Imigração haitiana no Brasil

Em 2010, iniciou-se a imigração haitiana no Brasil, motivada por um terremoto que assolou o país. Muitos haitianos buscavam oportunidades de emprego e melhoria de vida.

Os haitianos viram no Brasil esperança de melhoria de vida.

A imigração haitiana no Brasil é reflexo da realidade vivida no Haiti: conflitos políticos e socioeconômicos e imersão em uma grave crise humanitária. Não bastasse o cenário social, o país enfrenta também inúmeras catástrofes naturais ao longo de sua história.

Desde 2004, esses desastres tornaram-se mais frequentes, e o país recebeu, por isso, reforço militar da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesse mesmo ano, chuvas intensas devastaram o país, deixando cerca de 16 mil pessoas em situação de emergência. Ainda em 2004, o país foi atingido pelo furacão Jeanne, que afetou cerca de 300 mil pessoas.

No ano de 2008, passaram pelo país alguns furacões, como o Gustav e o Hanna, que atingiram centenas de pessoas. Em 2010, o país foi abalado pelo pior terremoto da história, que destruiu a capital Porto Príncipe. O resultado desse abalo foi cerca de 220 mil mortes. A situação de emergência era evidente, a população do país sofria com a falta de suprimentos e de moradia.

Por que os haitianos vieram para o Brasil?

É comum ver o Haiti sendo noticiado em virtude de suas crises econômicas, conflitos políticos e desastres naturais, que deixam milhares de pessoas em estado de vulnerabilidade. O abalo sísmico de 2010, com epicentro próximo à capital Porto Príncipe, devastou o país. Números divulgados pela Cruz Vermelha estimam que cerca de 3 milhões de pessoas foram atingidas pelo terremoto. Aproximadamente 300 mil pessoas morreram de acordo com a revisão apresentada pelo primeiro ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, em 2011. Infelizmente, a condição econômica do país impede que, a cada novo episódio de desastre, o país reconstrua-se.

A crise humanitária que se instaurou no Haiti, associada aos problemas políticos recorrentes, à falta de empregos e qualidade de vida, motivou milhares de haitianos a migrarem rumo a outras regiões. Um dos principais destinos foi o Brasil. Esse fluxo iniciou-se logo após o país ser atingido pelo terremoto de 2010.

Os haitianos migraram para o Brasil, principalmente, à procura de oportunidades de trabalho. Nesse contexto, o Brasil preparava-se para sediar a Copa do Mundo, portanto, era fértil a oferta de trabalho, principalmente, na construção civil. Os imigrantes olhavam para o território brasileiro com esperança. O fato de o Brasil liderar, desde 2004, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti foi também relevante nesse otimismo.

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Terremoto no Haiti, em 2010, devastou a capital Porto Príncipe, vitimando milhares de haitianos.*

Como os haitianos chegaram ao Brasil?

A chegada dos imigrantes ao Brasil aconteceu por meio de rotas que incluíam países como Equador, Bolívia e Peru. A entrada no país ocorreu, principalmente, pela Região Norte, especialmente por meio do estado do Acre. Apesar de a entrada ter sido pelo estado acreano, a maior parte dos imigrantes dispersou-se por todo o território brasileiro. Muitos fixaram-se na Região Sul e Sudeste do país, provavelmente, em virtude da oferta maior de empregos e por essas regiões proporcionarem, segundo a visão dos imigrantes, melhores condições de vida.

No ano de 2010, havia no Brasil cerca de 595 haitianos. Esse número elevou-se para 30 mil no ano de 2014. De acordo com dados da Polícia Federal, entraram em território brasileiro cerca de 72 mil haitianos entre os anos de 2010 e 2015. Contudo, uma parte desses imigrantes saiu do Brasil nesse mesmo período, deixando um saldo de, aproximadamente, 60 mil haitianos.

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Crises políticas, econômicas e humanitárias motivaram milhares de haitianos a buscarem refúgio em outros países.**

Como vivem os haitianos no Brasil?

Sair de seu país de origem nunca é fácil. Deparar-se com outra cultura, outro idioma é sempre um desafio. Segundo pesquisa realizada em 2013 por Duval Fernandes, professor do Departamento de Geografia da PUC Minas, 68,8% dos imigrantes haitianos no Brasil compartilhavam residência entre si. A pesquisa aponta também que oportunidades de emprego, principalmente na área da construção civil, apareceram para esses refugiados assim que chegaram ao Brasil. A entrevista constatou ainda que 71% dos haitianos trabalhavam formalmente e 25% deles trabalhavam de maneira irregular. Em relação à saúde, 81% dos imigrantes haitianos entrevistados já haviam utilizado o Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo dados apresentados pelo Ministério do Trabalho, entre os anos de 2011 e 2012, a participação dos haitianos no mercado formal de trabalho aumentou cerca de 406%. Entre os anos de 2012 e 2013, esse número aumentou cerca de 254%. Apesar dessa relevante inclusão no mercado de trabalho, as políticas de inserção desses imigrantes ficou a cargo de instituições solidárias. Mesmo o Brasil tendo aberto suas portas para receber esses imigrantes, os haitianos enfrentaram dificuldades de serem inseridos formalmente no mercado de trabalho, e muitos deles tiveram seu refúgio negado.

De acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), o número de pedidos de refúgio ampliou-se a partir de 2010. Esses pedidos foram enviados ao Conselho Nacional de Imigração (CNIg). Foi estabelecido um limite de 1200 vistos por ano em decorrência do fluxo migratório que não apresentava diminuição. O governo brasileiro justificou que esse número de vistos era referente à capacidade de absorção desses imigrantes sem prejuízo aos brasileiros. Esse cenário resultou no aumento da exploração da mão de obra, na marginalização imigrante e na intensificação dos trabalhos informais.

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Marília Pimentel, professora da Universidade Federal de Rondônia, explica que, em virtude da crise vivida no Brasil, os haitianos começaram a deixar o país em 2015. Na tentativa de encontrar melhores oportunidades de emprego, haitianos passaram a imigrar para países como os Estados Unidos. A gestão do presidente Barack Obama, por exemplo, concedeu vistos de trabalho para imigrantes, atraindo haitianos que aqui se encontravam desempregados e marginalizados.

A professora defende que, para que esses imigrantes vivessem dignamente no Brasil, era necessária sua inclusão na sociedade, pois simplesmente oferecer visto humanitário não é suficiente. Empreender esforços para promover aos haitianos acesso a cursos profissionalizantes, cursos de idioma, inserção na educação e em programas de saúde seriam meios de promover uma acolhida efetiva e garantir que esses imigrantes vivessem com dignidade em nosso país.

Consequências da imigração haitiana no Brasil

O fluxo migratório haitiano para o Brasil afetou, principalmente, o estado do Acre. O governo acreano considerou a situação do estado caótica, alegando que as cidades não eram capazes de absorver o total de imigrantes que adentrou e instalou-se no território. Esse cenário resultou em situação de calamidade, na qual faltavam alimentos e insumos básicos. Além disso, houve dificuldade de acesso a programas de saúde pública e aumento das doenças e da violência.

O Acre deixou de ser a principal rota de entrada dos haitianos a partir de 2015. Houve uma redução de 96% no número de haitianos ilegais no Brasil, pois passaram a ser atraídos para outros países, como Estados Unidos e México, visando a melhores oportunidades de emprego.

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*Créditos de Imagem: arindambanerjee / Shutterstock
**Créditos de Imagem: Maciej Czekajewski / Shutterstock

Por: Rafaela Sousa

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