelino Kubitschek, que na época era governador de Minas Gerais;

  • João Goulart, que tinha sido ministro do Trabalho no segundo governo Vargas; e

  • Tancredo Neves, que era ministro da Justiça e foi um dos primeiros a entrar no quarto presidencial logo após o suicídio de Vargas.

Quarto presidencial, no Palácio do Catete, onde Getúlio Vargas suicidou. [2]

Resumo sobre Getúlio Vargas

  • Getúlio Vargas foi o presidente que mais tempo ficou no poder no Brasil, começando sua carreira no Rio Grande do Sul, sendo deputado e governador.

  • A Revolução de 1930 foi um movimento que acabou com a República Velha e deu início à Era Vargas.

  • Durante o Governo Provisório, Vargas avançou no processo de industrialização, concedeu direitos trabalhistas e governou por decreto-lei.

  • A Revolução Constitucionalista de 1932 foi uma revolta armada organizada por São Paulo contra o governo federal e em busca de uma nova Constituição.

  • No Governo Constitucional, o embate entre comunistas e integralistas desestabilizou a ordem social, e Vargas usou isso para dar um golpe de Estado em 1937, iniciando a ditadura do Estado Novo.

  • Apesar de governar de forma autoritária, Vargas manteve a aproximação com os trabalhadores sem ser contestado pelo Congresso, que estava fechado, ou pela imprensa, que estava censurada.

  • Brasil foi para a Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados, e a derrota do nazifascismo significou também a queda de Vargas.

  • Em 1951, Vargas voltou ao poder, dessa vez eleito pelo voto popular, e promoveu maior participação do Estado na economia e maior aproximação do governo com os trabalhadores.

  • A crise de agosto de 1954 desestabilizou o segundo governo de Getúlio Vargas e, em 24 de agosto de 1954, o presidente suicidou-se.

Veja também: Era Vargas no Enem: como esse tema é cobrado?

Exercícios resolvidos

Questão 1 – Os paulistas se revoltaram com o excesso de poder nas mãos de Getúlio Vargas e exigiram a promulgação de uma nova Constituição que limitasse os poderes presidenciais. Sem ter sua exigência atendida, os paulistas pegaram em armas no dia 9 de julho de 1932, dando início a uma guerra civil intitulada:

A) Intentona Comunista
B) Revolução Constitucionalista
C) Revolta da Armada
D) Guerra de Canudos

Resolução

Alternativa B. A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um levante armado organizado por São Paulo contra o Governo Provisório, chefiado por Getúlio Vargas. Os paulistas exigiam a elaboração de uma nova Constituição que limitasse os poderes de Vargas, que, até aquele momento, governava por decreto-lei.

Questão 2 – A crise de agosto de 1954 desestabilizou o segundo governo Getúlio Vargas. Acusado de corrupção pela imprensa e pela oposição, Vargas não conseguia responder a essas acusações, e o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda piorou a situação. Assinale a alternativa que aponta o desfecho dessa crise política:

A) Getúlio Vargas suicidou em 24 de agosto de 1954.
B) Vargas renunciou à presidência da república.
C) Os militares novamente depuseram Vargas do poder.
D) Mesmo enfraquecido, Vargas conseguiu concluir seu segundo mandato presidencial.

Resolução

Alternativa A. Getúlio Vargas optou pelo sacrifício final em vez de renunciar à presidência. Em 24 de agosto de 1954, o presidente deu um tiro no peito e, como dizia a carta por ele deixada, saía da vida para entrar para a história brasileira.

Créditos das imagens

[1] CPDOC/FGV

[2] Agência Brasil Fotografias / Commons

Por: Carlos César Higa

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