Cangaço

Cangaceiros foram os homens e mulheres nômades que viviam no sertão do Nordeste brasileiro entre os séculos XIX e XX em um movimento chamado cangaço.

Memorial da Resistência Mossoroense ou Museu do Cangaço mostra imagens dos chamados cangaceiros. [1]

Cangaço é o nome do movimento de pessoas nômades (cangaceiros) que viviam no campo de diversos municípios da região Nordeste do Brasil. Foram assim denominados pois canga é o nome de uma madeira que se colocava na cabeça de bois que transportavam objetos. Como essas pessoas também carregavam seus pertences de um lado para o outro, fugindo da fome e da seca, foram chamados de cangaceiros, e o movimento ficou conhecido como cangaço.

Os cangaceiros atuavam, muitas vezes, realizando ações de banditismo, como roubos e saques. Seus participantes mais conhecidos foram Lampião — que, depois de cercado pelas forças do governo e morto, teve seu cadáver exposto publicamente — e Maria Bonita, mas outros cangaceiros existiram ao longo da história.

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Resumo sobre o cangaço

  • Nos séculos XIX e XX, na região Nordeste do Brasil, existiu um movimento social chamado Cangaço.

  • Os grupos de cangaceiros eram nômades e praticavam roubos e saques, questionando os coronéis, que possuíam grandes propriedades de terra.

  • Eram compostos por homens e mulheres, que viviam em grupo fugindo da seca e da fome na região.

  • Por serem nômades e, frequentemente, carregarem muitos objetos consigo, foram chamados de cangaceiros. Canga é o nome de uma madeira, típica da região, que se coloca na cabeça de bois que fazem transporte.

  • Maria Bonita e Lampião foram os cangaceiros mais famosos.

  • Lampião foi morto por forças governamentais, após ampla perseguição. Levou três tiros, e sua cabeça foi exposta em diversos locais.

  • Há hipóteses diferentes para sua morte: de que não foi ele o capturado e que viveu até o fim da vida perambulando e se escondendo pelo sertão e de que tenha sido envenenado. Porém, os três tiros e a decapitação são a hipótese mais aceita.

  • O cangaço vive até hoje no imaginário da cultura nordestina, especialmente na literatura de cordel, e serviu para questionar privilégios de coronéis da região.

O que foi o cangaço?

O cangaço foi um movimento social nordestino dos séculos XIX e XX. Alguns o chamam de banditismo, pois crimes de violência e roubos ocorriam. Os cangaceiros eram nômades e viviam em grupos, pilhavam cidades e se escondiam na região da Caatinga.

Origem da palavra cangaço

Cangaço” vem de “canga”, uma madeira que é colocada na cabeça do boi para transporte de objetos e pessoas. O nome foi dado ao grupo em alusão a isso, pois seus integrantes eram nômades e transportavam seus pertences.

Origem e história do cangaço

O cangaço originou-se nas últimas décadas do século XIX e primeira metade do século XX. De acordo com registros, as primeiras ações desse grupo foram sob a liderança de Jesuíno Alves de Melo Calado, o “Brilhante”. As secas prolongadas no Nordeste brasileiro, especialmente as de 1877 e de 1915, fizeram com que muitos e muitas morressem, migrassem ou passassem extremas necessidades.

Paralelamente a isso, a forma política dominante na região era o coronelismo, um clientelismo rural, em que as pessoas sem posses prestavam serviços extenuantes a grandes senhores em troca, muitas vezes, apenas de alguma comida e lugar para morar dentro das fazendas. Além disso, também se comprometiam com lealdade a esses coronéis.

Já no século XX, nas décadas de 1920 e 1930, várias reações a esse sistema surgiram na região, sendo o cangaço uma delas. Sob lideranças famosas, que veremos a seguir, cada bando atuava em regiões específicas, enfrentando tropas de jagunços de fazendeiros e as tropas oficiais. Com a morte do maior desses, Lampião, em 1938, outros se entregaram em troca da absolvição de seus crimes pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.

Características do cangaço

As características do cangaço são:

  • Era um movimento social do final do século XIX e primeiras décadas de XX.

  • Ocorreu no setor do Nordeste brasileiro.

  • Questionava os grandes poderes dos coronéis, latifundiários.

  • Realizavam ações violentas, como roubos e saques.

  • Eram nômades.

  • Viviam em bandos.

  • Vestiam roupas de couro curtido, adequadas para a vegetação espinhosa da região.

  • Estavam sempre armados com rifles, peixeiras (facas) e punhais.

  • Carregavam os seus poucos pertences aonde iam.

Atuação dos cangaceiros no sertão

A atuação dos cangaceiros era pautada na violência, com facas, punhais e espingardas, que utilizavam para saquear cidades e fazendas, sempre em grupo. Muitas vezes, sequestravam fazendeiros e também matavam.

