Brasil na Segunda Guerra Mundial

A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial foi anunciada em 1942, mas só ocorreu de fato em 1944. Antes da Segunda Guerra Mundial, o Brasil vivia o Estado Novo, a ditadura de Getúlio Vargas que adotou muitas práticas do nazifascismo. No período anterior à guerra, e nos seus anos iniciais, o Brasil se manteve neutro no conflito, mantendo relações diplomáticas com os países Aliados e com os membros do Eixo.

Em 1941, após o ataque japonês à base havaiana de Pearl Harbour, os Estados Unidos declararam guerra ao Eixo e passaram a mandar tropas e recursos para os combates. Nesse momento, interessados nas bases militares brasileiras no Atlântico e na borracha da Amazônia, os estadunidenses passaram a pressionar o Brasil para que entrasse na guerra. No mesmo período, navios brasileiros passaram a ser torpedeados por submarinos alemães, matando centenas de brasileiros e aumentando a pressão nacional para a entrada do Brasil no conflito.

Em agosto de 1942, o governo Vargas declarou, enfim, guerra ao Eixo, mas as tropas brasileiras demoraram mais dois anos para chegar à Itália. Ao todo, foram enviados à guerra cerca de 25 mil soldados brasileiros, que foram importantes nas batalhas na península Itálica e na libertação dela dos nazistas e fascistas. Durante a guerra, houve enfraquecimento político de Vargas e de sua ditadura, e, logo após o conflito, ele renunciou e a democracia voltou ao nosso país.

Leia também: Segunda Guerra Mundial — detalhes sobre a grande guerra mundial travada entre 1939 e 1945

Resumo sobre o Brasil na Segunda Guerra Mundial

• A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial foi anunciada em 1942, mas só ocorreu de fato em 1944.

• O Brasil, na Segunda Guerra Mundial, lutou do lado das tropas aliadas, e nosso Exército e Força Aérea foram integrados ao V Exército Norte-Americano.

• A principal batalha da qual o Brasil participou foi a de Monte Castelo. Nossas tropas foram fundamentais para a vitória aliada nela.

• “A cobra está fumando” foi o lema adotado pela Força Expedicionária Brasileira, a FEB.

• “Senta a pua” foi o lema adotado pelo 1º Grupo de Aviação de Caça do Brasil, esquadrão da Força Aérea Brasileira (FAB) que lutou na Europa.

• Oficialmente, 467 militares brasileiros morreram em combate na Segunda Guerra Mundial.

• Em troca da entrada do Brasil na guerra, os estadunidenses financiaram a construção da Companhia Siderúrgica Nacional, ainda hoje a maior siderúrgica do Brasil.

Antecedentes históricos do Brasil na Segunda Guerra Mundial

Em 1930, com apoio de diversos grupos sociais, entre eles os militares, Getúlio Vargas (1882-1954) chegou ao poder por meio de um golpe de Estado, também chamado de Revolução de 1930. Em 1937, alegando um suposto plano comunista de tomada de poder no Brasil, que depois se descobriu falso, Getúlio Vargas deu um autogolpe e iniciou o Estado Novo, a ditadura varguista.

Na Europa, nas décadas de 1920 e de 1930, movimentos totalitários chegaram ao poder. Na década de 1920, os fascistas chegaram ao poder na Itália, e Benito Mussolini (1883-1945) passou a governar o país. Em 1933, na Alemanha, foi a vez dos nazistas chegarem ao poder por meio de eleições democráticas que elegeram Adolf Hitler (1889-1945) para o cargo de chanceler.

Vargas, mesmo nutrindo simpatia pelo nazifascismo, manteve o Brasil neutro durante toda a década de 1930. Muitos membros do governo do Estado Novo eram simpatizantes do nazismo e ganharam o apelido de germanófilos. Vargas se baseou na Carta del Lavoro, de Mussolini, para promulgar a consolidação das leis trabalhistas, conhecidas como CLT.

Quando a Segunda Guerra Mundial se iniciou, em setembro de 1939, o Brasil continuou neutro no conflito. Vargas não via vantagem na entrada do Brasil na guerra e achava mais lucrativo para o país a neutralidade.

Por que o Brasil participou da Segunda Guerra Mundial?

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o Brasil se manteve neutro no início do conflito, mantendo relações diplomáticas com países do Eixo e Aliados. A partir de 1941, com o ataque japonês à base de Pearl Harbour e a entrada dos Estados Unidos na guerra, o Brasil passou a receber pressão dos estadunidenses para que também entrasse no conflito.

