Alberto Santos Dumont

Alberto Santos Dumont, pioneiro da aviação no mundo, marcou a história com as suas invenções e a crença na capacidade libertadora do progresso tecnológico.

Alberto Santos Dumont foi o primeiro a pilotar uma máquina mais pesada do que o ar, em 23 de outubro de 1906.

Alberto Santos Dumont era mineiro de nascença, brasileiro na nacionalidade e mundial no reconhecimento e no desejo de alcançar as pessoas com o seu sonho de infância: fazer a humanidade voar. Nascido na segunda metade do século XIX, contou com a origem familiar rica e disposta a lançá-lo ao mundo das descobertas e das invenções que marcavam os grandes centros urbanos no mundo, em especial a cidade de Paris, na França.

Santos Dumont foi responsável por criar os primeiros balões dirigíveis, feito que viria a deixá-lo tão famoso à época quanto o voo com o 14-bis. Além dos dirigíveis que construiu no final dos anos de 1890 e começo dos anos 1900, Santos Dumont desenvolveu com eficácia alguns dos principais e primeiros protótipos de aviões a realizar voos estáveis e seguros, sendo o 14-bis e o Demoiselle os mais conhecidos deles. Tendo sofrido acidente em um voo com esse último modelo, acometido por esclerose múltipla e depressão, Santos Dumont faleceu em 1932, em Guarujá, São Paulo.

Sua trajetória de vida, marcada pelo destaque que teve na contribuição às técnicas da aviação, expressa o auge da modernidade e das ideias que impulsionavam o seu tempo. Essas ideias, pelas quais Santos Dumont se apegava e sempre transmitia em suas falas e escritos, se baseavam na crença da liberdade e da amizade que o avanço tecnológico e a redução das distâncias entre os povos poderia trazer, ainda que com o custo de várias vidas pelo uso militar da aviação.

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Resumo

  • Alberto Santos Dumont nasceu mineiro em 1873, passou a infância e juventude em São Paulo, onde viu a fortuna de seu pai crescer nas fazendas de cafezais.

  • Desenvolveu gosto pelas questões de mecânica logo cedo, acompanhando com interesse o uso do maquinário utilizado na fazenda de seu pai.

  • Realizou viagens internacionais durante toda a sua vida, em especial para a Europa, onde deu vida ao seu interesse pelo conhecimento técnico e prático por voos.

  • Suas primeiras experiências e invenções foram no campo da aerostação, com o uso de balões. Com os balões, desenvolveu a maior parte de suas habilidades para o voo, tendo criado soluções para direcionar o voo do balão, construindo assim os primeiros “dirigíveis” da história.

  • Após vários anos de experimentos com balões e dirigíveis em Paris, Santos Dumont criou seus primeiros protótipos de aeroplanos. 14-bis foi o primeiro a realizar um voo autônomo e bem-sucedido, sendo amplamente registrado e divulgado em todo o mundo. Demoiselle, seu segundo avião, foi o mais eficiente.

  • Deixou as invenções e os voos em 1910, após um acidente com o Demoiselle, e veio a falecer em 1932, em Guarujá, São Paulo.

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Primeiros anos e juventude de Alberto Santos Dumont

Sexto filho do engenheiro Henrique Dumont, com sua esposa Francisca de Paula Santos, Alberto Santos Dumont nasceu no dia 20 de julho de 1873, em Palmira, Minas Gerais. Em Palmira, Santos Dumont viveu apenas os seis primeiros anos da sua vida, enquanto o pai participava da construção da Estrada de Ferro D. Pedro II.

A partir de então, o pai empreendeu no cultivo do café, primeiro por um período breve em Valença, no Rio de Janeiro, e em seguida no interior de São Paulo, em Ribeirão Preto, no sítio Cascavel, onde desenvolveu grande fortuna. Por meio do contato com as locomotivas e com o maquinário avançado que o seu pai utilizava no cultivo do café, Santos Dumont logo apresentou interesse pelas máquinas e o funcionamento delas.

