A inserção do Brasil na dita modernidade foi, ao longo de várias décadas, um assunto que ocupou a cabeça de vários artistas e intelectuais da nação. De fato, quando se falava sobre o projeto de extinção do trabalho escravo no país, na segunda metade do século XIX, essa necessidade de mudança era destacada por vários escritos da época. Ao longo das décadas, com as devidas rearticulações, esse ainda seria um tema de forte presença no discurso de vários sujeitos históricos.
Contudo, houve um momento em nossa história onde todos os entraves que impediam a nossa real inserção na modernidade pareciam esmorecer de uma só vez. Na década do ano de 1958, uma série de transformações elaboradas parecia dar uma outra feição ao país. Uma nova capital estava sendo erguida no centro do país, a Bossa Nova era aplaudida por críticos e fãs de todo mundo e o Fusca ganhava as ruas como nosso primeiro carro popular.
Para coroar tantas conquistas, damos ainda especial destaque à conquista do primeiro campeonato mundial de futebol alcançado pela lendária seleção composta por Pelé, Garrincha, Zito, Fellini e Zagallo. No momento em que o time verde-amarelo “levantava o caneco” na Suécia, parecia que o audacioso projeto do presidente Juscelino Kubitscheck, de desenvolver o Brasil “cinqüenta anos, em cinco” parecia se tornar realidade.
Concomitantemente, também havia outras significativas transformações acontecendo nesse mesmo período. Os meios de comunicação, com predominância dos veículos impressos, passaram a ter seu espaço publicitário disputado por diversas empresas que buscavam ampliar seu mercado consumidor. Os próprios jornais e revistas também se transformariam em bens de consumo ao valorizarem o uso de textos curtos e grandes imagens na capa de suas edições.
Essa nova exploração de recursos imagéticos também foi alavancada pelo surgimento dos primeiros canais de televisão. Apesar de darem passos ainda muito iniciais, esse novíssimo meio de comunicação sinalizava um novo rumo a ser trilhado pela sociedade daquela época. A apresentação de programas ao vivo contava com a apresentação de vários artistas e a utilização de belas jovens que apresentavam a funcionalidade e os benefícios de produtos que não faziam parte do cotidiano das famílias brasileiras.
Um outro ponto interessante é notar a ascensão de um espaço midiático e comercial exclusivamente dedicado às crianças. Nesse mesmo ano, a Brinquedos Estrela trouxe para o Brasil o bambolê, que já havia se tornado um verdadeiro frisson nos Estados Unidos. Além disso, as crianças tinham uma programação infantil na TV que se utilizava do formato circense para promover o entretenimento infantil. Entre outros programas, destacamos a atuação do Palhaço Carequinha à frente do Circo Bom Bril.
Na verdade, bem se sabe que toda essa euforia não poderia ser generalizada a todas as parcelas da população brasileira. Esse entusiasmo ainda conviveu com miséria no sertão nordestino, a aceleração do processo inflacionário e a contração de uma pesada dívida externa. Contudo, esse novo cenário marcou um momento de nossa história com rupturas que se desdobrariam nas décadas seguintes. Em contraste ao ano de 1968, e por uma curiosa ironia numérica, aquele ano parecia ter terminado bem.