A presença do transporte ferroviário no Brasil é modesta em função do seu processo de sucateamento e falta de investimentos durante o século XX.
O transporte ferroviário representou, desde o seu surgimento, um importante elemento estratégico para a economia. Sua função, além de transportar passageiros, é conduzir e escoar mercadorias, dinamizando a infraestrutura e facilitando a distribuição de produtos e matérias-primas sobre um dado território.
A criação dos trens de ferro ocorreu em função da necessidade das fábricas na Europa recém-industrializadas no século XVIII de um meio de transporte que fosse eficiente tanto para o recebimento de matérias-primas quanto para o escoamento da produção por todo o território e para os portos de exportação. O trem possuía as características necessárias a essa demanda, além de apresentar custos menos elevados que os demais transportes então existentes, além de estar plenamente adequado à tecnologia industrial da época.
No Brasil, a primeira linha ferroviária foi inaugurada em meados do século XIX, mais precisamente em 1854, ligando o Porto de Mauá à cidade carioca de Fragoso. A construção dessa ferrovia, assim como o pioneirismo desse tipo de transporte no Brasil, é creditada ao Barão de Mauá, cuja história se confunde com a inauguração dos primeiros sistemas ferroviários no país.
Apesar de serem consideradas vantajosas para o Brasil em função da grandeza do território nacional, as ferrovias eram difíceis de serem instaladas em virtude dos elementos geográficos físicos do país, com grandes variações no relevo e a presença de uma grande quantidade de rios, platôs, serras e outros obstáculos. Mesmo assim, os anos entre 1870 e 1920 marcaram o auge desse transporte, coincidindo com o período de auge da produção cafeeira.
Os ingleses, interessados em angariar lucros e obter um maior e melhor acesso aos recursos naturais e agrícolas do Brasil, foram os principais contribuidores para a difusão das ferrovias nesse período. Graças a esses investidores, elas puderam ser implantadas e organizadas conforme o nível de exigência necessário, uma vez que o transporte por trens requer um elevado grau de organização e articulação, ao contrário, por exemplo, das rodovias.
No entanto, a partir da década de 1920, o transporte ferroviário no Brasil entrou em declínio, processo que se intensificou nos anos 1940 com a retirada dos investimentos ingleses no setor e a sua posterior e gradual estatização, realizada para socorrer a crise oriunda do declínio da economia do café e dos problemas relacionados com a Segunda Guerra Mundial.
A partir de 1950, sobretudo do governo JK, os investimentos públicos em ferrovias cessaram, uma vez que houve uma maior preferência pelo transporte rodoviário em busca de atrair investimentos da indústria automobilística estrangeira. A partir de então, as linhas ferroviárias no Brasil passaram por um longo período de sucateamento tanto em sua frota quanto em seus equipamentos.
Geograficamente, as ferrovias encontram-se mal distribuídas pelo território nacional, que concentra mais da metade delas na região Sudeste, enquanto as regiões Norte e Centro-oeste possuem apenas 8% da malha. Para melhor visualizar essa concentração, considere o mapa a seguir:
Mapa do transporte ferroviário no Brasil *
No mapa, podemos perceber o quanto a malha ferroviária se restringe ao Sudeste, isso em razão da influência do café no período da construção e instalação da maioria das ferrovias. Mas o problema não é somente a má distribuição, como também a pequena quantidade e a ausência de uma integração adequada. Nos Estados Unidos, que possuem uma extensão territorial semelhante à brasileira, há cerca de 200 mil quilômetros de linhas férreas, enquanto por aqui existem apenas 40 mil. Além disso, o Brasil é o único país continental que não apresenta um sistema ferroviário totalmente integrado.
Após os processos de desestatização nos anos 1990 e os recentes investimentos do governo federal – sobretudo no contexto do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) –, o transporte de pessoas e cargas vem aumentando no país, porém sem conseguir acompanhar a elevação da demanda, que cresce principalmente em função do aumento da produção de gêneros agrícolas e da necessidade cada vez maior de deslocamento por parte da população.
Uma maior presença de linhas férreas no Brasil seria importante e também estratégico para desafogar o uso das rodovias brasileiras, que encontram problemas relacionados com a superutilização das estradas. Além disso, soma-se o fato de as rodovias apresentarem um custo de manutenção maior e mais constante (a cada 5 anos), enquanto as linhas de trem costumam durar muito mais tempo.
Atualmente, encontram-se em processo de construção várias ferrovias, como a Estrada de Ferro Carajás, que liga o Porto de Itaqui ao Maranhão; a Ferrovia Norte-Sul, que liga Brasília ao Maranhão; a Ferronorte, que teria o ambicioso projeto de interligar Porto Velho a São Paulo, e algumas outras que, assim como essas, ainda não foram concluídas em função da ausência de investimentos.
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* Créditos da imagem: Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)