Incêndios na Europa são comuns durante o verão na região dos Balcãs e do mar Mediterrâneo. No entanto, eles têm se agravado nos últimos anos devido às mudanças climáticas.
Os incêndios na Europa são comuns durante o fim do verão e início do outono, entre a última semana de julho e a primeira semana setembro, época de diminuição de chuvas e aumento da temperatura. Entretanto, nos últimos anos, esses incêndios estão mais intensos do que o habitual, causando severos danos na fauna e flora locais, além de graves prejuízos sociais e, em muitas situações, fatais.
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Resumo sobre os incêndios na Europa
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Os incêndios na Europa são comuns durante os verões, mas se intensificaram na última década.
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A baixa umidade e a vegetação seca são algumas das explicações para a origem das chamas, além da ação antrópica.
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Massas de ar quentes que partem do Norte da África também auxiliam na propagação do fogo.
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Estudos apontam que a temperatura do planeta subiu 1,25 ºC desde a Revolução Industrial, tornando mais frequentes os fenômenos climáticos que eram raros, como furacões, ciclones, nevascas e tornados.
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As mudanças climáticas causadas pela emissão de dióxido de carbono no último século estão associadas à elevação da temperatura da Terra.
Por que ocorrem os incêndios da Europa?
Durante o fim do verão e início do outono, entre o fim de julho e início de setembro, é bastante comum que ocorram incêndios no sul da Europa, em especial na região dos Bálcãs e em áreas banhadas pelo mar Mediterrâneo.
Na Europa, em especial nas áreas próximas ao Mediterrâneo, as queimadas são frequentes quando as chuvas e umidade do ar diminuem e há aumento nas temperaturas, condições ideais para que proliferem focos de queimadas e incêndios em áreas florestais.
As queimadas são fenômenos naturais e fazem parte do ciclo de renovação de vários biomas localizados em áreas tropicais e temperadas, como em alguns países sul-americanos, africanos e asiáticos.
Quando ocorrem de forma natural/espontânea, ou mesmo controlada, as queimadas geram renovação nas florestas e propiciam um aumento na biodiversidade, pois suas cinzas podem servir como fonte de fertilidade para o solo. Dessa forma, as queimadas ocasionadas nessas condições são necessárias à natureza.
Durante o verão, massas de ar quentes e secas oriundas do Norte da África partem em direção ao sul da Europa. Ao encontrar vegetação seca, baixa umidade e temperaturas elevadas, qualquer fagulha pode se transformar em um grande incêndio, natural ou antrópico, como os que ocorrem na costa mediterrânea.
O que ocasiona os incêndios na Europa?
Os incêndios que acometem o continente europeu no verão podem acontecer de diversas maneiras, seja por causas naturais, seja por causas antrópicas.
As causas naturais estão associadas à vegetação seca e baixa umidade. Esses dois fatores, somados com as altas temperaturas e a força dos ventos, podem gerar queimadas naturalmente. Outro fator nesse sentido é a queda de raios, uma vez que esse fenômeno atua como forte catalisador.
Já as causas antrópicas se relacionam com a ação do ser humano. Em muitas regiões, é comum agricultores usarem o fogo para limparem a área que será cultivada na próxima safra. Porém, ao fazerem isso em épocas muito quentes e com altas temperaturas, a ação do vento pode alterar a direção do fogo, acarretando em incêndios catastróficos, como o que ocorreu na Califórnia, costa oeste dos Estados Unidos, em 2020.
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Relação entre as mudanças climáticas e o aumento dos incêndios da Europa
A Revolução Industrial, ocorrida primeiramente na Europa, no fim do século XVIII e início do XIX, trouxe significativas mudanças para o ser humano, como o surgimento e/ou expansão de cidades, as novas relações trabalhistas, o incremento e a agilidade na produção de vários segmentos e a transformação na paisagem.
Contudo, a emissão de gás carbônico e outros gases poluentes pelas indústrias e automóveis no último século transformou não só a paisagem terrestre, mas a atmosfera do planeta. Em 2019, 968 milhões de toneladas de gases do efeito estufa foram lançadas na camada de gases que envolve o globo. Ademais, desmatamentos, poluição de recursos hídricos e uso exagerado dos combustíveis fósseis (petróleo e carvão principalmente) nas últimas décadas aceleram o aquecimento global.
Apesar de comuns no verão europeu, as queimadas estão se tornando mais intensas nos últimos anos. Pesquisas do serviço europeu Copernicus relataram, no início de 2021, que o ano anterior (2020) havia sido o mais quente da história do planeta, junto de 2016.
Em 2020, a temperatura subiu 1,25 ºC se comparada à da sociedade pré-Revolução Industrial, no século XVIII. O fenômeno La Niña (que corresponde ao resfriamento das águas do Pacífico nos trópicos) contribuiu para essa elevação, bem como o El Niño (fenômeno oposto que causa o aquecimento das águas tropicais do Pacífico), em 2016.
