A Revolução Verde foi um fenômeno marcado pelo emprego da tecnologia no meio rural, suas principais características relacionavam-se com a utilização de máquinas, equipamentos, defensivos agrícolas e outros mecanismos que propiciaram o aumento da produção agrícola.
Ela foi iniciada por meio da atuação de agricultores pioneiros que buscavam aumentar a produtividade do campo e, por consequência, a disponibilidade de alimentos para a sociedade. Essa revolução das práticas agrícolas foi causada, em especial, pela dificuldade de abastecimento alimentar dos países, ainda mais com o aumento populacional global.
A principal vantagem da Revolução Verde esteve no desenvolvimento de técnicas de cultivo que propiciaram o aumento da produção de alimentos no mundo. No entanto, esse cenário ocorreu mediante grandes impactos ambientais e sociais, logo, como consequência desse processo, houve um grande desequilíbrio ambiental assim como uma crescente desigualdade social.
A Revolução Verde também foi implementada no Brasil, por meio de um forte investimento estatal. Na atualidade, o país é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas também um dos mais impactados negativamente por esse modo de produção, em especial, na área ambiental.
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O que é Revolução Verde?
A Revolução Verde é uma nomenclatura utilizada para definir-se um conjunto de mudanças que aconteceram na agricultura mundial na segunda metade do século XX. Essa transformação das práticas agrícolas em nível global aconteceu por meio do emprego de técnicas modernas de cultivo. Desse modo, foi amplamente incentivado o uso:
- de máquinas e equipamento agrícolas
- de sementes modificadas geneticamente
- de diferentes insumos para aplicação em plantas
Essas medidas resultaram no crescimento da produtividade agrícola, em especial, nos anos de 1969 e 1970. Além disso, elas foram responsáveis pela segurança alimentar de diversos países do globo e, ainda, contribuíram para o desenvolvimento econômico de várias nações. Devido à importância do aumento da produção de alimentos e às mudanças estabelecidas pela transformação das culturas agrícolas, o processo de modernização da agricultura mundial ficou conhecido como Revolução Verde.
Características da Revolução Verde
A Revolução Verde apresentou como principal característica o uso de técnicas modernas de cultivo e produção agrícolas baseadas no emprego da tecnologia nas diversas escalas produtivas. O principal objetivo desse modelo de produção é aumentar a produtividade. Para tal, existe um conjunto de pilares que possibilitam o ganho de produção, principal intento da Revolução Verde. Sendo assim, as características da Revolução Verde são:
- Mecanização das lavouras com o emprego de tratores, colheitadeiras e semeadeiras, entre outros equipamentos que substituem a mão de obra humana;
- Irrigação mecanizada dos cultivos pelo uso de equipamentos como aspersores e gotejadores;
- Emprego de insumos agrícolas, com destaque para os agrotóxicos, pesticidas e fertilizantes, que combatem as pragas e aumentam a produtividade;
- A utilização de sementes geneticamente modificadas assim como a criação dos chamados transgênicos;
- O elevado investimento em pesquisa e desenvolvimento, sendo esse elemento a base para as inovações produtivas empregadas no campo.
Início e causas da Revolução Verde
A história da Revolução Verde está atrelada ao contexto econômico e social pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), momento histórico em que havia uma grande preocupação com a produção de alimentos em todo o mundo. A fome era reconhecida como uma ameaça mundial, uma vez que vários países enfrentavam uma crise de abastecimento e havia um temor muito grande de que, com o passar dos anos, a produção agrícola mundial não seria suficiente para alimentar toda a população do globo.
Sendo assim, diversos pesquisadores e produtores rurais começaram a construir iniciativas para aumentar-se a produção de gêneros agrícolas no mundo. Na visão desses especialistas, a agricultura mundial deveria focar-se em ganhos de produção, ou seja, em um maior volume produzido com o menor custo possível. Desse modo, modelos agrícolas concretizaram-se com o emprego de alta tecnologia, elemento primordial na prática da Revolução Verde.
Um dos principais expoentes da Revolução Verde foi o agrônomo estadunidense Norman Ernest Borlaug (1914-2009). Ele foi um dos pioneiros em implementar e divulgar técnicas agrícolas modernas de cultivo, sendo conhecido mundialmente como o “pai da Revolução Verde”. Os seus estudos estavam voltados para o grande objetivo da revolução: aumentar a produção agrícola em nível mundial por meio do emprego de técnicas modernas de cultivo. Ele foi um grande defensor dos transgênicos assim como de toda a cadeia produtiva baseada no emprego da tecnologia no campo.
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Vantagens e desvantagens da Revolução Verde
A Revolução Verde, como todo processo econômico, teve vantagens e desvantagens baseadas no impacto que esse modo de produção causou na sociedade. É inegável que a sua implementação provocou uma transformação da produção agrícola, sendo que suas principais vantagens foram:
- O aumento da produtividade, em especial, por meio da redução de perdas no campo e pelo maior volume produzido por hectare;
- O emprego de técnicas de cultivo modernas no campo, baseadas no desenvolvimento de máquinas, equipamentos e insumos;
- O investimento em ciência e tecnologia para o desenvolvimento das atividades agrícolas, por meio do apoio de agentes públicos e privados.
No entanto, apesar dos inúmeros benefícios, em especial atrelados ao ganho de produção, a Revolução Verde não esteve livre de polêmicas, com destaque para áreas ambientais e sociais. Considerou-se desvantagens dela:
- Os impactos ambientais provocados pelo modo de produção, como o desmatamento da vegetação e a poluição do solo e da água;
- O êxodo rural, fomentado pela mecanização da produção, assim como pela concentração fundiária e pela desigualdade social;
- A utilização de elementos químicos que são prejudicais para a saúde humana, como alguns compostos encontrados nos agrotóxicos.
