A exposição macabra no fim do Cangaço

Com a degola dos principais líderes do Cangaço, as forças policiais brasileiras pretendiam mostrar sua força e violência a seus opositores.

Cabeças dos membros do Cangaço expostas em Piranhas, Alagoas. A cabeça de Lampião é a que está abaixo das demais

O Cangaço foi um fenômeno social protagonizado por grupos armados que percorreram o sertão nordestino entre as décadas de 1870 e 1930, saqueando fazendas e cidades como forma de lutar contra a desigualdade social decorrente da concentração de terras. Conhecido também como um fenômeno de banditismo, o cangaço foi uma reação violenta de parcelas de grupos sociais explorados no Nordeste pelos grandes latifundiários.

Dentro do cangaço, a principal figura que ficou para a história foi Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. A alcunha dada a Virgulino possivelmente decorreu da rapidez e destreza com que atirava e manejava armas de fogo. Reza a lenda que ele teria dito: “atirei tanto a ponto de a minha espingarda ficar com a labareda acesa”, transformando-a em um lampião que iluminava a noite.

Em razão do medo e dos ataques que o bando de Lampião infligia sobre a população nordestina, principalmente aos ricos, mas também aos pobres, ele foi perseguido durante mais de dez anos por tropas das forças de segurança do Estado brasileiro.

A perseguição terminou em 28 de julho de 1938, na grota do Angico, às margens do rio São Francisco, no município de Piranhas, em Alagoas. As forças policiais armaram uma emboscada para o bando de Lampião, que contava com 35 cangaceiros no local. Lampião, sua esposa, Maria Bonita, e mais nove cangaceiros foram mortos. Os corpos foram degolados e expostos na escadaria da Prefeitura de Piranhas, como mostra a foto colocada no início do texto.

O objetivo macabro das forças policiais era mostrar à população que haviam acabado com a vida de um mito do sertão nordestino. O fato de Lampião ter ferido seu olho direito anos antes e perdido a visão era a prova de que uma das cabeças expostas, solitária ao lado dos chapéus, era mesmo de Virgulino Ferreira.

Era ainda a exposição da violência do Estado brasileiro contra os que ousavam se opor à classe dominante e à força das instituições militares e policiais. As cabeças dos cangaceiros seguiram ainda um cortejo por várias cidades nordestinas, até serem levadas para o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, na Bahia.

No Instituto, cujo nome é de um famoso criminologista brasileiro, as cabeças foram analisadas para comprovar que eram provenientes de pessoas consideradas degeneradas. Essa análise tinha origem nas teses positivistas defendidas pelo criminologista italiano Cesare Lombroso, segundo as quais as pessoas ligadas à criminalidade tinham uma predisposição biológica à prática de crimes e a comportamentos antissociais, perceptíveis através da análise das feições das pessoas e do formato de seus crânios.

Não eram condições sociais que levavam à prática de crimes, mas sim a formação biológica. As teses inseriam-se em uma ideologia racista desenvolvida principalmente na Europa, em fins do século XIX e início do século XX.

As cabeças ficaram expostas no museu do Instituto entre 1938 e 1969, quando foram entregues aos familiares. O paradeiro das cabeças é desconhecido, apesar dos familiares afirmarem que estão enterradas em um cemitério de Aracaju. O que é certo é que as forças policiais utilizaram de um expediente violento e macabro para afirmarem a sua força.


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Por: Tales Pinto

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