Ainda segundo Copernicus, o período 2015-2020 foi o mais quente da última década (2011-2020), que, por sua vez, foi a mais quente da história após o advento da indústria nas sociedades modernas.
Conforme o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) divulgado em agosto de 2021, a Terra esquentou 1,2 ºC desde a industrialização, no século XIX. Parece pouco, mas já é o suficiente para alterar radicalmente os climas do mundo, tornando fenômenos climáticos extremos cada vez mais comuns: chuvas torrenciais, tornados, tufões, furacões, ciclones, nevascas, ondas de calor, secas, entre outros.
Acordos para amenizar o aumento da temperatura são feitos por países de todo o globo, como o Acordo de Paris, em 2015. Contudo, as metas traçadas nesses acordos, em muitos países, não saem do papel, e as emissões de dióxido de carbono, um dos gases responsáveis pela intensificação do efeito estufa, não são reduzidas como deveriam.
Dessa forma, o que era comum e necessário à natureza acaba por se tornar uma tragédia sem precedentes. Os incêndios europeus durante o verão corroboram tal afirmação, pois ondas de calor extremo atingem o continente com temperaturas recordes a cada ano. Em agosto de 2021, a Grécia atingiu 47,1 ºC, e, na Itália, 48,8 ºC, algo inimaginável para a época, sendo a maior temperatura já registrada na história do continente.
Assim, as queimadas encontram ambiente propício para se propagarem, deixando rastros de destruição por onde passam. Em muitas localidades, o fogo é tão extremo que a vegetação não cresce mais, o que se agrava no ano seguinte.
Segundo a União Europeia, o fogo consome, em média, 3900 km² por ano durante o verão, algo que se regenera nas estações seguintes. Mas, em 2017, por exemplo, a área incendiada foi três vezes maior, e, no ano seguinte, em 2018, 178 mil hectares de florestas e terrenos foram queimados.
Estudos apontam que cerca de 20 milhões de animais morreram com os incêndios de julho e agosto de 2021, cálculo feito com base na área queimada, além do alcance da fumaça, que pode causar problemas respiratórios em aves e outros animais mesmo estando distantes dos focos dos incêndios.
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Videoaula sobre queimadas
Os piores incêndios da Europa e seus resultados
O ser humano usa o fogo há milhares de anos para se proteger, para se aquecer, para cozinhar alimentos, para limpar áreas inteiras que facilitarão a agricultura, entre outras ações. Além disso, as queimadas fazem parte do ciclo da natureza para renovação de espécies e fertilidade do solo no longo prazo.
No entanto, feitas de maneira inadequada, elas se tornam incêndios catastróficos capazes de inúmeras tragédias. Ao longo da história da humanidade, muitos incêndios com grande poder de destruição foram registrados. No continente europeu, listamos três dos mais marcantes:
- Roma, Itália, 64 d.C.
Este incêndio assolou a capital romana durante cinco dias, queimando 10 dos 14 distritos que havia na cidade. Algumas linhas históricas apontam o imperador Nero como causador dele, mas nada foi comprovado. Após a destruição, Nero usou o ocorrido para perseguir os cristãos, que o acusaram de ter ateado fogo em Roma.
- Londres, Inglaterra, 1666
No ano anterior (1665), uma grave praga atingiu a capital inglesa, em especial nas áreas periféricas da cidade. O incêndio de 1666 deixou seis mortos, mas o que nos chama a atenção é que ele trouxe benefícios aos londrinos, uma vez que promoveu uma “limpeza” da área em que a praga havia se espalhado, como forma de esterilizar o ambiente.
- Portugal e Espanha, 2017
A onda recorde de calor em 2016 gerou fortes incêndios no ano seguinte. No caso dos países ibéricos, em 2017, mais de 60 pessoas morreram devido ao calor e/ou problemas respiratórios por conta das fortes chamas daquele período.
- Grécia, 2018
Em julho daquele ano, 99 pessoas morreram, segundo os registros do governo grego. Os incêndios atingiram o vilarejo de Mati, no sul do país. O inverno seco e as altas temperaturas do verão em 2018 foram condições ideais para essa catástrofe, que, além dos mortos, deixou cerca de 200 feridos.
Os incêndios na Europa não são apenas uma preocupação ambiental, pois recursos financeiros são mobilizados para custear helicópteros, bombeiros e guardas-florestais, na tentativa de conter as chamas. Após a destruição, bairros inteiros (ou mesmo cidades) têm de ser reconstruídos, de modo que a sobrevivência humana possa continuar.
Assim, além da temática ambiental, esses incêndios devem ser encarados sob a ótica econômica e social, fazendo com que a humanidade aprenda que o planeta está aquecendo, febril, e pede socorro.
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