Os Estados Unidos, além do apoio militar e político do Brasil, desejavam as bases militares brasileiras das regiões Norte e Nordeste, estratégicas para a defesa do Atlântico Sul. Também precisavam da borracha da Amazônia, uma vez que as regiões produtoras de borracha dos Aliados na Ásia haviam sido conquistadas pelos japoneses.

Além da pressão estrangeira, o governo Vargas sofreu pressão interna. A partir de 1941, navios mercantes brasileiros passaram a ser afundados por U-boats alemães, alguns deles próximos do litoral brasileiro. A morte de brasileiros levou a população a realizar diversas manifestações, exigindo que o Brasil entrasse no conflito mundial.

Em 1942, o torpedeamento de navios brasileiros aumentou. O submarino alemão U-507 afundou diversos navios no litoral nordestino, levando à morte de 607 pessoas, entre tripulantes e passageiros. Em 15 de agosto de 1942, mais dois navios de passageiros foram afundados, o Baependi e o Loyd Brasileiro, no primeiro faleceram 55 tripulantes e 215 passageiros, e, no segundo, 66 tripulantes e 65 passageiros.^|1|

Uma semana depois, em 22 de agosto de 1942, o Brasil, enfim, declarou guerra às forças do Eixo. Pela da entrada do Brasil no conflito, o governo estadunidense financiou a construção da Companhia Siderurgica Nacional, e, em troca, os americanos puderem estabelecer bases militares em: Amapá, Belém, São Luís, Fortaleza, Recife, Natal, Maceió, Caravelas, e Salvador.

Eles se tornaram, ainda, os únicos compradores da borracha amazônica. Para garantir o fornecimento de borracha aos aliados, o governo Vargas recrutou os “soldados da borracha”, milhares de nordestinos que foram levados para a Amazônia para a extração do látex.

Na época anterior à guerra, os opositores do governo Vargas afirmavam que era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. Quando o Brasil finalmente entrou na guerra, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) escolheu justamente uma cobra fumando com seu símbolo. Durante o conflito, a expressão “A cobra está fumando” se popularizou no Brasil e é utilizada ainda hoje.

Como foi a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial?

Após a declaração de guerra às potências do Eixo, em agosto de 1942, o Brasil demorou quase dois anos para enviar os primeiros combatentes para a frente de batalha na Itália. As primeiras tropas brasileiras desembarcaram em Nápoles no dia 16 de julho de 1944, e, até o final da guerra, cerca de 25 mil soldados brasileiros participaram ativamente dos combates na Europa. As tropas brasileiras foram integradas ao V Exército Norte-Americano, comandado pelo general Mark Clark. O comando geral das tropas brasileiras na Itália coube ao general Mascarenhas de Moraes.

Na Itália, o Brasil participou de diversas batalhas contra as forças do Eixo, principalmente contra tropas alemãs que ocupavam o país. A principal delas foi a Batalha de Monte Castelo, que ocorreu entre 25 de novembro de 1944 e 21 de fevereiro de 1945. Após quase três meses de batalha, a FEB conseguiu finalmente conquistar Monte Castelo, que até então era fortemente defendida pelos nazistas. Essa é considerada a maior batalha da história do Exército Brasileiro. O Brasil também participou da Batalha de Castelnuovo, Batalha de Montese, Batalha de Collecchio e Batalha de Fornovo di Taro.

Além do Exército, também foi importante a participação da Força Aérea Brasileira (FAB) no conflito. A FAB foi criada por Vargas pouco antes da entrada do Brasil na guerra, em janeiro de 1941. Com as bases estadunidenses no Brasil, diversos membros da Força Aérea passaram a ser treinados pelos Estados Unidos.

Quatro dias após a declaração de guerra do Brasil às forças do Eixo, a FAB realizou o seu primeiro ataque a um submarino alemão, no litoral do Rio Grande do Sul. Os Estados Unidos passaram a enviar diversos aviões para a Força Aérea Brasileira, entre eles o V-11 Vultee, PBY-5 Catalina e Lockheed A-28 Hudson. O 1º Grupo de Caças do Brasil utilizou como lema durante a guerra a expressão “senta a pua”, e recebeu treinamentos dos estadunidenses no Panamá e nos Estados Unidos.

Consequências do Brasil na Segunda Guerra Mundial

O Brasil, com seus mais de 25 mil combatentes, teve papel importante nos combates no contexto da Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, o Brasil perdeu 467 soldados, mortos em combate, e teve aproximadamente 2700 feridos.^|2|

Nossos militares foram lutar pela democracia na Europa e contra a ditadura nazista. A contradição na luta contra a ditadura estando em uma ditadura levou à grande pressão popular pela democracia, e Getúlio Vargas renunciou ainda em 1945.