Ingressou em escola formal (privilégio de poucos, na época, já que não havia ensino básico público) aos 10 anos, após ser alfabetizado por sua irmã Virgínia. A escola, Colégio Culto à Ciência, em Campinas – SP, trazia a influência positivista e de valorização da técnica. Em seguida, estudou no Colégio Kopke, em São Paulo capital, no Colégio Morton e, por fim, no Colégio Menezes Vieira, no Rio de Janeiro, todos considerados liberais, com perspectivas republicanas. Entretanto, nunca se destacou em suas passagens pelas escolas, vindo a se reconhecer no campo da prática, onde pôde desenvolver todo o seu interesse pela física e mecânica.

Foi após uma primeira viagem a Paris com a sua família, em 1891, que Santos Dumont despertou para a mecânica. Tinha grande entusiasmo com as descobertas e criações tecnológicas, especialmente com o motor de combustão interna. De volta ao Brasil, seu pai convenceu-se de que deveria oferecer a ele as condições financeiras de levar adiante seus sonhos. Assim, com 18 anos, emancipado e levando consigo grande parte da herança que seu pai lhe havia antecipado, Santos Dumont partiu para a Europa.

Alberto Santos Dumont na Europa

A volta de Santos Dumont à França, em 1892, foi decisiva para os seus primeiros passos nos estudos e na prática desportiva. Além dos estudos técnico-científicos com o professor espanhol Garcia, que havia contratado, dedicou-se ao automobilismo e ao ciclismo.

Naquele período, a disputa esportiva refletia o crescimento dos nacionalismos e da expansão das possibilidades tecnológicas, reunidas em clubes de atividades diversas, criados principalmente por grupos da elite social e econômica. Mesmo a aviação — e o balonismo, a que viria se dedicar a partir de 1898, também — era considerada antes um esporte, e não uma função, ou profissão, comercial ou militar.

Entretanto, sua primeira incursão pelos ares viria a acontecer apenas a partir de 1897. Descrevendo sua primeira subida de balão sobre Paris, Santos Dumont disse:

“Pareceu-me que nasci mesmo para a aeronáutica. Tudo se me apresentava muito simples e muito fácil; não senti vertigem, nem medo.” [1]

Foi nesse ano que o chamado “pequeno grande gênio Santos Dumont”, em função de sua baixa estatura, se estabeleceria em Paris, e daria início aos seus projetos que o fariam famoso em todo o mundo.

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Projetos e invenções de Alberto Santos Dumont

Em março de 1898, Santos Dumont realizou seu primeiro voo como aeronauta. Em julho, criou e estreou o seu primeiro balão, o Brazil, menor aeronave construída até então. Em 1900, já havia criado nove balões, denominados apenas pela numeração (N-1, N-2…), sempre buscando o aperfeiçoamento das técnicas de construção associadas às manobras de voo, com o objetivo de tornar o balão dirigível, o que ainda não existia.

Para que os voos em balões fossem dirigíveis, Santos Dumont considerava que deveriam ser usadas hélices propulsoras, o que só seria possível com os motores de combustão interna. A ideia era considerada esdrúxula pelos colegas, que viam no peso dos motores o impedimento de aplicá-los aos balões. Entretanto, após sucessivas experiências com os balões e motores que ia construindo, com o seu N-3 ele voou por um trajeto de forma controlada por Paris. Com o seu N-4, voou perante membros do Congresso Internacional de Aeronautas diversas vezes contra o vento, fornecendo a prova do trabalho necessário da hélice movida por motor a petróleo para controlar o voo.