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Revolução Verde no Brasil
A Revolução Verde foi fomentada no Brasil a partir da década de 1960, com o apoio do regime ditatorial que dominava o país. Ela foi um dos pilares do chamado “milagre econômico brasileiro”, movimento instituído pelos governantes da época para alavancar as taxas de crescimento econômico do Brasil.
Para tal, houve um maciço investimento na agricultura brasileira, com aportes em áreas como a produção de sementes e a utilização de insumos, por exemplo. Além disso, foi realizado um grande investimento em pesquisa e desenvolvimento, sendo que, na década de 1970, foi criada a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Os investimentos realizados nesse período resultaram num setor agrícola extremamente forte e desenvolvido, com ampla utilização de tecnologia, baseado na monocultura de exportação. Contudo, os benefícios ficaram concentrados na mão de um pequeno grupo de grandes produtores rurais, com a Revolução Verde desencadeando uma grande concentração fundiária, assim como o aumento dos conflitos agrários e da desigualdade social.
Consequências da Revolução Verde
Apesar dos inúmeros avanços tecnológicos e produtivos, a Revolução Verde apresenta um conjunto de consequências, em especial, negativas, quando se trata do meio ambiente e da igualdade social. Primeiramente, são visíveis os impactos ambientais provocados pela revolução em diferentes ecossistemas do globo. O desmatamento, a compactação do solo, a utilização desenfreada de fontes de água e a poluição causada pelos produtos químicos são algumas das consequências danosas da revolução para o meio ambiente. Essas impactos resultaram na quebra do equilíbrio ambiental natural assim como prejudicaram animais e plantas.
No mais, deve-se destacar o impacto social que a Revolução Verde provocou em diferentes sociedades, com destaque para as populações tradicionais e os trabalhadores do campo:
- a mecanização da agricultura aumentou o desemprego;
- o uso de sementes geneticamente modificadas dificultou o acesso aos insumos produtivos;
- a degradação ambiental prejudicou as pequenas comunidades rurais;
- o aumento dos custos de produção obrigou muitos agricultores a venderem suas propriedades.
Esse cenário resultou em consequências sociais impactantes, como o aumento da desigualdade social, da concentração de terras e da dificuldade dos pequenos agricultores em comercializar produtos em um mercado altamente competitivo. Além disso, destaca-se que a fome ainda é uma constante, sendo que muitas famílias ainda não possuem condições econômicas de acesso à alimentação em diferentes partes do globo.
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Exercícios resolvidos
Questão 1 – (Enem)
A maioria das pessoas daqui era do campo. Vila Maria é hoje exportadora de trabalhadores. Empresários de Primavera do Leste, Estado de Mato Grosso, procuram o bairro de Vila Maria para conseguir mão de obra. É gente indo distante daqui 300, 400 quilômetros para ir trabalhar, para ganhar sete conto por dia.
(Carlito, 43 anos, maranhense, entrevistado em 22/03/98). Ribeiro, H. S. O migrante e a cidade: dilemas e conflitos. Araraquara: Wunderlich, 2001 (adaptado).
O texto retrata um fenômeno vivenciado pela agricultura brasileira nas últimas décadas do século XX, consequência
A) dos impactos sociais da modernização da agricultura.
B) da recomposição dos salários do trabalhador rural.
C) da exigência de qualificação do trabalhador rural.
D) da diminuição da importância da agricultura.
E) dos processos de desvalorização de áreas rurais.
Resolução
Alternativa A. O processo de modernização da agricultura ocorreu de maneira excludente, ou seja, muitos agricultores não conseguiram custear o emprego das ferramentas tecnológicas de produção. Desse modo, muitas pessoas migraram da zona rural para a zona urbana, processo conhecido como êxodo rural.
Questão 2 – (Fuvest 2018)
As primeiras práticas de agricultura datam de, aproximadamente, 10.000 anos. Neste período, ocorreram inúmeras transformações na sua base técnica, mas é, no decorrer da segunda metade do século XX, que a revolução agrícola contemporânea, fundada na elevada motorização-mecanização, na seleção de variedades de plantas e de raças de animais e na ampla utilização de corretores de pH dos solos, de fertilizantes, de ração animal e de insumos químicos para as plantas e para os animais domésticos, progrediu vigorosamente nos países desenvolvidos e em alguns setores limitados dos países subdesenvolvidos.
Marcel Mazoyer & Laurence Roudart. História das agriculturas no mundo: do neolítico à crise contemporânea, São Paulo: Unesp; Brasília: NEAD, 2010. Adaptado.
As transformações ocorridas na agricultura após meados do século XX foram reconhecidas como revolução verde, sobre a qual se pode afirmar:
A) Sua concepção foi desenvolvida no Japão e nos Tigres Asiáticos após a II Guerra Mundial.
B) Contribuiu para a ampliação da diversificação das espécies e do controle das sementes pelos pequenos agricultores.
C) Seus parâmetros produtivos estavam fundados, desde sua origem, em preservar e proteger a biodiversidade nas áreas de cultivo.
D) Com sua expansão, na África e no sudeste Asiático, as populações rurais puderam alcançar padrões de consumo semelhantes aos das grandes metrópoles.
E) Foi baseada na inovação científica e está atrelada à grande produção de grãos em extensas áreas de monocultura.
Resolução
Alternativa E. A principal característica da Revolução Verde foi o emprego de ferramentas tecnológicas como aporte para o aumento da produtividade. Sendo assim, foram praticadas técnicas modernas de cultivo, baseadas em áreas monocultoras com elevada produção.