O Dia do Fico é como é conhecido o dia em que o regente do Brasil, d. Pedro, anunciou no Paço Real a sua intenção de desobedecer às Cortes portuguesas e permanecer aqui. Esse acontecimento deu-se em 9 de janeiro de 1822 e foi um dos momentos mais marcantes do processo de independência do Brasil.
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Entendendo o Dia do Fico
O Dia do Fico é um marco no processo de independência do Brasil e aconteceu no Paço Real, localizado na cidade do Rio de Janeiro, no dia 9 de janeiro de 1822. Nesse dia o regente do Brasil, d. Pedro, filho do imperador português d. João VI, anunciou publicamente a sua permanência no país.
A decisão tomada por d. Pedro significou uma desobediência expressa à ordem dada pelas Cortes portuguesas, que tinham demandado o retorno do regente para Portugal. No Dia do Fico, d. Pedro supostamente proferiu as seguintes palavras: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto; diga ao povo que fico.”
Essa curta frase, portanto, tornou oficial a decisão dele de permanecer no Brasil e encerrou todas as especulações acerca de seu possível retorno para Portugal. A decisão de d. Pedro agradou às elites econômicas e políticas do Sudeste brasileiro, que defendiam sua permanência. Para isso foi formado um grupo chamado Clube da Resistência, e pessoas em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro faziam parte dele.
Um abaixo-assinado foi assinado por cerca de oito mil pessoas, e o documento com todas as assinaturas foi entregue pessoalmente a d. Pedro no Paço Real, no dia 9 de janeiro de 1822. Além disso, pessoas próximas ao regente, como José Bonifácio, procuraram convencê-lo a ficar no Brasil. A movimentação pela permanência foi intensa e, como vimos, teve sucesso.
Depois do Dia do Fico, o processo de ruptura entre Brasil e Portugal acelerou-se, como veremos, e as decisões tomadas por d. Pedro em relação a Portugal demonstravam sua intenção de não se submeter.
Qual foi o significado do Dia do Fico?
A decisão de d. Pedro de permanecer aqui foi realizada de maneira simples e, até onde se sabe, em uma ocasião sem muito alarde. No entanto, teve um significado muito grande para as elites brasileiras do período, e, olhando em retrospectiva, podemos dizer que significou muito para a independência do Brasil, que aconteceria oito meses depois.
A permanência de d. Pedro foi uma grande vitória para as elites brasileiras porque, para elas, tratava-se de uma salvaguarda importante, pois colocava um freio no processo de recolonização que estava em curso e resguardava todas as conquistas econômicas que essa elite teve a partir da vinda da família real para o Brasil, entre 1807 e 1808.
Essas conquistas estão relacionadas com a modernização do país após a vinda da família real. Essa modernização da economia teve como primeiro ato a abertura dos portos, realizada no começo de 1808. O fim das restrições coloniais sobre o Brasil inundou o comércio local de mercadorias inglesas e permitiu aos comerciantes e produtores daqui comercializarem seus produtos diretamente com os ingleses, por exemplo.
O Brasil, além de modernização econômica, conquistou relativa autonomia política. Tudo isso incomodava as elites de Portugal, e, a partir de 1820, esse quadro começou a ser questionado, quando eclodiu a Revolução Liberal do Porto. Essa revolução colocou a burguesia portuguesa em posição de poder, e uma série de mudanças foram exigidas.
O rei d. João VI foi obrigado a retornar para Portugal e a jurar lealdade a uma Constituição que limitava os seus poderes. Além disso, as Cortes desejavam fechar novamente os portos brasileiros e, por fim, a autonomia política de que o Brasil desfrutava. O retorno de d. Pedro para Portugal também passou a ser exigido e foi enxergado como mais um passo no caminho dessa recolonização.
O antagonismo de interesses entre as elites de Portugal e do Brasil tornou a permanência de d. Pedro algo essencial para barrar a recolonização do nosso país, e quando d. Pedro anunciou sua permanência, as elites brasileiras viram seus interesses sendo momentaneamente atendidos.
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Contexto histórico
Como podemos perceber, o Dia do Fico está relacionado com o Período Joanino, iniciado com a vinda da família real portuguesa para o Brasil e com o processo de independência. Tudo começou em 1807, quando Portugal foi invadido pela França, após desobedecer ao Bloqueio Continental.
Para evitar tornar-se prisioneiro de Napoleão Bonaparte, d. João e a Corte portuguesa decidiram mudar-se para o Brasil. A chegada da Corte ao Rio de Janeiro, em 1808, causou mudanças significativas que, como vimos, contribuíram para o desenvolvimento econômico e para a conquista de maior autonomia política do Brasil.
Essa situação não agradava às elites portuguesas, e essa insatisfação motivou a Revolução Liberal do Porto, a partir de 1820. Os interesses das elites de Portugal e do Brasil eram distintos, e esses desentendimentos abalaram as relações entre os países e abriram caminho para o processo de independência da então colônia.
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