Carlos Lacerda

Carlos Lacerda foi um jornalista e político brasileiro que teve grande influência em nosso cenário político durante o período da Quarta República. Carlos Lacerda foi um dos grandes nomes do conservadorismo e fomentou golpes contra Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. Apoiou o golpe de 1964 e terminou sua vida sem seus direitos políticos.

Acesse também: Por que João Goulart renunciou à presidência?

Nascimento

Carlos Frederico Werneck de Lacerda, ou simplesmente Carlos Lacerda, nasceu no dia 30 de abril de 1914. Ele nasceu na cidade do Rio de Janeiro, mas foi registrado por seus pais na cidade de Vassouras, no interior do estado do Rio de Janeiro. Carlos Lacerda veio de uma família de fortes laços com a política.

Carlos Lacerda foi um dos principais nomes da política brasileira durante a década de 1950 e parte da de 1960.[1]

Seu pai, Maurício de Paiva Lacerda, além de jornalista, foi político durante a Primeira República, chegando a ser eleito deputado federal na década de 1910. O avô de Carlos Lacerda, Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda, foi ministro durante o governo de Prudente de Morais. Além disso, o pai e os tios de Carlos Lacerda foram militantes comunistas.

A mãe de Carlos Lacerda se chamava Olga Werneck Lacerda, e ele teve três irmãos, Maurício de Lacerda Filho, Vera Lacerda Paiva e Maurício Caminha de Lacerda.

Formação

Carlos Lacerda teve boa formação escolar, uma vez que sua família tinha uma condição financeira estável. Além disso, sua juventude foi marcada pelo seu contato com a política, e ele mesmo relatou que, por vezes, faltava às aulas para assistir a sessões no período que seu pai foi vereador.

Aos 16 anos, Carlos Lacerda seguiu os passos do pai e deu início a sua carreira como jornalista. Em 1932, ele ingressou no curso de Direito, e, durante o curso, engajou-se ativamente com a política. Ele abandonou a faculdade antes de se formar, mas sua participação na política se manteve em toda a sua vida.

Na década de 1930, Carlos Lacerda identificou-se como um militante comunista e fez parte dos quadros da Aliança Nacional Libertadora, a ANL. Esse partido chegou a planejar um golpe armado no país, a Intentona Comunista, mas fracassou no seu objetivo. Carlos Lacerda, por sua vez, não teve envolvimento com esse acontecimento.

Durante o Estado Novo, Carlos Lacerda foi preso como parte da repressão ditatorial de Vargas. Entretanto, a partir de 1939, ele rompeu com os comunistas, e até mesmo escreveu artigos exaltando o golpe dado por Getúlio Vargas depois disso.

Trajetória política

Carlos Lacerda tornou-se um dos grandes nomes da política brasileira após a democratização do país. Em outubro de 1945, os militares obrigaram a renúncia de Getúlio Vargas, dando início à primeira experiência democrática em nosso país. Esse período é conhecido por diferentes nomes, como República de 1946, Quarta República, Terceira República, entre outros.

Nesse período, Carlos Lacerda tinha passado por uma guinada ideológica considerável. O militante comunista havia se transformado em um político liberal e extremamente conservador. Filiou-se à UDN, partido que manifestava os valores agora defendidos por Lacerda, que se tornou um grande nome do partido entre 1946 e 1964.

Carlos Lacerda recebeu inúmeras críticas pela sua atuação política, principalmente porque ele e outros membros da UDN, durante toda a extensão da Quarta República, fomentaram golpes políticos e militares, conspirando contra a democracia brasileira com frequência. Em 1947, Lacerda foi eleito vereador no Rio de Janeiro, mas renunciou ao cargo com pouco tempo de exercício.

Em 1949, ele fundou o próprio jornal, o Tribuna da Imprensa, transformando-o em seu palanque. Esse jornal foi amplamente utilizado por Lacerda para criticar políticos como Vargas, Kubitschek e Goulart. O primeiro a sofrer com a oposição de Carlos Lacerda foi Getúlio Vargas.

Em 1950, Vargas foi eleito para o seu segundo governo, o que deixou Carlos Lacerda indignado. O jornalista foi incendiário durante esse segundo governo, tecendo críticas contundentes e realizando denúncias, algumas delas falsas. Carlos Lacerda, de fato, foi o maior adversário político de Vargas e o pivô da queda desse presidente.

Em 5 de agosto de 1954, aconteceu um atentado contra a vida de Carlos Lacerda.[1]

Em 5 de agosto de 1954, Carlos Lacerda retornava para a sua casa de um comício da UDN, quando foi interpelado por pistoleiros na porta de sua casa, na Rua Tonelero, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Os pistoleiros estavam lá para assassiná-lo, mas ele sofreu apenas um ferimento no pé. Esse acontecimento recebeu o nome de Atentado da Rua Tonelero.