Além da volta da democracia, a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial também foi responsável pelo desenvolvimento do nosso país. Durante a guerra, diversas estações de rádio foram construídas no Brasil, assim como redes telefônicas, telegráficas, além da maior siderúrgica do país. Todas essas instalações continuaram a ser utilizadas após o fim do conflito.

Veja também: Como foi a participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial?

Exercícios resolvidos sobre o Brasil na Segunda Guerra Mundial

Questão 1

(UFSC - adaptado)

Joel Silveira, correspondente dos Diários Associados, assim se refere ao cotidiano dos pracinhas brasileiros na Itália: “Sofremos bastante lá nos Apeninos. Medo, frio-muito frio-, desconforto e aquele constante odor de sangue velho e óleo diesel, que é o cheiro da guerra”.

(SILVEIRA, Joel. "O Inverno da Guerra". Apud AUGUSTO, Sérgio. No front, só com máquina de escrever. "O Estado de São Paulo". São Paulo: 14 maio 2005, Caderno 2, página D7.)

Assinale a alternativa que contém a soma das proposições corretas apresentadas abaixo:

(01) O Brasil participou da Segunda Guerra Mundial, ao lado das potências Aliadas, em guerra contra o Eixo.

(02) O governo brasileiro entrou na luta antifascista em meados de 1939, quando a Alemanha invadiu a Polônia.

(04) A decisão do governo Vargas de declarar guerra ao Eixo foi influenciada por uma grande pressão popular, devido ao afundamento de navios brasileiros.

(08) No Brasil, Getúlio Vargas, fortalecido com o sucesso da FEB na Itália, dissolveu o Congresso e instaurou o Estado Novo.

(16) Apesar das dificuldades que encontrou, a FEB teve uma importante participação na luta pela conquista dos Apeninos. A tomada de Monte Castelo foi uma de suas grandes vitórias.

A) 03

B) 21

C) 28

D) 06

Resolução:

Alternativa B

O Brasil participou da Segunda Guerra Mundial do lado dos Aliados, lutando contra as forças do Eixo. O Brasil só entrou no conflito mundial em agosto de 1942, após sofrer pressão dos Estados Unidos e de parte da população brasileira. A participação da FEB no conflito e a sua luta contra a ditadura nazista enfraqueceram Getúlio Vargas, que, ao final da guerra, renunciou.

Questão 2

(Aman) Entre 1939 e 1945, o mundo foi abalado pela Segunda Guerra Mundial. O Brasil, inicialmente, adotou uma posição de neutralidade, porém, em 1941, acordos internacionais começaram a ser feitos, para apoiar os aliados. Sobre a participação brasileira na Guerra, é correto afirmar que:

A) o governo brasileiro era totalmente favorável a acordos com os Aliados desde o início do conflito.

B) os alemães passaram a afundar navios brasileiros no final de 1944.

C) a FEB participou da Campanha da Itália, como parte do 5º Exército Norte Americano.

D) a Alemanha declarou guerra ao Brasil em 1941.

E) no Dia D, por ocasião do desembarque, o Brasil sofreu grandes perdas.

Resolução:

Alternativa C

O Brasil entrou no conflito mundial do lado das tropas aliadas, e, no campo de batalha italiano, as tropas brasileiras foram integradas ao 5º Exército Norte-Americano.

Notas

^|1| RIBEIRO, Antônio Sérgio. Brasileiros esquecidos: 70 anos da entrada do Brasil na guerra. Câmara dos Deputados, 22 ago. 2012. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=329879.

^|2| BRASIL. Sessão solene homenageia combatentes brasileiros na Segunda Guerra Mundial. Câmara dos Deputados, 12 nov. 2024. Disponível em: https://www.camara.leg.br/tv/444984-sessao-solene-homenageia-combatentes-brasileiros-na-segunda-guerra-mundial/.

Crédito de imagem

^[1] Aerea100 / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Editora Record, São Paulo, 2015.

BRASIL. Sessão solene homenageia combatentes brasileiros na Segunda Guerra Mundial. Câmara dos Deputados, 12 nov. 2024. Disponível em: https://www.camara.leg.br/tv/444984-sessao-solene-homenageia-combatentes-brasileiros-na-segunda-guerra-mundial/.

FERRAZ, Francisco Cesar. A Segunda Guerra Mundial. Editora Contexto, São Paulo, 2022.

FERRAZ, Francisco Cesar. Os brasileiros e a Segunda Guerra Mundial. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2005.

MASSON, Phillippe. A Segunda Guerra Mundial: História e estratégias. Editora Contexto, São Paulo, 2010.

RIBEIRO, Antônio Sérgio. Brasileiros esquecidos: 70 anos da entrada do Brasil na guerra. Câmara dos Deputados, 22 ago. 2012. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=329879.