Selo impresso no Brasil mostra voo de Alberto Santos Dumont e o seu Dirigível N-3. [1]

No dia 19 de outubro de 1901, Santos Dumont realizou o célebre voo com o seu dirigível N-6 pelos céus de Paris, percorrendo um caminho preestabelecido de ida e volta em torno da Torre Eiffel, em 30 minutos. Esse voo lhe conferiu o Prêmio Deutsch de 100 mil francos, corrigidos para 129 mil, já que o prêmio havia sido anunciado como desafio ainda no começo do ano de 1900. O balão era movido por um motor de combustão de 20 cavalos e completamente dirigível.

A ideia da aplicação dos motores de combustão para impulsionar os dirigíveis foi, gradativamente, levando Santos Dumont ao desafio de criar uma aeronave que fosse mais pesada que o ar e que fosse capaz de levantar voo por meios próprios. Surgia, junto aos seus dirigíveis, a ideia de construir um aeroplano, que viria a ser conhecido como avião. A associação entre as duas criações era tamanha que, conforme Santos Dumont disse, o próprio nome do seu protótipo mais famoso havia surgido dessa relação: “Dependurei o meu aeroplano em meu último balão, o N-14; por esta razão, batizaram aquele com o nome de 14-bis.”[2]

O 14-bis, ou Oiseau de Proie (Ave de Rapina), portava um motor de 50 cavalos de potência, fez seus primeiros voos alçado, então, por um balão. Após uma série de testes, apesar de ajudar a decolagem, Santos Dumont constatou que o balão atrapalhava o aeroplano, em função do arrasto com o vento. Após ajustes, o 14-bis havia se tornado um aeroplano de fato e realizou uma série de voos, tendo se destacado dois deles: um no dia 23 de outubro de 1906, em que se manteve sustentado no ar por 60 metros; e outro, o mais famoso, registrado e divulgado, o de 12 de novembro do mesmo ano, em que voou por 220 metros, em 21 segundos, a uma velocidade média de 37 km/h.

Como todo projeto na área da aviação, o 14-bis não havia surgido do nada. Inspirava-se pelo menos em um hidroplanador testado por um outro pioneiro da aviação, Gabriel Voisin, e por um biplanador criado por Hargrave, conhecido aeronauta australiano. Era nesse sentido que, apesar do entusiasmo e desejo por prêmios e por defender o título de primeiro a realizar um voo com um aeroplano mais pesado que o ar, de forma totalmente autônoma, Santos Dumont ainda assim defendia a livre patente dos seus projetos. Entendia que a aviação deveria ser um bem de toda a humanidade, a ser desenvolvida por todas as nações, para aproximar os povos.

Ainda que o 14-bis tivesse sido o mais conhecido e divulgado pelo mundo, o seu aeroplano preferido e considerado de maior sucesso em termos técnicos viria a ser o Demoiselle, apresentado três anos depois. O Demoiselle chegou a ser produzido em várias unidades para a venda. Era pequeno e ágil, podendo atingir a velocidade de 90 km/h, tendo melhor acabamento aerodinâmico e maior autonomia de voo. Da mesma forma que seus outros projetos, nesse Santos Dumont também abriu mão de patenteá-lo, abrindo espaço para a sua reprodução e aperfeiçoamento mundo afora.

Últimos anos e morte

As disputas e provas em que competia com outros inventores desde 1898 exigiam muito de Santos Dumont. Foram vários incidentes e acidentes, os quais nunca fizeram com que o inventor se arrependesse do ofício, mas que sempre o fizeram muito consciente dos perigos e grande risco que corria em cada voo. Após um acidente em 1910 com o Demoiselle, Santos Dumont encerrou suas atividades com a oficina e reduziu ao mínimo seu convívio social.

Ainda na França, dedicou-se por alguns anos à astronomia. Estando perto do mar, seus instrumentos fizeram com que o tomassem por um espião que colaborava com os alemães no começo da Primeira Guerra Mundial. Santos Dumont ficou muito ofendido e acabou por destruir boa parte dos seus documentos aeronáuticos, uma vez que havia até oferecido assessoramento aos militares franceses anteriormente.