Nesse atentado, o guarda-costas de Carlos Lacerda, o major da Aeronáutica Rubens Vaz, morreu. O clima de indignação logo se voltou contra Getúlio Vargas, e, mesmo sem provas, Lacerda acusava o presidente. No fim, as investigações descobriram esquemas de corrupção no Palácio do Catete (palácio presidencial) e que o mandante do crime havia sido Gregório Fortunato.

Fortunato era o responsável pela segurança do presidente, e acredita-se que a ação não teve envolvimento com Vargas. De toda forma, este levou a culpa pelo crime, e Carlos Lacerda inflou os opositores a exigirem a renúncia do presidente. Também passou a conspirar para que as Forças Armadas dessem um golpe.

Isso resultou no suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954, cuja culpa recaiu em Carlos Lacerda, aos olhos da população. Lacerda precisou fugir do Rio de Janeiro depois disso, mas retornou brevemente. Após, ainda, tentou impedir a realização da eleição presidencial de 1955 e a posse de JK.

O golpismo de Carlos Lacerda foi novamente derrotado quando o ministro da Guerra, Henrique Teixeira Lott, realizou um contragolpe, em novembro de 1955, para garantir o cumprimento da Constituição e a posse de JK como presidente do Brasil. Após esse acontecimento, conhecido como Movimento de 11 de Novembro, Carlos Lacerda exilou-se brevemente em Cuba.

Durante o governo de JK, Lacerda foi eleito deputado federal pela UDN e atuou na oposição, sendo contrário, por exemplo, ao projeto de transferência da capital para Brasília.

Leia mais: Marcha da família com Deus pela liberdade – movimento prelúdio do golpe de 1964

Golpe de 1964

Em 1960, a capital foi transferida para Brasília, e o Rio de Janeiro (a cidade) converteu-se no Estado da Guanabara. O restante do território do Rio de Janeiro (o estado) passou ter como capital a cidade de Niterói. Com isso, Carlos Lacerda decidiu lançar-se na disputa pelo governo da Guanabara.

Esse ano também foi marcado de grandes vitórias políticas para Lacerda. Ele foi o grande defensor da candidatura de Jânio Quadros, político conservador que teve ascensão meteórica no estado de São Paulo, para presidente pela UDN. Nessa eleição presidencial, Quadros foi eleito, e a UDN conseguiu eleger um presidente pela primeira (e única) vez.

Em 1960, ele também foi eleito governador da Guanabara, permanecendo no cargo até o ano de 1965. A partir de 1961, Lacerda foi peça fundamental na articulação golpista que derrubou o presidente João Goulart, em 1964. Também conhecido como Jango, o presidente assumiu depois que Jânio Quadros renunciou.

Carlos Lacerda também procurou articular um golpe em 1961, com o objetivo de impedir a posse de Jango, prevista pela Constituição. Uma vez que Jango assumiu, Carlos Lacerda uniu-se a grandes empresários, militares e a membros do governo norte-americano para derrubá-lo. Caso queira saber mais sobre esse controverso período da história brasileira, leia: Golpe Civil-Militar de 1964.

Últimos anos

O golpe contra João Goulart e a democracia brasileira aconteceu entre os dias 31 de março e 2 de abril. O presidente foi deposto, e Carlos Lacerda esperava que os militares devolvessem o poder aos civis, mas isso não aconteceu. Os militares tinham outros planos, que incluíam a construção de um governo ditatorial sob seu mando.

Caso a democracia brasileira tivesse permanecido intacta, Carlos Lacerda seria um dos grandes nomes para a eleição presidencial de 1965. Ele desejava concorrer à presidência e manteve seu apoio aos militares até o decreto do Ato Institucional nº 2, quando os militares anunciaram que as eleições presidenciais no Brasil seriam indiretas.

Isso destruiu os planos de Carlos Lacerda de lançar-se à presidência. Com isso, ele rompeu com os militares e fundou um movimento de oposição, cujo objetivo era promover a restauração da normalidade democrática no Brasil. O movimento ficou conhecido como Frente Ampla e contou com o apoio de JK e Jango, antigos alvos de Lacerda.

Em 1968, a Ditadura Militar proibiu que a Frente Ampla continuasse funcionando, e, no mesmo ano, Carlos Lacerda teve seus direitos políticos cassados por 10 anos. Em 21 de maio de 1977, ele sofreu um enfarte que o levou a óbito, aos 63 anos de idade.

Créditos das imagens:

[1] FGV/CPDOC

Por: Daniel Neves Silva

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