Quem eram Lampião e Maria Bonita?

Lampião, Maria Bonita e um grupo de cangaceiros, em 1936.

Lampião e Maria Bonita foram os cangaceiros mais famosos da história, que lutaram contra a miséria que tomava conta de todo o Nordeste, principalmente no sertão, assolado pela seca e, consequentemente, pela fome de muitos camponeses, enquanto senhores coronéis detinham grandes propriedades de terras e privilégios econômicos e políticos. Assim, o cangaço, considerado um banditismo social, surgiu, dentre outros tantos movimentos de questionamentos das desigualdades nesse mesmo período e região. Sua diferenciação deve-se aos atos violentos e à imagem mítica criada em torno de Lampião e Maria Bonita.

Virgulino Ferreira da Silva era o nome de Lampião, que, junto a sua companheira, Maria Bonita, liderou o cangaço

Interessante: Maria Bonita se chamava Maria Gomes de Oliveira. Em um primeiro momento, ela não era chamada de Maria Bonita. A alcunha veio depois.

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, segurando uma arma de fogo, em 1927.

Lampião nasceu na Serra Talhada, no Pernambuco, em 4 de junho de 1898. Maria Bonita é de Paulo Afonso, Bahia, e nasceu em 17 de janeiro de 1910.

Maria Bonita era casada com um sapateiro, que lhe batia. Ela se uniu a esse homem aos 15 anos, em um casamento arranjado, como era comum na época. Em 1929, conheceu Lampião e seguiu com ele, vivendo com o bando e enfrentando batalhas armadas. Eles ficaram juntos por nove anos e tiveram uma filha, Expedita Gomes de Oliveira Ferreira, que foi entregue a um casal de vaqueiros, pois crianças não podiam ficar no cangaço, devido a suas ações violentas e à repressão que enfrentava.

Lampião e Maria Bonita foram mortos pelas tropas oficiais, conhecidas como volantes, que, há anos, perseguiam os cangaceiros. Os dois foram degolados. Maria Bonita ainda tentou fugir, mas foi morta com dois tiros. Para saber mais sobre eles, clique aqui.

  • Videoaula: Quem foi Lampião?

Morte de Lampião

Lampião morreu no dia 28 de julho de 1938. Um dia antes, ele e os seus companheiros fizeram pouso na fazenda Angicos, em Poço Redondo, Sergipe, para descanso e foram denunciados anonimamente. Assim, tropas volantes rumaram em direção ao bando e o surpreendeu. Lampião levou três tiros e morreu no local.

Após a morte, foi decapitado para ser exposto em diversos locais, como exemplo de punição, já que ele era um dos mais procurados do país. Há pesquisadores que investigam se ele pode ter sido envenenado. Outras lendas populares contam que ele fugiu e se escondeu até o fim da vida. Porém, a historiografia acata, em geral, a primeira teoria.

Leia também: A exposição macabra dos corpos dos cangaceiros no contexto do fim do cangaço

Lista de alguns dos principais cangaceiros

Além de Lampião e Maria Bonita, os mais famosos, destaca-se uma lista de alguns dos principais cangaceiros, como (em ordem alfabética):

  • Anísio Marculino (Gasolina);

  • Antonio dos Santos (Cobra Verde);

  • Antônio Inácio (Moreno);

  • Domingos dos Anjos;

  • Ezequiel Ferreira da Silva (Beija-Flor);

  • Hermínio Xavier (Chumbinho);

  • Izaias Vieira (Zabelê);

  • Januário Garcia Leal (Sete Orelhas);

  • Jesuíno Alves de Melo Calado (Jesuíno Brilhante);

  • Joaquim Mariano Antonio de Severia (Nevoeiro);

  • José de Souza (Tenente);

  • João Mariano (Andorinha);

  • Laurindo Virgolino (Mangueira);

  • Lucas Evangelista (Lucas da Feira);

  • Manoel Baptista de Morais (Antônio Silvino).

Consequências do cangaço

Diversas decorrências surgiram do cangaço. Dentre elas, talvez a principal tenha sido o alcance e amplo questionamento sobre o acúmulo terras e bens que os coronéis detinham. Além disso, a grande política de enfrentamento desempenhada pelo governo brasileiro, que temia o retorno do movimento.

Até os dias atuais, o cangaço permanece no imaginário e na cultura brasileira, no cinema, trajes e lembranças de estados nordestinos. Faz parte do folclore do Nordeste, sendo narrado nos cordéis, em xilogravuras, por exemplo.

Créditos da imagem

[1] Wikimedia Commons (reprodução)

Por: Mariana de Oliveira Lopes Barbosa

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