A renúncia de Jânio Quadros

O governo de Jânio Quadros foi marcado por medidas excêntricas e moralizantes, que não conseguiram conter a crise econômica e política da época

A eleição de Jânio Quadros foi a primeira na qual a coligação PSD-PTB, formada no fim do Estado Novo, não se elegeu, ficando a UDN pela primeira vez compondo uma chapa vencedora. Jânio Quadros, tomando posse em 1961, foi o primeiro presidente a receber a faixa presidencial na nova capital, Brasília. Apesar de estar na UDN, Jânio era independente de partidos, o que era decorrente da falta de um posicionamento ideológico claro. O vice-presidente eleito foi João Goulart (Jango), da chapa PSD-PTB. À época, a legislação eleitoral permitia que presidente e vice fossem eleitos por chapas distintas. O voto nos dois candidatos ficou conhecido como voto Jan-Jan.

Jânio Quadros teve uma ascensão política meteórica. Foi eleito vereador de São Paulo em 1947, deputado estadual em 1950, prefeito da capital paulista em 1953, governador do estado em 1954, deputado federal em 1958 e presidente em 1960. Seu estilo de fazer política era centrado em sua figura, construída para mostrá-lo como um homem simples, do povo. Usava roupas surradas, comia sanduíches de mortadela e jogava talco nos ombros para simular que tinha caspa. Dirigia-se à população com um vocabulário peculiar, o que o tornava incompreendido em alguns momentos, além de se gesticular de modo espalhafatoso. Não tinha projetos políticos claros, centrando suas propostas em suas características pessoais.

O seu conservadorismo e moralismo o levou a adotar como mote de campanha o combate à corrupção, representado na figura da vassoura, que iria varrer a bandalheira do país. Promulgou ainda medidas como a proibição do uso de lança-perfumes, do biquíni e das brigas de galo, que não representavam os verdadeiros problemas do país.

Um dos principais problemas era a crise econômica, decorrente da falência do modelo de substituição de importações e dos impactos do desenvolvimentismo do governo JK. A produção industrial incentivada no governo anterior gerou um descompasso com a produção agrícola, causando escassez de alimentos nas cidades. Além disso, o plano de metas de JK aumentou a dívida externa e o déficit orçamentário do Estado brasileiro.

Para conter esta situação, Jânio Quadros buscou desvalorizar a moeda e realizar cortes nos gastos públicos para conter a inflação, medidas estas de cunho liberal. O resultado foram perdas salariais sentidas pelos trabalhadores. Por outro lado, tentou controlar a remessa de lucros ao exterior e se disse a favor da Reforma Agrária, desagradando os setores conservadores que o haviam elegido.

Politicamente estas medidas geraram um descontentamento popular e a falta de apoio das forças políticas que auxiliaram em sua eleição. Além disso, passou a criticar o parlamento e a nomear ministros conservadores que não agradavam à população. Assim, teve dificuldades em criar uma base parlamentar, impossibilitando a aprovação de seus projetos no Congresso Nacional. Além do mais, as lutas sociais passaram a ocorrer fora do controle institucional, acirrando a disputa político-ideológica no país.

Por outro lado, apesar de seu perfil conservador, no âmbito da política internacional adotou uma postura independente, que resultou na condecoração de Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul, na defesa da independência das colônias portuguesas na África, na tentativa de reestabelecer relações diplomáticas com a URSS e na crítica à política dos EUA em relação a Cuba.

Toda esta postura fez com que, em sete meses de governo, Jânio ficasse totalmente isolado politicamente. Para superar a situação, especula-se que Jânio tentou uma manobra para se fortalecer. Em agosto de 1961, enviou o vice Jango à China, em missão diplomática. Com o vice fora do país, Jânio encaminhou ao Congresso seu pedido de renúncia à presidência, argumentando estar pressionado por “forças terríveis”, que jamais foram apontadas concretamente.

O objetivo de Jânio Quadros seria criar uma saia justa com o Congresso e os militares, que provavelmente não apoiariam a posse de João Goulart e recusariam seu pedido de renúncia. Entretanto, o pedido foi aceito pelo Congresso Nacional. Mas como ele previa, os militares tentaram impedir a posse de Jango que teve que desembarcar da viagem à China no Uruguai, à espera de resolução da questão de sua posse. Ranieri Mazzilli, presidente do Congresso, ficou como presidente interino. Mas o impasse político gerado com a ocupação do cargo de presidente por João Goulart só acabaria com o golpe militar de 1964.





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Por: Tales Pinto

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