Além do desgosto com as acusações, Santos Dumont expressou espanto com o grande potencial de destruição dos aviões na guerra. Acometido por esclerose múltipla, doença incurável, retornou ao Brasil em 1915, onde viveu o resto dos seus dias, vindo a falecer em 23 de julho de 1932, aos 59 anos. Alçado a herói nacional ainda em vida, a força física, sua abnegação e potência vital deveriam ser mantidas diante da população, tendo o seu suicídio sido escondido durante vários anos.

Durante esses últimos 17 anos no Brasil, ainda que estivesse afastado da vida pública, não deixou de tentar exercer influência no uso da aviação no país. Escreveu várias cartas a autoridades civis e militares, sempre oferecendo seu assessoramento para criação de escolas e campos de aviação. Nessas cartas, era notável também seu apelo constante para o uso militar e estratégico de aeronaves pelo Brasil, diante do crescimento desse uso pelas diversas nações.

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Frases de Alberto Santos Dumont

“Diante do motor a petróleo, tinha sentido a possibilidade de tornar reais as fantasias de Júlio Verne. Ao motor a petróleo dei, mais tarde, todo inteiro, o meu êxito. Tive a felicidade de ser o primeiro a empregá-lo nos ares.” [3]

“O inventor, como a natureza de Lineu (botânico, considerado ‘pai da taxonomia moderna’), não faz saltos; progride de manso, evolui.” [4]

“Eu não quero tirar em nada o mérito dos irmãos Wright, por quem tenho a maior admiração; mas é inegável que, só depois de nós, se apresentaram eles com um aparelho superior aos nossos, dizendo que era cópia de um que tinham construído antes dos nossos.” [5]

“Devemos estar habilitados a intimidar qualquer potência europeia que pretenda guerra contra um de nós, não pelos canhões, dos quais temos tão pequeno número, mas sim pela força da nossa união.” [6] (Sobre a necessidade das nações americanas se unirem, especialmente as latino-americanas)

“O homem voa? Não. O pássaro voa? Voa. Por conseguinte, se o homem quiser voar, tem que imitar o pássaro. A natureza fez o pássaro e ela não se engana. Se o pássaro fosse apenas um saco cheio de ar, possivelmente eu ficaria com o projeto de um balão.” [7]

Curiosidades sobre Alberto Santos Dumont

  • Alberto Santos Dumont tinha baixa estatura, cerca de 1,60, o que lhe conferia a alcunha de Pequeno Grande Gênio.

  • Santos Dumont nunca se casou e, até onde se sabe, nunca namorou publicamente, sendo considerado tímido e reservado, ainda que vaidoso.

  • Santos Dumont não é considerado internacionalmente o inventor do avião, feito atribuído aos irmãos Wright, que, embora não tenham registrado e divulgado amplamente seus voos em 1903, os fizeram tanto por catapulta quanto por simples trilhos.

  • Apesar de expressar pacifismo em certas ocasiões, os documentos e escritos de Santos Dumont apontam para a sua defesa pelo uso militar dos aviões, tendo feito diversos apelos junto às autoridades militares brasileiras nesse sentido.

Notas

[1] DUMONT, Alberto Santos. O que eu vi, o que nós veremos. Domínio público. São Paulo, 1918. p. 4. Disponível aqui.

[2] DUMONT, 1918. p. 11.

[3] DUMONT, 1918. p. 3.

[4] DUMONT, 1918. p. 10.

[5] DUMONT, 1918. p. 13.

[6] DUMONT, 1918. p. 18.

[7] DUMONT, Alberto Santos. Os Meus Balões (“Dans l´Air”). Tradução de A. de Miranda Santos. 2. ed. Brasília, Senado Federal, Conselho Editorial, 2016 (1904), 23-24.

Créditos da imagem

[1] Olga Popova / Shutterstock.com

Por: Luiz Felipe Cezar Mundim

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